Centro-Oeste
Idosa de 80 anos leva marido com Alzheimer para estudar na UnB
Olímpia Gomes de Santana Nunes, aos 80 anos, não permite que a idade ou as dificuldades impeçam a realização de seu sonho: estudar na Universidade de Brasília (UnB). Ela não frequenta as aulas sozinha; seu companheiro, José Pereira Nunes, 73 anos, que convive com Alzheimer, sempre a acompanha. Diariamente, ela equilibra os estudos com o cuidado dedicado ao marido.
Candidata aprovada no vestibular para maiores de 60 anos, Olímpia escolheu o curso de Turismo, um dos preferidos junto com outros como Terapia Ocupacional, Saúde Coletiva, Ciências Sociais, História, Psicologia e Nutrição.
“Não podia deixá-lo sozinho em casa, então solicitei permissão para trazer José comigo”, relata Olímpia. A coordenação da UnB acolheu o pedido, e José assiste às aulas de forma discreta, sentado próximo à janela, atento a cada movimento da esposa.
Essa decisão, que pode parecer arriscada para algumas famílias, reflete o equilíbrio ideal entre liberdade e proteção recomendado por especialistas. A gerontóloga Cláudia Alves, autora do livro O Bom do Alzheimer, explica que permitir que o paciente participe de atividades diárias fora de casa fortalece a autoestima e ajuda a manter as funções cognitivas.
“Com supervisão constante e cuidados simples, como identificação por crachá, rotina estável e evitar locais muito movimentados, é possível garantir inclusão com segurança”, acrescenta Cláudia.
Natural de Malacachê, em Minas Gerais, Olímpia chegou a Brasília em 1975 e construiu uma vida repleta de companheirismo ao lado do marido José, cuja história de amor começou em 1977, durante um baile no Gama. “Ele me chamou para dançar e nunca mais me deixou em paz”, recorda-se sorrindo.
Os primeiros sintomas de Alzheimer foram notados em 2019, quando José começou a esquecer fatos, confundir os dias e se perder em tarefas simples. O diagnóstico exigiu adaptações na rotina familiar, pois a doença é progressiva e afeta gradualmente o raciocínio, linguagem e humor.
“Em pessoas na faixa dos 70 anos, a doença se manifesta inicialmente com esquecimentos leves e desorientações. Intervenções precoces são fundamentais para prolongar a qualidade de vida”, explica a gerontóloga Cláudia Alves.
A presença do casal é acolhida carinhosamente pelos colegas de turma. “Todos gostam muito do Zé, cumprimentam, abraçam e brincam que ele também vai se formar”, emociona-se Olímpia. Para os especialistas, esse ambiente inclusivo é vital para o bem-estar do paciente, ressaltando que é importante acolher e redirecionar com paciência, evitando causar ansiedade.
“Manter uma rotina organizada e cuidar da saúde emocional do cuidador são fundamentais para garantir estabilidade e qualidade de vida ao paciente”, finaliza a especialista.

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