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Bolsonarismo mostra sinais de enfraquecimento, diz cientista político

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No cenário político atual, a influência do bolsonarismo parece estar diminuindo. Essa é a avaliação do cientista político Gabriel Rezende, que descreve esse fenômeno como uma expressão do “populismo de direita”. Segundo ele, ao longo da história, o Brasil passou por quatro ondas populistas, e a última apresenta indicativos claros de declínio.

Gabriel Rezende, que é doutor pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), lançará em breve o livro A ascensão do populismo de direita no Brasil, trazendo uma análise detalhada sobre o populismo como fenômeno político e ferramenta de representação em períodos de crise.

De acordo com ele, as crises política, econômica e social entre 2013 e 2016 criaram um ambiente propício para o surgimento da onda bolsonarista. Os principais traços desse movimento incluem a presença de um líder carismático, discursos que contrapõem “o povo” à “elite tradicional”, narrativas nacionais e religiosas, além do uso estratégico das redes sociais.

Gabriel Rezende entende que a recente tentativa frustrada de golpe de Estado e a atuação do Judiciário no combate às tendências autoritárias indicam um enfraquecimento do populismo de direita.

Entrevista com Gabriel Rezende

Agência Brasil: O que levou você a estudar o populismo de direita e qual o enfoque do seu livro?

Gabriel Rezende: Minha pesquisa nasceu da observação do crescimento de líderes populistas pelo mundo, como Donald Trump nos EUA, Jair Bolsonaro no Brasil, entre outros. Estudei os fatores que viabilizaram essa ascensão no contexto brasileiro e identifiquei diferentes ondas populistas ao longo da história do país, culminando na atual onda de direita.

Agência Brasil: Como você define populismo em sua obra?

Gabriel Rezende: Populismo não é uma ideologia, mas sim um fenômeno político que aparece em tempos de crise democrática. Caracteriza-se por um líder carismático que cria uma divisão entre “nós” (o povo) e “eles” (a elite), usando muitas vezes antagonismos e discursos dicotômicos.

Agência Brasil: Quais as diferenças entre populismos de direita e de esquerda?

Gabriel Rezende: O populismo de direita costuma enfatizar narrativas nacionalistas e religiosas, muitas vezes defendendo valores conservadores e uma moral tradicional. Já o populismo de esquerda busca ampliar direitos sociais e pautas progressistas, focando em minorias e na ampliação da democracia.

Agência Brasil: O que caracterizou o populismo de direita do bolsonarismo?

Gabriel Rezende: Foram cinco elementos principais: o apoio ao combate à corrupção (lavajatismo), a mobilização evangélica, o respaldo do agronegócio, o uso eficiente das mídias digitais, e a aproximação com os militares como maneira de moralizar a política.

Agência Brasil: Como vê o papel do Judiciário nesse contexto?

Gabriel Rezende: No Brasil, o Supremo Tribunal Federal (STF) tem sido um guardião da Constituição, atuando frente a demandas complexas e muitas vezes substituindo as falhas do Executivo e Legislativo. O populismo de direita tenta diminuir seu poder, mas o Judiciário se mantém como uma força moderadora fundamental.

Agência Brasil: O que pode ser esperado para o futuro do populismo de direita no país?

Gabriel Rezende: Com a condenação recente de Bolsonaro e as restrições impostas a ele, há um enfraquecimento do movimento. A ausência do líder principal para falar enfraquece a base de apoio. Entretanto, surgem outras figuras tentando assumir esse espaço, o que indica um período de reorganização política. A continuidade ou não desse fenômeno dependerá das dinâmicas políticas futuras, especialmente até as eleições de 2026.

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