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França revisita caso de estupro de Gisèle Pelicot em tribunal de apelação

Menos de um ano após um julgamento histórico que chocou a França e transformou Gisèle Pelicot em um ícone mundial, o tribunal de apelação se prepara para reavaliar a condenação de um homem envolvido no caso.
O operário de construção civil Husamettin Dogan, 44 anos, que foi sentenciado a nove anos de prisão em dezembro do ano passado, nega a intenção de ter estuprado Gisèle. Ele afirma ter sido enganado por Dominique Pelicot, ex-marido de Gisèle, que teria drogado a esposa e oferecido ela a outros homens pela internet, acompanhado da gravação das agressões.
Dogan será julgado em uma nova audiência nesta segunda-feira, dia 6, na cidade de Nimes, sul da França. Ele responde por estupro agravado ao administrar substâncias que comprometem o julgamento ou controle próprio, crime com pena que pode alcançar até 20 anos de prisão.
O réu está em liberdade enquanto aguarda a decisão judicial, que acontecerá até quinta-feira, dia 9. Os promotores haviam solicitado 12 anos durante o primeiro julgamento, mas o tribunal aplicou uma pena menor de nove anos.
O caso de Gisèle Pelicot
Na ação penal original, o ex-marido de Gisèle e mais 50 homens foram condenados por abusarem sexualmente dela entre 2011 e 2020, enquanto estava sob efeito de drogas. Dominique recebeu 20 anos de prisão, e as penas dos demais variaram entre três e 15 anos.
O processo ganhou repercussão internacional, sobretudo pelo fato de Gisèle se opor a uma audiência sigilosa, como desejaram alguns réus, decisão que suscitou o tribunal a optar pela transparência. Entre as evidências, vídeos gravados pelo próprio Dominique na residência do casal na pequena cidade de Mazan, localizada na região da Provença, além de outros locais.
“Não sinto vergonha. A vergonha deve mudar de lado”, declarou Gisèle no primeiro dia de julgamento. Após o veredicto, expressou nunca ter se arrependido da decisão e agradeceu o apoio que a fortaleceu para comparecer ao tribunal diariamente.
Desde então, Gisèle se tornou símbolo da luta contra a violência sexual, estimulando um debate nacional sobre a cultura do estupro na França.
Dominique admitiu sua culpa e não recorreu da sentença definitiva de 20 anos. Ele deverá testemunhar na nova audiência após ser citado por Dogan.
Dos 51 condenados, 17 apresentaram recursos inicialmente, mas a maioria desistiu. Somente Dogan continua com o pedido de revisão.
O julgamento anterior durou quatro meses, enquanto a nova audiência está prevista para até quatro dias. Em novembro, haverá processo civil em Avignon para definir as indenizações destinadas à vítima principal e sua família, a serem pagas em conjunto pelos condenados.

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