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Conflito entre Holanda e China pode paralisar produção de carros na Europa

A Europa enfrenta o risco de uma nova crise no fornecimento de semicondutores, impactando diretamente a indústria automotiva, devido a uma tensão diplomática crescente entre Holanda e China envolvendo a fabricante de chips Nexperia.
Segundo a Bloomberg, o problema surgiu quando o ministro holandês da Economia, Vincent Karremans, de 38 anos, decidiu impedir a influência dos acionistas chineses na Nexperia, sediada em Nijmegen, justificando a medida com preocupações de segurança nacional. A decisão ocorreu após pressão dos Estados Unidos, que aplicam restrições comerciais à Nexperia por sua ligação com a chinesa Wingtech Technology, parcialmente controlada por entidades estatais chinesas.
A resposta de Pequim foi rápida: o governo chinês bloqueou a comunicação da Nexperia com sua fábrica local, o que já está afetando o fornecimento de chips para a indústria automotiva no Japão e Europa. A empresa alertou que não poderá garantir a entrega de componentes essenciais a montadoras como Volkswagen e Stellantis se a situação permanecer sem solução.
A ação da Holanda, inédita desde a Guerra Fria, foi possível graças a uma lei de 1952 que permite o controle temporário de empresas estratégicas pelo Estado em situações de emergência. Essa medida resultou na remoção do executivo Zhang Xuezheng, fundador da Wingtech, acusado de transferir operações para fora da Europa e firmar contratos suspeitos avaliados em até 130 milhões de dólares.
De acordo com o Ministério da Economia da Holanda, as ações foram essenciais para preservar o conhecimento europeu da Nexperia, cuja perda teria impactos severos e imprevisíveis para o setor europeu de semicondutores.
Especialistas alertam que as fabricantes de veículos na Europa podem ser obrigadas a suspender suas linhas de produção em até 10 dias se o fornecimento de chips não for retomado.
— Devido à escala das operações da Nexperia, qualquer paralisação pode causar impactos significativos nas cadeias industriais — afirmou Chris Miller, autor do livro “Chip War”.
A crise surge em um momento delicado para o setor automotivo europeu, que já sofre com a redução da demanda, aumento de custos e tensões comerciais globais, além das dificuldades de transporte de insumos entre Ásia e Europa causadas pela guerra na Ucrânia.
Vincent Karremans, que assumiu o ministério interinamente após a saída do governo de coligação liderado por Geert Wilders, declarou que “não é mais possível permanecer inerte diante da política industrial”. Ele anunciou investimentos de 700 milhões de euros em centros de inteligência artificial e competitividade tecnológica.
Por sua vez, a China acusa a Holanda de prejudicar a estabilidade da cadeia global de suprimentos. O ministro do Comércio chinês, Wang Wentao, afirmou que a intervenção na Nexperia “dificultou muito a confiança e a previsibilidade do mercado internacional”.

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