Dólar cai pelo 4º dia seguido e fecha abaixo de R$ 5,40

O dólar iniciou a semana com uma queda significativa no mercado interno, fechando novamente abaixo da marca de R$ 5,40, algo que não acontecia há mais de 10 dias. Os investidores demonstraram maior interesse por ativos de maior risco devido ao otimismo em relação às negociações comerciais entre China e Estados Unidos, o que beneficiou a maioria das moedas de mercados emergentes e países exportadores de commodities.

Analistas destacam a possível entrada de capital estrangeiro na bolsa local, em um dia de alta do Ibovespa, e também no mercado de renda fixa. A expectativa é que, na ausência de estresse no mercado externo, o real seja favorecido pelo aumento da atratividade do carry trade, impulsionado pelo provável aumento do diferencial de juros internos e externos após a próxima decisão de política monetária do Federal Reserve no fim do mês.

Com uma mínima de R$ 5,3666, o dólar à vista terminou o dia em queda de 0,64%, cotado a R$ 5,3708 – o menor valor de fechamento desde 8 de novembro (R$ 5,3442). Este foi o quarto pregão consecutivo de valorização do real. Desde o pico de R$ 5,5037 em 10 de outubro, a moeda americana caiu 2,49%, retornando a níveis anteriores às ameaças do então presidente dos EUA, Donald Trump, de impor tarifas adicionais de 100% à China. No mês de outubro, o dólar acumula alta de 0,90% frente ao real.

Cristiane Quartaroli, economista-chefe do Ouribank, comenta: “Observamos a continuidade da queda do dólar nos últimos dias. Além do possível aumento do diferencial de juros, com expectativa de novo corte pelo Federal Reserve, há um sentimento mais positivo quanto à nova rodada de negociações entre EUA e China e ao fim do shutdown nos EUA. Isso elevou o apetite ao risco”.

Em sua típica postura oscilante, Donald Trump afirmou à tarde que a China poderá sofrer tarifas de até 155% caso não haja acordo até 1º de novembro, mas também demonstrou esperança em um bom entendimento com o presidente chinês, Xi Jinping, com quem pretende se reunir no final do mês, na Coreia do Sul. “Eu admiro minha relação com Xi Jinping”, declarou Trump, repetindo a fala do dia anterior, quando solicitou que os chineses aumentem a compra de soja americana.

Para o economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni, as ameaças comerciais de Trump já não assustam tanto os investidores, pois ele frequentemente recua e busca diálogo. Ele atribui boa parte do fortalecimento do real a dados favoráveis da economia chinesa, que contribuem para a alta nos preços das commodities agrícolas.

“Observamos uma recuperação mais sólida na China, beneficiando especialmente os mercados emergentes, incluindo o Brasil. O real está acompanhando essa tendência positiva das moedas de exportadores de commodities”, afirma Velloni, que também ressalta a possibilidade do mercado cambial local voltar a ser influenciado por questões fiscais domésticas.

O Produto Interno Bruto (PIB) da China cresceu 4,8% no terceiro trimestre, na comparação anual, superando levemente a previsão dos analistas de 4,7%. No acumulado de janeiro a setembro, o crescimento foi de 5,2%, alinhado com a meta oficial de cerca de 5%. Os dados de produção industrial e vendas no varejo em setembro também ficaram acima das expectativas.

O índice DXY, que mede o desempenho do dólar frente a uma cesta de seis moedas fortes, operou em leve alta de cerca de 0,18%, ficando próximo a 98,600 pontos ao final da tarde. Pela manhã, o diretor do Conselho Econômico Nacional dos EUA, Kevin Hassett, declarou que a paralisação parcial do governo americano (shutdown) “deve terminar” nesta semana.

Apesar da fraqueza do petróleo, a maioria das moedas emergentes e de países exportadores de commodities valorizou-se. Entre as moedas próximas ao real, o peso colombiano registrou queda de quase 1,50%, impactado pelas ameaças tarifárias e pelos ataques de Trump contra o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, a quem chamou de “líder ilegal de drogas”.