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Albania nomeia ministra de IA para combater corrupção

Ministra de IA na Albânia: uma iniciativa que desperta debates
A Albânia anunciou a nomeação de uma ministra criada por inteligência artificial (IA) para fiscalizar licitações públicas e evitar fraudes. Apesar dos benefícios potenciais na comunicação, essa ação provoca dúvidas técnicas, políticas e éticas.
Realmente incorruptível?
O primeiro-ministro albanês, Edi Rama, dirigente do partido socialista, apresentou Diella, a ministra virtual, afirmando que as contratações públicas estarão “100% livres de corrupção”.
“Diella nunca descansa, não recebe salário, não possui interesses pessoais e não tem conexões familiares, que costumam gerar problemas na Albânia”, destacou Edi Rama, país que ocupa a 80ª posição em 180 no índice de corrupção da ONG Transparência Internacional.
Políticos locais frequentemente se envolvem em fraudes: o prefeito de Tirana, capital, ex-aliado de Rama, está preso preventivamente sob acusações de corrupção e lavagem de dinheiro relacionadas a contratos públicos.
O líder da oposição e ex-primeiro-ministro, Sali Berisha, também enfrenta suspeitas por favorecimento em concessões públicas.
Mas será que Diella é a solução? Especialistas são céticos.
Especialistas explicam
Erjon Curraj, especialista em segurança digital, observa que a IA depende da qualidade dos dados e da confiabilidade dos modelos que utiliza. Ainda pouco se sabe sobre o funcionamento de Diella, mas ela provavelmente opera com base em um grande modelo de linguagem (LLM).
Esses modelos produzem grandes volumes de texto e são aplicados em chatbots como ChatGPT e Gemini. Contudo, “dados incompletos ou tendenciosos podem levar a interpretações erradas, acusações falsas ou falha em identificar conluios”, alerta Curraj.
Jean-Gabriel Ganascia, filósofo e especialista em IA, comenta que esses modelos refletem os vieses da sociedade e não são garantia de eliminar a corrupção.
Questão da responsabilidade
A oposição levou o caso ao Tribunal Constitucional indagando quem será responsável pelas decisões da IA. Sali Berisha questionou: “Quem terá controle sobre Diella?”
Ganascia destaca que confiar decisões públicas a máquinas elimina a responsabilidade política, reduzindo os cidadãos a meros subjugados.
Para ele, a democracia depende do debate e da deliberação, que poderiam ser comprometidos pela ideia de uma máquina como governante infalível.
Um decreto recente afirma que Edi Rama responde pela criação e operação da ministra virtual Diella.
Programa novo, corrupção antiga
Edi Rama é conhecido por estratégias de comunicação, como o uso de tênis em encontros internacionais e a criação de iniciativas controversas. No entanto, algumas promessas, como a proibição do TikTok e a infraestrutura para imigrantes, enfrentam dificuldades.
Diella tem rosto inspirado na atriz albanesa Anila Bisha, que autorizou o uso de sua imagem até dezembro.
Não está claro se a ministra virtual resistirá à análise constitucional ou atenderá às exigências da União Europeia, da qual a Albânia busca adesão nos próximos anos.
Lutfi Dervishi, cientista político, comenta que falta transparência sobre o funcionamento real de Diella. Segundo ele, se dados manipulados forem utilizados ou se houver filtros que limitem a visibilidade da IA, ela poderá apenas validar os mesmos esquemas corruptos sob uma nova fachada tecnológica.

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