Economia
Fedexpressa preocupação com corte de juros diante de riscos estagflacionários

O presidente do Federal Reserve (Fed) de Chicago, Austan Goolsbee, expressou desconforto em apoiar cortes de juros antecipados baseados apenas em dados fracos do emprego, considerando que a inflação nos EUA ainda mostra tendência de alta. “Estamos enfrentando riscos estagfcionários, cenário preocupante pois precisamos avaliar qual aspecto do nosso mandato está mais comprometido e qual deterioração terá efeitos de maior duração”, afirmou durante o evento Crain Power Breakfast.
Goolsbee afirmou ter votado a favor da redução de 25 pontos-base nos juros em setembro, mas mostrou cautela, dizendo que a continuidade da flexibilização monetária dependerá da confirmação de estabilidade tanto no pleno emprego quanto na inflação na faixa de 2%.
“Se isso ocorrer, os juros podem cair abaixo do atual nível, contudo, neste momento, não me sinto confortável em defender um corte mais acentuado”, ressaltou o dirigente.
Visão sobre a trajetória econômica
O presidente do Fed de Chicago mencionou que costumava prever um pouso suave para a economia americana, conhecido como “golden path”, e mantém certo otimismo, embora reconheça aumento das incertezas devido aos múltiplos choques globais.
Ele explicou que a inflação nos EUA parece direcionar-se para fora da trajetória desejada, com riscos elevados de permanecer acima da meta de 2%. “Não podemos confiar que o aumento seja temporário e passageiro, erro que já cometemos no passado”, alertou Goolsbee, que possui direito a voto nas decisões do banco central este ano.
Goolsbee destacou que a meta inflacionária do Fed é baseada no índice de preços de gastos com consumo (PCE), diferente do índice de preços ao consumidor (CPI). “Uma taxa de 2% no PCE corresponde a cerca de 2,3% no CPI, devido às diferenças nas métricas utilizadas. Nossa preferência é pelo PCE”, explicou.
Emprego e cenário econômico
Sobre o mercado de trabalho, o presidente do Fed de Chicago não vê uma recessão iminente, mas sim um crescimento econômico mais moderado, influenciado por mudanças na oferta de mão de obra, como a aposentadoria dos baby boomers e políticas migratórias.
Ele observou que não existem “dados perfeitos” e que muitas pesquisas de indicadores econômicos apresentam ruídos nos EUA e globalmente. “O payroll é uma das melhores fontes sobre emprego, mas prefiro analisar outros indicadores mais abrangentes para captar uma visão menos ruidosa”, comentou.
Goolsbee também mencionou que a alta produtividade atual nos EUA pode ter relação com avanços em inteligência artificial (IA), processo que deve ser administrado com cautela para não afetar negativamente o emprego.
Mandato e políticas
O presidente do Fed de Chicago reforçou que o duplo mandato, que engloba emprego e inflação, é “sagrado e a única coisa” que deve guiar as decisões de política monetária.
Sobre possíveis paralisações do governo dos EUA, ele evitou prever impactos específicos, ressaltando que estes dependerão de diversos fatores e que o Fed analisará as condições econômicas. “Curts períodos de shutdown historicamente têm pouco impacto, mas paradas prolongadas podem afetar o emprego e trazer efeitos duradouros”, explicou.
Goolsbee frisou que o banco central não possui poder sobre políticas fiscais, comerciais ou outras medidas governamentais, mas que deve considerar essas dinâmicas para suas decisões referentes aos juros.
Independência do Fed
Ao comentar sobre especulações envolvendo a diretora do Fed, Lisa Cook, o presidente destacou que a independência da instituição é “extremamente importante” para as decisões monetárias.
“Não tenho conhecimento privilegiado dos desdobramentos na Suprema Corte, mas sabemos que interferências governamentais nas decisões geram aumento da inflação e deterioração econômica”, afirmou, acrescentando que o Fed buscará manter-se o mais independente possível de influências políticas.

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