Lula promete vetar anistia a Bolsonaro e condenados pelo STF

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta quarta-feira, 17, em entrevista à BBC, que vetaria qualquer proposta de anistia destinada ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e demais condenados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe de Estado.

“O presidente da República não interfere nos assuntos do Congresso Nacional. Se os partidos políticos decidirem que a anistia é necessária e aprovarem a medida, isso será uma questão do Congresso”, declarou Lula.

“Se for uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC), não há necessidade de sanção presidencial. Porém, se for uma lei aprovada e os partidos concordarem, caso a proposta chegue para eu vetar, pode ter certeza de que eu vetaria.”

O presidente também comentou sobre possíveis novas retaliações do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, após recentes sanções comerciais contra o Brasil. Ele classificou tais medidas como uma “política pequena”, sem efeitos concretos, e expressou confiança de que o tempo trará a resolução justa da situação.

“Eu nunca tentei estabelecer comunicação porque ele nunca demonstrou interesse em dialogar”, afirmou Lula. O presidente ressaltou não possuir uma relação pessoal com Trump e criticou sua postura. “Eu não tenho ligações pessoais com Trump porque quando ele foi eleito pela primeira vez, eu não estava no cargo. Agora, ele tem afinidade com Bolsonaro, não com o Brasil”, comentou.

Lula ressaltou que o comportamento de Trump é prejudicial à democracia, pois ele rejeita princípios básicos de respeito às instituições democráticas e apoia figuras autoritárias em várias partes do mundo. No entanto, essa postura não interfere nas relações entre Brasil e Estados Unidos.

“Eu mantive boas relações com todos os primeiros-ministros do Reino Unido sem problemas. Não me importo se são de direita ou esquerda, quero saber se foram eleitos e estão legitimados. Com Trump é a mesma lógica: se ele foi eleito pelo povo americano, é o presidente dos Estados Unidos e é com ele que preciso manter relações.”

Lula ressaltou estar disposto a negociar diretamente com Trump, desde que haja respeito. Ele deseja que o Brasil seja tratado com dignidade, algo que considera ausente até o momento.

O presidente recordou que, depois de o governo brasileiro enviar uma carta solicitando esclarecimentos sobre as medidas propostas, a Casa Branca optou por divulgar as tarifas à imprensa brasileira, ao invés de responder oficialmente. Lula classificou essa postura como inaceitável e acusou Washington de divulgar informações falsas para justificar as sanções, alegando que o Brasil não poderia regular as grandes empresas de tecnologia americanas. Ele reforçou que a questão em discussão é a regulação das plataformas digitais que atuam em território brasileiro, como ocorre em diversos países.

Ele defendeu uma relação civilizada e respeitosa entre as duas nações, lembrando episódios históricos de tensão. Enfatizou que a última guerra em que o Brasil esteve envolvido foi contra o Paraguai, há quase 200 anos, e expressou seu desejo de manter um convívio respeitoso com os Estados Unidos.

Entretanto, Lula não esquece a participação norte-americana no golpe de 1964 e criticou declarações recentes de autoridades americanas que ele considera desrespeitosas à soberania do Brasil. Citou, como exemplo, uma declaração do secretário do Departamento de Estado, Marco Rubio, mencionando a intenção de aumentar penalidades contra o Brasil e de revogar vistos de ministros do Supremo Tribunal Federal.