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Artigo – Mato Grosso, o Estado onde os homens odeiam as mulheres

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Nilson Leitão fala sobre número de feminicídios em Mato Grosso.

Ao longo das últimas décadas, Mato Grosso cresceu e apareceu. Os números superlativos da produção agropecuária, entre outros índices de crescimento e competitividade nos colocam em diversos rankings que são motivo de muito orgulho. Mas existe um título do qual ninguém se orgulha: O primeiro lugar em feminicídios do Brasil. É isso. MT é, por dois anos consecutivos, o Estado que mais mata mulheres.

Segundo os dados, MT registrou uma taxa de 2,5 casos de feminicídio para cada 100 mil habitantes. A média geral nacional é de 1,4 caso. Os números não são apenas perturbadores e tristes. Eles sangram em uma ferida aberta, exposta em nossa sociedade que, junto ao grito de dor, pergunta no vazio: de onde vem esse ódio dos homens pelas mulheres?

A raiz desse ódio é profunda, sustentada pela própria história da humanidade, e podemos enxergá-la na superfície, nos rastros do machismo que ao longo dos séculos subjugou as mulheres e as colocou em patamares sempre inferiores aos dos homens, na condição de serviçais, de cuidadoras da casa, de únicas responsáveis pelos filhos, de cidadãs de menor grau, com menos direitos e menos condições de escolhas.

Após a criação da Lei Maria da Penha, a legislação que combate a violência contra as mulheres vem se aprimorando, como é o caso da Lei nº 14.994/2024, proposta pela senadora mato-grossense Margareth Buzetti, que tornou o feminicídio crime com pena de reclusão de 20 a 40 anos, entre outras medidas. Eu, que já atuei no legislativo, defendo uma mudança na Lei de Execução Penal para que os condenados por feminicídio cumpram a pena máxima em Regime Disciplinar Diferenciado, o destino dos piores criminosos.

Mas a nossa discussão não deve ficar apenas na seara legislativa ou da Segurança Pública. Afinal, as leis endurecem, e os casos aumentam.

Para estancar essa barbárie, que é estrutural, é preciso criar uma estrutura de Estado que vá além do acolhimento, da proteção e das medidas penais. Precisamos de um sistema multidisciplinar que escute a sociedade e entenda cientificamente esse fenômeno, para que ele seja combatido no nascedouro. É necessária a criação de políticas públicas efetivas de empoderamento feminino, começando pela educação na primeira infância, de forma que, desde pequenas, as mulheres saibam reconhecer situações de abuso ou inferiorização, e que para elas esse lugar de poder seja natural como o próprio falar ou andar.

É urgente que a busca por igualdade de oportunidades e de remuneração no mercado de trabalho – e até mesmo nos espaços da política – saia do discurso vazio e do papel.

É imperativo que se cumpram todas as normas que garantem os direitos das mulheres, e que as medidas de enfrentamento funcionem efetivamente.

É imprescindível que as mulheres, de Mato Grosso e do Brasil, sejam cada vez mais empoderadas, que se reconheçam como tal, e que não aceitem nada menos do que serem donas dos seus próprios destinos.

Nilson Leitão é ex-deputado federal por Mato Grosso

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