Destaque
Discurso completo de Lula na abertura da Assembleia da ONU

Luiz Inácio Lula da Silva, presidente do Brasil, fez um discurso na abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), realizada em Nova York, Estados Unidos, nesta terça-feira (23). Como tradição, o Brasil foi o primeiro país a falar no evento anual, que em 2025 chegará à sua 80ª edição.
No discurso, o presidente abordou diversos temas nacionais e internacionais, incluindo sanções dos Estados Unidos contra a economia e o judiciário brasileiro, o genocídio em Gaza, mudanças climáticas, regulação das grandes empresas de tecnologia, democracia e assuntos da América Latina.
Senhora Presidenta da Assembleia Geral, Annalena Baerbock,
Senhor Secretário-Geral, António Guterres,
Caros chefes de Estado, Governo e representantes dos Estados-membros, este deveria ser um momento de celebração das Nações Unidas. Criada após a Segunda Guerra Mundial, a ONU simboliza uma forte aspiração à paz e prosperidade. Contudo, hoje seus fundamentos estão sob ameaça como nunca antes.
O multilateralismo enfrenta uma nova crise, a autoridade da ONU é questionada. Intervenções unilaterais e sanções arbitrárias se tornam comuns, refletindo também o enfraquecimento da democracia globalmente.
Em todo o mundo, forças antidemocráticas buscam suprimir instituições e liberdades, exaltando violência e ignorância, limitando a imprensa. O Brasil, mesmo sob ataques, escolheu defender sua democracia reconquistada após longos anos de ditadura.
Não existe justificativa para medidas arbitrárias contra nossas instituições e economia. Interferências no Poder Judiciário são inaceitáveis, e a extrema direita tem contribuído para ações contra o Brasil, que não serão aceitas impunes.
Recentemente, um ex-presidente foi responsabilizado por atentado contra a democracia, em processo justo, deixando claro que soberania e democracia são invioláveis.
A democracia exige mais que eleições; é preciso combater desigualdades e garantir direitos básicos como alimentação, segurança, trabalho, moradia, educação e saúde. A pobreza ameaça a democracia tanto quanto o extremismo. O Brasil, orgulhosamente, saiu do Mapa da Fome em 2025, mas milhões ainda enfrentam fome no mundo.
A guerra contra a fome é a única que todos podem vencer. Lançamos a Aliança Global no G20 para essa finalidade, com apoio internacional. É necessário repensar prioridades, reduzindo gastos militares, aliviando dívidas externas e estabelecendo tributação justa para os mais ricos.
A democracia também mede-se pela proteção às famílias e crianças. Plataformas digitais oferecem grandes possibilidades, mas são usadas para espalhar intolerância e desinformação. Regulação é necessária para proteger vulneráveis, combatendo crimes como fraudes e tráfico de pessoas.
O Brasil promulgou lei avançada para proteger crianças na internet e propôs legislações para promover concorrência digital e sustentabilidade tecnológica. Por fim, buscamos governança multilateral para inteligência artificial, em alinhamento com o Pacto Digital Global.
Na América Latina e Caribe, enfrentamos polarização e instabilidade. É essencial manter a região como zona de paz, com cooperação para combater crimes e respeitar direitos humanos, evitando intervenções militares que causam graves danos.
Conflitos como o da Ucrânia precisam de soluções negociadas, considerando as preocupações de segurança de todas as partes. Iniciativas de paz, como as promovidas por China e Brasil, são fundamentais para o diálogo.
O caso mais grave é o genocídio em Gaza. Terrorismo é condenável, mas a destruição em Gaza e o sofrimento de civis são inaceitáveis. A fome é usada como arma, e o povo palestino está ameaçado de desaparecer sem um Estado independente e respeitado pela comunidade internacional.
É lamentável que o presidente Mahmoud Abbas tenha sido impedido de falar nesta assembleia. A escalada do conflito ameaça a estabilidade em outros países da região.
A crise climática é outra grande ameaça. 2024 foi o ano mais quente já registrado. A COP30, em Belém, precisa ser o momento decisivo para compromissos sérios. O Brasil comprometeu-se a reduzir suas emissões significativamente, mas países ricos devem ajudar com recursos e tecnologias justas.
A proteção à Amazônia é vital, e o desmatamento foi reduzido pela metade nos últimos dois anos. É hora de implementar acordos internacionais, incluindo fundos para preservar florestas tropicais.
O sistema multilateral de comércio também precisa de reformas, pois práticas unilaterais prejudicam a economia global. A Organização Mundial do Comércio deve ser renovada com princípios modernos e flexíveis.
Este ano, perdemos grandes líderes como o ex-presidente do Uruguai, Pepe Mujica, e o Papa Francisco. Ambos simbolizam valores humanistas que inspiram a ONU e a luta por justiça social.
Precisamos agir com determinação para combater autoritarismo, desigualdade e degradação ambiental. O futuro depende das escolhas que fazemos hoje, e é essencial evitar divisões ideológicas e conflitos de influência.
O século 21 será multipolar e deve permanecer multilateral, com o Sul Global tendo voz ativa em organizações internacionais como União Europeia, União Africana, ASEAN, CELAC, BRICS e G20.
A missão do Brasil é ajudar a ONU a ser novamente símbolo de esperança, igualdade, paz, sustentabilidade, diversidade e tolerância.
Que Deus nos abençoe. Muito obrigado.

Você precisa estar logado para postar um comentário Login