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Cresce o debate sobre taxar os muito ricos na França

Sébastien Lecornu, o novo primeiro-ministro francês, está considerando a possibilidade de aumentar os impostos para os indivíduos extremamente ricos, quebrando um tabu estabelecido durante o governo de Emmanuel Macron. A ideia surge em meio a um clamor por maior justiça fiscal.
Este tema está sendo discutido no contexto do planejamento orçamentário de 2026, que iniciou seus debates na quarta-feira (17). O objetivo de Lecornu é garantir estabilidade política e evitar que o Parlamento derrube seu governo, como aconteceu com seus antecessores.
Para obter uma base sólida no Parlamento, ele busca o apoio dos socialistas, que defendem a adoção da chamada “taxa Zucman”, uma contribuição anual de 2% sobre patrimônios acima de 100 milhões de euros (equivalente a 626 milhões de reais). A proposta impactaria apenas 0,01% dos contribuintes, de acordo com o economista francês Gabriel Zucman, que a defende.
Esta taxa geraria uma receita adicional significativa, cerca de 20 bilhões de euros por ano (125 bilhões de reais), fundamental para que o governo possa reduzir o déficit previsto em 5,8% do PIB para 2024 e controlar a dívida pública, que atualmente está em 114% do PIB.
O valor arrecadado com esta medida seria quase a metade do montante economizado no plano orçamentário anterior de 2026, elaborado pelo ex-primeiro-ministro François Bayrou, que incluía cortes em benefícios sociais e retirada de dois feriados, proposta que foi rejeitada pelo Parlamento.
Segundo Gabriel Zucman, o verdadeiro obstáculo reside na resistência política em enfrentar a questão da baixa tributação dos ultrarricos. As reivindicações por justiça fiscal se manifestaram fortemente nos protestos de 10 de setembro e também na greve convocada pelos sindicatos, marcada para quinta-feira. A líder sindical do CGT, Sophie Binet, afirmou que as decisões sobre o orçamento acontecerão nas ruas, com até 400.000 manifestantes esperados, número que seria o dobro da última mobilização.
Uma pesquisa conduzida pela Ifop, encomendada pelos socialistas e divulgada na terça-feira, revelou que 86% dos franceses apoiam a implementação da taxa Zucman, enquanto 79% são a favor da redução dos subsídios concedidos às grandes corporações.
Embora Sébastien Lecornu tenha prometido mudanças em relação a seus antecessores, incluindo o fim da retirada de feriados e do direito a benefícios vitalícios para ex-membros do governo, ele descarta a adoção da taxa Zucman, posição respaldada por seus aliados de centro-direita e pela oposição de extrema-direita liderada por Marine Le Pen.
A confederação empresarial Medef advertiu sobre uma possível grande reação dos empresários caso os impostos sobre os ricos sejam elevados, qualificando a proposta como uma forma de expropriação. Essa oposição marca uma novidade durante o governo de Emmanuel Macron, que desde 2017 tem promovido cortes nos impostos para empresas e grandes fortunas visando melhorar a competitividade da França, a segunda maior economia da União Europeia.
Além disso, um relatório do Senado publicado em julho destacou que o governo concedeu mais de 211 bilhões de euros em subsídios públicos para grandes empresas em 2023 (equivalente a 1,32 trilhão de reais), recomendando um controle mais rigoroso desses benefícios.

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