Economia
Pix: bancos negam a maioria das queixas de fraude e menos de 10% dos valores voltam aos clientes

Menos de 10% do dinheiro perdido em fraudes via Pix foi recuperado entre novembro de 2021 e junho de 2025, mesmo após as vítimas solicitarem a devolução, conforme dados obtidos pelo Globo.
Durante esse período, foram registrados 11,2 milhões de pedidos de ressarcimento pelo Mecanismo de Devolução Especial (MED), totalizando R$ 17,6 bilhões. Contudo, apenas R$ 1,4 bilhão (8,2%) foram efetivamente devolvidos.
O MED, instaurado em 2021, tem o propósito de facilitar a restituição de valores desviados por golpes, coerção ou falhas operacionais no Pix. O Banco Central (BC) tem adotado medidas para fechar as brechas usadas pelos criminosos.
Os recursos recuperados via MED dizem respeito a transações previamente identificadas como fraudulentas pelos bancos envolvidos, na fase inicial do processo.
Dos 27 milhões de notificações de possíveis fraudes de janeiro de 2022 até junho de 2025, apenas 11,4 milhões foram confirmadas pelos bancos e fintechs.
Como funciona o processo
De acordo com o BC, a vítima tem até 80 dias para reclamar a transação suspeita em sua instituição financeira. Se o caso for aceito pelo banco, o valor é bloqueado na conta do recebedor. Em até 7 dias, as duas instituições avaliam a fraude. Se confirmada, a vítima receberá a restituição em até 96 horas, parcial ou total, conforme disponibilidade na conta do fraudador.
Em casos parciais, o banco do fraudador repetirá bloqueios ou devoluções até o valor completo ser ressarcido ou até 90 dias da transação.
Dificuldades enfrentadas
Um dos maiores obstáculos é que muitos clientes desconhecem a ferramenta do MED. Além disso, há dificuldades em contestar valores no banco e muitas solicitações são rejeitadas rapidamente, levantando dúvidas sobre a análise. A devolução também pode não ocorrer devido à inexistência de fundos na conta do fraudador.
Outro desafio é a rapidez do Pix, que permite transferências rápidas, dificultando a recuperação do dinheiro fraudado, já que o MED só alcança o primeiro destinatário.
Melhorias previstas
A eficiência do processo deve melhorar com medidas que o BC implementará em breve. A partir de 23 de novembro, será possível rastrear o dinheiro para além da primeira conta que recebeu os valores desviados. Em breve, todos os usuários poderão contestar transações com facilidade diretamente pelo aplicativo, sem necessidade de atendimento humano.
Banco Central comenta
O BC ressalta que a segurança é fundamental no Pix, e que o número de fraudes tem se mantido estável proporcionalmente. Foram registradas 7 fraudes a cada 100 mil transações em 2022, 6 em 2023, 8 em 2024, e 5 até agosto deste ano.
O órgão destaca que as recentes medidas implementadas para o MED e o bloqueio de transferências suspeitas aumentarão a segurança do sistema financeiro nacional.
Ponto de vista dos bancos
Ivo Mósca, diretor de inovação e serviços da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), afirma que muitas vezes faltam provas suficientes para aceitar pedidos de fraude no MED. Ele ressalta que a baixa recuperação dos valores está ligada à rapidez do Pix, que facilita a dispersão rápida dos valores fraudulentos.
Mósca acredita que as melhorias propostas pelo BC ajudarão, mas sugere que um prazo maior para liquidação das operações suspeitas possa reduzir a velocidade das transferências e facilitar a recuperação dos valores.
Segundo ele: “É positivo que o Pix seja ágil, mas impedir que o dinheiro seja transferido imediatamente, por 30 minutos ou uma hora, não afetaria o uso normal e poderia ajudar a conter fraudes”.

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