Economia
Conflito no mercado de delivery no Brasil: espionagem, consultoria e roubo revelados
O mercado de entrega de alimentos no Brasil está enfrentando uma série de investigações que expõem uma preocupante disputa entre as empresas responsáveis pelos aplicativos do setor. As investigações apontam para a prática de furto de dados sigilosos e espionagem industrial.
Ex-funcionários da 99Food e iFood, consultorias estrangeiras e casos de roubo de equipamentos eletrônicos são parte dessa batalha comercial que envolve informações estratégicas das companhias.
Recentemente, a 99, empresa controladora da 99Food, iniciou uma investigação interna para apurar um possível vazamento de dados sigilosos, que pode ter acontecido por meio do roubo de notebooks corporativos e da intervenção de consultorias que abordavam funcionários.
Os dados comprometidos incluem planos de expansão para novas regiões, contratos com restaurantes e informações sobre a estrutura e estratégias das plataformas. Também são apurados furtos de notebooks de funcionários em cargos estratégicos, incluindo membros das lideranças da 99 e da 99Food.
De forma semelhante, o iFood apresentou denúncias à polícia de que consultorias estariam tentando obter informações internas conversando com seus colaboradores sob a justificativa de pesquisas de mercado.
A empresa 99 informou que muitos funcionários receberam mensagens, algumas diversas vezes ao dia, oferecendo de US$ 200 a US$ 1 mil por reuniões em que seriam solicitadas informações internas.
Essas ações ganharam caráter criminal em inquéritos que investigam concorrência injusta. Recentemente, mandados de busca foram cumpridos contra um ex-funcionário do iFood suspeito de transferir dados de clientes e informações internas para dispositivos pessoais, envolvendo mais de 4 mil restaurantes.
Outra operação mirou um ex-colaborador investigado por furto e invasão de sistemas. Consultorias estrangeiras teriam procurado funcionários do iFood pelo LinkedIn, oferecendo dinheiro em troca de informações confidenciais sobre lucros, operações e dados do mercado de entrega de alimentos.
O inquérito também cita contatos com a empresa chinesa Meituan, dona do serviço Keeta. A Meituan negou contratar empresas para abordar indivíduos em seu nome e declarou estar comprometida com práticas justas no mercado brasileiro.
O iFood reforça seu posicionamento contra práticas desleais e confirma que continuará promovendo um ambiente ético no setor de delivery.
Disputa sobre exclusividade e visibilidade
No âmbito judicial, em outubro, a Justiça de São Paulo proibiu cláusulas de exclusividade da 99Food com restaurantes parceiros, que limitavam o uso de outras plataformas, como a Keeta.
Os representantes da 99 explicaram que existem contratos variados, incluindo modelos semiexclusivos, e vão recorrer da decisão, alegando conformidade com as normas vigentes.
A Meituan declarou que deseja um mercado em que os restaurantes possam escolher a melhor plataforma para seus serviços.
Conflito entre marcas nas ruas
A rivalidade se estende ao marketing visual. As mochilas dos entregadores tornaram-se um espaço importante para a promoção das marcas, já que cada entregador realiza múltiplas viagens diárias e circula por diferentes regiões.
O iFood aumentou a distribuição de mochilas e campanas promocionais após a entrada da 99Food no mercado brasileiro. Há relatos de que a empresa estimula entregadores a trocar as mochilas da concorrente por vouchers e brindes.
Além disso, o iFood incorporou em sua avaliação de pedidos perguntas sobre a mochila usada pelo entregador, incentivando o engajamento dos trabalhadores com benefícios, como descontos, vale-combustível e até motos.
A 99 também investe na aproximação com os entregadores, promovendo encontros e oferecendo bolsas e vestimentas em novos mercados, além de compensações financeiras para corridas realizadas.
A Keeta, por sua vez, pretende distribuir capacetes inteligentes na Baixada Santista, com tecnologia para comunicação por voz, GPS e sensores de segurança, e utiliza algoritmos avançados para otimizar rotas e aumentar a eficiência das entregas sem sobrecarregar os entregadores.

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