Papa encontra sobreviventes de abuso em reunião inédita

O papa Leão XIV realizou nesta segunda-feira (20) seu primeiro encontro com um grupo de pessoas que sobreviveram a abusos sexuais praticados por membros do clero. Um dos presentes descreveu a conversa como um diálogo aberto sobre as ações que a Igreja deveria tomar.

“Nosso objetivo era criar uma conexão com ele e conseguir o compromisso de manter o diálogo, e ele se mostrou receptivo a isso”, declarou à AFP Tim Law, cofundador da organização americana Ending Clergy Abuse (ECA), que busca combater abusos cometidos por religiosos.

A reunião contou com defensores representando sobreviventes de mais de 30 países e, embora planejada para durar apenas 20 minutos, se estendeu por cerca de uma hora, segundo relatos.

Durante o encontro, o grupo solicitou que o papa estenda a política de “tolerância zero” contra abusos para toda a Igreja, norma já vigente nos Estados Unidos. Conforme estipulado pelos bispos americanos, um padre ou diácono católico deve ser expulso do clero assim que um abuso sexual contra menor seja confirmado ou admitido.

Tim Law mencionou que o papa comentou a dificuldade em implementar essa lei universalmente, devido a forte resistência em algumas regiões. “Promoveu-se um debate para entender essas resistências e encontrar modos de diálogo”, completou Law.

Ele também observou que, assim como seu antecessor Papa Francisco enfrentou rejeição em algumas áreas ao apoiar bênçãos para casais homoafetivos, o pontífice atual busca engajamento em discussões essenciais.

A ECA solicitou a audiência logo após a eleição de Leão XIV em maio, líder dos 1,4 bilhão de católicos no mundo. Law avaliou o encontro como um marco importante e surpreendente, mencionando a análise recente da Pontifícia Comissão para a Tutela dos Menores que apontou os desafios contínuos da Igreja para lidar com abusos.

“Os sobreviventes presentes disseram que as palavras do papa foram belas, mas que ainda aguardam ações concretas”, comentou Law. “Ele mostrou concordância silenciosa, e acredito que compreendeu a urgência da situação.”

O Vaticano confirmou a audiência do papa com a ECA, sem divulgar detalhes sobre o conteúdo da conversa.