Progresso e comunicação: debate entre líderes e especialistas

A cidade de São Paulo foi palco, recentemente, de um encontro que reuniu políticos, acadêmicos e comunicadores alinhados ao campo progressista para refletir sobre os rumos do país. O evento aconteceu logo após a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro e seus aliados pela tentativa de golpe de estado que resultou na invasão das sedes dos Três Poderes em Brasília, no dia 8 de janeiro de 2023.

Intitulado Despertar 2025, o encontro iniciou-se na sexta-feira (19) e termina neste sábado (20). No primeiro dia, destacaram-se palestras do sociólogo, pesquisador e professor Jessé Souza, da médica cubana Aleida Guevara e do jornalista Serginho Groisman. Para o sábado (20), estão previstas participações da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, do cientista Miguel Nicolelis e da ministra da Cultura, Margareth Meneses.

Uma das propostas discutidas é que o campo progressista deve envolver a população nas discussões sobre assuntos que impactam diretamente a classe trabalhadora e os menos favorecidos, que constituem a maioria expressiva da sociedade. O debate também problematiza a influência crescente da direita e da extrema direita em segmentos historicamente desamparados pelos políticos de esquerda.

Jessé Souza ressaltou a importância do papel da comunicação e do espaço público. Segundo ele, muitas pessoas que parecem de direita, na verdade, estão desorientadas. Ele pontuou que o Brasil possui uma das piores e mais mercenárias imprensas do mundo, que atua a serviço do poder econômico.

Ele complementou que a esquerda ainda não se atentou para o principal trabalho político, que é o esclarecimento do povo, que hoje se encontra irritado devido à precarização do trabalho e à falta de perspectivas para o futuro.

O Instituto Conhecimento Liberta (ICL) é o responsável pela organização do evento. Seu fundador, Eduardo Moreira, reforçou a necessidade de o campo progressista repensar a forma como se comunica com a sociedade.

Segundo ele, a esquerda tem tentado se comunicar para toda a população, mas não tem escutado a população. Para criar uma comunicação de massa efetiva, é preciso abrir espaço para o diálogo e para que a população possa expressar suas opiniões.

Equilíbrio entre trabalho e capital

O juiz Luiz Philippe Mello Filho, presidente eleito do Tribunal Superior do Trabalho (TST), também participou e destacou a necessidade de um equilíbrio maior entre capital e trabalho, especialmente no que se refere aos trabalhadores de aplicativos.

Ele alertou para o retrocesso social em curso e pediu a manutenção de regulações que protejam todos os trabalhadores das plataformas digitais, ressaltando que o cenário atual traz uma precarização inédita das condições de trabalho no Brasil.

Desafios da Inteligência Artificial

O cientista Miguel Nicolelis apresentou uma crítica à ideia de que as máquinas poderão reproduzir o funcionamento do cérebro humano. Segundo ele, o maior risco está em o ser humano deixar de desenvolver suas capacidades cognitivas ao delegar funções para a inteligência artificial.

Ele explicou que, ao depender da máquina, perdemos habilidades cognitivas, e o cérebro percebe que não precisa gastar energia nestas tarefas. Ele questionou: “Quem hoje sabe de cor dois ou três telefones?”

Contexto global e esperança

O cenário internacional também foi lembrado, com críticas às intervenções dos Estados Unidos e outras potências em países menores, além dos ataques na Faixa de Gaza. A pediatra Aleida Guevara enfatizou a necessidade urgente de proteger crianças, como as palestinas.

Apesar das dificuldades, ela mantém otimismo quanto ao futuro, afirmando que o amor é uma força imensa e decisiva para o ser humano. Segundo ela, as crianças representam a esperança do mundo porque sabem amar. Por isso, é fundamental cuidar da infância para que as crianças cresçam e se tornem adultos livres, fortes e saudáveis.