Governo dos EUA pode bater recorde de paralisação

O governo dos Estados Unidos está prestes a alcançar um novo recorde de paralisação nesta terça-feira (4), devido à ausência de consenso sobre o orçamento nacional entre os republicanos do presidente Donald Trump e a oposição democrata.

Na quarta-feira, o chamado shutdown atingirá seu 36º dia, ultrapassando a duração registrada em 2019, no primeiro mandato presidencial.

Durante as últimas seis semanas, cerca de 1,4 milhão de servidores públicos deixaram de receber seus salários. Os trabalhadores considerados “essenciais”, como controladores de tráfego aéreo e agentes de segurança, foram obrigados a manter suas atividades sem remuneração.

Os programas sociais foram severamente impactados. Trump declarou que a distribuição da ajuda alimentar, fundamental para milhões de americanos, só acontecerá após a reabertura do governo, apesar da administração ter indicado, um dia antes, que benefícios parciais seriam concedidos.

Nos aeroportos, a situação se agrava. O secretário de Transporte, Sean Duffy, alertou sobre a possibilidade de fechamento parcial do espaço aéreo devido à escassez de pessoal.

O presidente da Câmara dos Representantes, o republicano Mike Johnson, reconheceu a surpresa com a extensão da paralisação, afirmando: “Serei honesto com vocês: não acreditávamos que isso se prolongaria tanto”.

O governo está parcialmente parado desde que o Congresso não aprovou o financiamento dos departamentos federais após 1º de outubro, início do novo ano fiscal.

Os republicanos, com maioria estreita em ambas as câmaras, solicitaram que cinco senadores democratas apoiassem uma resolução para manter os fundos até o final de novembro, período em que discutiriam os temas orçamentários mais detalhadamente.

Porém, o Partido Democrata permanece firme, exigindo que a reforma da saúde proposta pelos republicanos seja completamente revista, o que implicaria desfazer partes significativas da lei aprovada recentemente por Trump.

Sinais de negociação entre moderados

Apesar da pouca disposição para acordo entre as lideranças, houve movimentações moderadas. Um grupo bipartidário de quatro deputados centristas apresentou uma proposta para reduzir os custos do seguro de saúde.

Os democratas esperam que o aumento dos custos dos planos médicos para o próximo ano pressione os republicanos a buscar um consenso.

Trump, no entanto, manteve sua posição firme, afirmando em entrevista à CBS News que não seria “extorquido”.

Nesta terça, Trump pediu que os republicanos adotem a chamada “arma nuclear” legislativa: eliminar a exigência de 60 votos no Senado para romper a oposição democrata.

Ele afirmou nas redes sociais: “Cortem o obstrucionismo agora, terminem essa absurda paralisação e aprovem todas as políticas republicanas que desejamos há anos, mas não conseguimos realizar”.

Entretanto, acabar com o obstrucionismo pode ser arriscado, pois o limite de 60 votos foi criado em 2013 pelos democratas justamente para impedir manobras semelhantes dos republicanos.

Se removido, os democratas poderiam futuramente aplicar a mesma tática para avançar demandas como a concessão de status de estado a Porto Rico ou Washington.

A proposta de Trump gerou reservas entre os líderes do partido. O republicano John Thune, líder da maioria no Senado, declarou que não possuem votos suficientes para tal medida.