Eleições no Chile trazem desafios para imigrantes sem documentos

Após uma jornada de 15 dias por terra, durante a qual enfrentou risco de problemas de saúde devido à altitude, a venezuelana Giovaneska Escobar atingiu o Chile. Finalmente, estava no país onde ela e seus filhos poderiam recomeçar suas vidas.

No entanto, quatro anos depois, esta cabeleireira de 37 anos voltou a se sentir ameaçada.

Sem possibilidades de regularizar seu status neste país de cerca de 20 milhões de habitantes, ela poderá enfrentar políticas mais rígidas contra imigrantes sem documentos.

Independentemente de quem vencer a eleição presidencial no dia 16 de novembro, o tratamento dado aos estrangeiros irregulares será mais severo.

A maioria dos chilenos relaciona o aumento da criminalidade ao crescimento da imigração irregular nos últimos cinco anos.

A insegurança é a principal preocupação apontada nas pesquisas de intenção de voto.

O tema domina o debate eleitoral, com propostas que vão desde expulsar os estrangeiros sem documentação, construir um muro na fronteira até a instalação de minas.

“Sei que muitos venezuelanos que chegaram aqui causaram problemas, mas há outros que vieram para trabalhar e viver honestamente. Espero que o próximo presidente nos dê uma chance”, declarou Escobar à AFP.

Os favoritos nas pesquisas são a comunista Jeannette Jara e o ultradireitista José Antonio Kast. Também concorrem a eleição os candidatos de direita, Evelyn Matthei e Franco Parisi.

Como estão as situações atuais?

Escobar partiu da Venezuela com seus dois filhos, atravessando a Colômbia e entrando no Chile a pé pela fronteira com a Bolívia, enfrentando o duro terreno do altiplano que quase causou seu desmaio.

“Foi uma aventura difícil que não encararia novamente se me perguntassem”, contou.

Em 2023, o Ministério Público chileno relatou 12 mortes por problemas relacionados à altitude, e desde o começo de 2025, oito casos.

Há aproximadamente 337 mil estrangeiros em situação irregular no Chile, sendo a maioria venezuelana.

Apesar disso, têm acesso aos serviços de saúde e seus filhos podem frequentar escolas públicas.

Eles trabalham informalmente como entregadores, vigilantes ou em jornadas no campo, sem sofrer operações migratórias.

Escobar mora em um prédio central de Santiago, onde atende suas clientes e oferece serviços de cabeleireira em domicílio.

Ameaça de expulsão

Imigrantes irregulares enfrentam o risco de deportação no próximo governo, independentemente do eleito.

O ultradireitista Kast propõe construir um muro na fronteira e deportações em massa de famílias.

“Deixo um aviso a quem está no Chile ilegalmente: pense no seu futuro, pois não haverá regularizações em massa”, disse.

Matthei defende fechar a fronteira com a Bolívia para impedir a entrada irregular.

Parisi pretende instalar instalações de segurança como minas antitanque na região de fronteira.

Até mesmo do lado da esquerda, preocupações são expostas, com Jara propondo controle biométrico obrigatório e expulsão para quem não se registrar, sem criminalizar a imigração irregular.

A jovem venezuelana Katriela Yepez, estudante de 22 anos, residente legal há sete anos, teme pela deportação de seus familiares que chegaram recentemente.

Fronteira e segurança

A maioria dos que entram irregularmente passa pela fronteira com a Bolívia, chegando à cidade de Colchane, uma pequena comunidade aimará localizada a 2.000 km ao norte de Santiago.

“Há contrabando e falta controle efetivo. Nenhuma medida implantada até agora mostrou resultados”, disse a vereadora Maribel Mamani.

O fluxo migratório aumentou a insegurança e fez muitos moradores deixarem a região. De cerca de 2.000 habitantes em 2020, restam agora aproximadamente 1.200, conforme relato de Mamani.

O governo atual enviou militares para reforçar o controle na fronteira.

Em 2024, quase 30 mil imigrantes entraram por rotas não oficiais, representando quase metade das entradas irregulares no país naquele ano, segundo dados oficiais.