Economia
Diplomacia empresarial impulsiona diálogo entre Lula e Trump

A “diplomacia empresarial” junto às vias oficiais das relações internacionais trabalhou em conjunto para facilitar o contato telefônico entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, do Brasil, e Donald Trump, dos Estados Unidos, conforme análise de empresários e membros do governo.
Executivos de grandes companhias com operações nos EUA e associações de setores exportadores prejudicados pelas tarifas impuseram pressão sobre autoridades americanas, destacando a importância de negociações pautadas no comércio ao invés de questões ideológicas.
Empresários atuantes nos EUA, em parceria com a iniciativa privada americana impactada pelas tarifas, perceberam que o telefonema entre Lula e Trump, sem menção direta ao ex-presidente Jair Bolsonaro, aponta a redução da influência política do blogueiro bolsonarista Paulo Figueiredo e do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) nos EUA.
Focar nas negociações comerciais é visto como uma vitória, incluindo encontros com parlamentares republicanos e membros da equipe de Trump.
Empresários esperam que, com o diálogo direto, Lula possa aumentar as isenções tarifárias para exportadores brasileiros ainda este ano, revertendo sanções como a suspensão de vistos a autoridades.
Um executivo do setor de proteínas, altamente afetado pelas tarifas, explica que os preços da carne subiram nos EUA por causa das tarifas, com importadores americanos solicitando inclusão de produtos brasileiros nas exceções. Reuniões com representantes do governo americano demonstram que tais tarifas penalizam consumidores locais.
Segundo ele, os EUA possuem um dos menores rebanhos em 70 anos, produzindo principalmente carnes Angus, que são cortes mais caros comparados à maior parte da carne brasileira importada.
Joesley Batista, um dos controladores da JBS, realizou diversas reuniões em setembro com autoridades americanas, participando de uma delegação liderada por João Camargo, presidente do conselho do Grupo Esfera, que se reuniu com Susie Wiles, chefe de gabinete da Casa Branca.
Na ocasião, Batista destacou que o grupo emprega diretamente mais de 90 mil americanos e que as tarifas prejudicam tanto o setor brasileiro quanto o bolso do consumidor americano e os investimentos nos EUA.
Além da JBS, Batista também está ligado ao grupo controlador da Eldorado, que obteve recentemente isenção de tarifas sobre suas exportações para os EUA no setor de celulose.
Exportadores de proteína confiam que a pressão interna americana é relevante e que, se a boa relação entre Trump e Lula continuar, as tarifas sobre proteínas podem ser reduzidas ainda este ano.
O setor cafeeiro brasileiro, representado por Marcos Matos, presidente do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cacafé), também mantém diálogo com empresários e governo americanos, mostrando-se otimista com as conversas entre Lula e Trump para aliviar o impacto das tarifas no consumidor americano.
Francisco Gomes Neto, presidente da Embraer, conseguiu uma isenção de 50% sobre aviões civis antes do início das tarifas, após reuniões com autoridades americanas.
Associações setoriais e a Confederação Nacional da Indústria (CNI) enviaram delegações aos EUA, reunindo-se com altos funcionários do Departamento de Comércio e do United States Trade Representative (USTR).
José Velloso, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), expressa otimismo quanto à abertura formal do diálogo bilateral.
Ele ressalta que, apesar de o Brasil não ser prioridade máxima para os EUA, a pressão dos empresários americanos importadores brasileiros contribui para que a questão comercial seja ouvida.
Velloso destaca que o governo brasileiro tem condições para negociar concessões em temas valiosos para os EUA, como minerais críticos e etanol, e que há espaço para ampliar isenções tarifárias, porém um acordo mais amplo deve levar tempo devido aos atuais tratados americanos com Europa e Japão.
Reservadamente, empresários da indústria e agronegócio brasileiro avaliam que o protagonismo de Paulo Figueiredo e Eduardo Bolsonaro está sendo superado pela iniciativa privada brasileira no contexto americano, desviando a narrativa para o diálogo econômico.
Fernando Pimentel, presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), reconhece que a diplomacia empresarial é uma ação complementar ao esforço oficial, reforçando a abertura do diálogo e trazendo perspectivas positivas para os próximos passos.

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