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Presidente da CNT afasta 20 e abre sindicância para apurar desvios

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O ex-senador Clésio Andrade, presidente da Confederação Nacional do Transporte (CNT), anunciou nesta segunda-feira (22) o afastamento de 20 pessoas e abertura de sindicância para apurar suposto desvio de recursos na entidade. Na última sexta, quatro diretoras ligadas à entidade foram presas em Brasília suspeitas de ligação com as irregularidades.

Em nota, Andrade diz que a comissão de sindicância tem prazo de 90 dias para concluir a investigação, que vai se concentrar nos anos de 2011 a 2013. O presidente da CNT também anunciou a servidora Lucimar Silva Lopes Coutinho como nova diretora-geral do Serviço Social do Transporte (Sest) e Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte (Senat). Ela também vai presidir a comissão de sindicância.

O suposto esquema de desvio de verbas do Sest e Senat pode ter movimentado entre R$ 70 milhões e R$ 100 miçhões, segundo a polícia. A verba é repassada pela União às entidades para a realização de cursos profissionalizantes.

“Entre 2011 e 2012, foram desviados aproximadamente R$ 20 milhões. Se voltarmos cinco anos, o rombo seria de aproximadamente R$ 70 milhões”, afirmou o delegado-adjunto da Divisão Especial de Repressão ao Crime Organizado (Deco), Luiz Fernando Cocito, de Brasília, na sexta-feira.

Os desvios se davam pela contratação de serviços de pequenas empresas por valores altos e pelo pagamento de gratificações elevadas a diretores das entidades. Um lava-jato, por exemplo, recebeu mais de R$ 2 milhões em um ano, de acordo com as investigações.

“Na verdade esses serviços não foram prestados. Um volume grande de recursos públicos se deu na contratação desses contribuintes individuais que pertenciam ao quadro dessas dirigentes [presas] ou de familiares”, disse o delegado-chefe da Deco, Fábio Santos de Souza.

Também foi apurado que funcionárias do sistema Sest/Senat presas nesta sexta por suspeita de ligação com as fraudes movimentaram valores maiores do que os salários que recebiam – entre elas a ex-diretora executiva do Sest/Senat Maria Pantoja, uma das quatro pessoas presas nesta sexta-feira.

De acordo com a investigação, ela recebia R$ 26 mil por 22 horas semanais de trabalho no Sest e outros R$ 26 mil por 22 horas no Senat, mas movimentou R$ 1,5 milhão em um ano, quase duas vezes mais do que o total de rendimentos declarados por ela.

Na casa de um dos suspeitos de envolvimento com os desvios de recursos, a polícia encontrou R$ 180 mil em dinheiro. Também foram apreendidos dólares e euros.

Além disso, um cofre também foi apreendido no local – até a publicação desta reportagem, a Polícia Civil ainda não havia concluído a contagem dos valores apreendidos. Souza disse ainda que outro cofre foi apreendido em outra residência.

Com os supostos integrantes da quadrilha, a polícia apreendeu ainda 16 veículos. Os suspeitos viviam em casas de luxo em Brasília – o valor de uma delas foi estimado pela polícia em R$ 4 milhões.

“Eles passaram a ostentar muito, e isso facilitou muito a nossa vida. Não se contentaram com uma única mansão, compraram duas, três. Não se contentaram com um carro de luxo, compraram quatro, cinco, seis. O patrimônio das quatro pessoas presas, somados, somam algo em torno de R$ 35 milhões”, declarou Cocito.

Apesar da decisão de afastar funcionários da entidade e abrir sindicância, o ex-senador é apontado pela polícia de envolvimento com o esquema, o que ele nega. Andrade prestou depoimento na sexta-feira.

De acordo com o delegado Fábio Santos de Souza, é possível afirmar que ele cometeu ao menos um crime – de falsidade ideológica.

“O ex-senador e ex-presidente da CNT Clésio Andrade é quem nomeia a direção. Nós temos hoje elementos que podem confirmar que esse ato normativo [que autorizava gratificações maiores que salários] foi fraudado, montado para justificar esses pagamentos. O simples fato dessa fraude o incrimina em um crime, que é falsidade ideológica”, afirmou o delegado Souza.

Souza afirmou ainda ser “prematuro” dizer que Clésio Andrade recebeu alguma quantia no suposto esquema. “Existe a suspeita da participação dele nesse esquema que está embasada nessa fraude documental. Há uma suspeita, uma probabilidade [de que ele tenha recebido dinheiro], pelo cargo que ele ocupava, de que elas [as pessoas presas] estariam ali a serviço dele.”

Clésio Andrade foi vice-governador de Minas entre 2003 e 2006, durante o primeiro mandato de Aécio Neves. O ex-parlamentar é réu no caso conhecido como mensalão tucano. Na ação penal, Clésio é acusado de peculato e lavagem de dinheiro por ter, supostamente, tentado ocultar recursos recebidos de Marcos Valério na campanha de Eduardo Azeredo ao governo de Minas Gerais em 1998 – Clésio Andrade era candidato a vice.

Fonte: G1

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