Economia
Dólar sobe com tensão entre Brasil e EUA

O dólar teve uma alta moderada nesta segunda-feira, 22, contrastando com a queda observada em outras partes do mundo. Os investidores mostraram cautela devido ao aumento das tensões entre os Estados Unidos e o Brasil, especialmente antes do discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Assembleia Geral da ONU.
Na manhã do dia, o governo dos EUA impôs sanções à esposa do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, com base na Lei Magnitsky. Viviane Barci de Moraes terá seus bens nos EUA bloqueados, e vistos americanos foram revogados para o advogado-geral da União, Jorge Messias, e outras autoridades do Judiciário brasileiro.
O anúncio das sanções causou estresse imediato, com o dólar à vista ultrapassando R$ 5,35 e atingindo R$ 5,3660. No entanto, durante a tarde, a moeda americana perdeu força no mercado externo, fazendo com que se afastasse dessas máximas.
O dólar à vista terminou o dia com alta de 0,32%, cotado a R$ 5,3381, marcando o quarto dia consecutivo de alta. Apesar disso, a moeda acumula uma queda de 1,55% frente ao real no mês de setembro e queda de 13,63% no ano.
Segundo a economista-chefe do Ouribank, Cristiane Quartaroli, o movimento atual reflete uma correção natural no mercado cambial, devido à valorização expressiva do real nas semanas anteriores, influenciada pelas expectativas de aumento do diferencial de juros entre Brasil e exterior.
“O mercado está cauteloso por conta da agenda econômica desta semana, que inclui a ata do Copom e o IPCA-15 no Brasil, além de dados de inflação e atividade nos EUA”, diz Quartaroli. Ela destaca ainda a importância do discurso do presidente Lula na ONU.
O Ministério das Relações Exteriores brasileiro manifestou-se com “profunda indignação” em relação às sanções, denunciando a Lei Magnitsky como uma tentativa indevida de interferência nos assuntos internos do Brasil. O governo dos EUA já havia sinalizado reação à condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro pelo STF.
Em mensagens nas redes sociais, o secretário de Estado americano, Marco Rubio, afirmou que as sanções são um aviso para aqueles que ameacem os interesses dos EUA protegendo agentes estrangeiros como Alexandre de Moraes.
No mercado externo, o índice DXY, que avalia o desempenho do dólar frente a uma cesta de moedas fortes, caiu moderadamente, enquanto o dólar teve desempenho misto frente a moedas emergentes, subindo frente ao peso mexicano e chileno.
Autoridades do Federal Reserve exibiram opiniões divergentes quanto à política monetária após o recente corte de juros de 25 pontos-base. O presidente do Fed de St. Louis, Alberto Musalem, alertou sobre espaço limitado para novos cortes, enquanto o diretor Stephen Miran sugeriu que os juros deveriam estar entre 2% e 2,5%.
Com a previsão de um dólar mais fraco globalmente e três cortes de juros ainda esperados em 2024, o BTG Pactual revisou para baixo as projeções para a taxa de câmbio, ajustando para R$ 5,20 no fim do ano e R$ 5,50 em 2026.
A economista do BTG, Iana Ferrão, aponta que fatores estruturais como a diversificação de reservas internacionais e a normalização de instrumentos financeiros também ajudam a diminuir a demanda pelo dólar.
“Nesse cenário, o real deve seguir a trajetória do índice DXY, beneficiado pelo elevado diferencial de juros doméstico e condições financeiras globais mais favoráveis”, conclui Ferrão.

Você precisa estar logado para postar um comentário Login