Economia
Por que a JBS está sob investigação do governo Trump pela alta da carne nos EUA?
O Departamento de Justiça dos Estados Unidos iniciou uma investigação nas principais empresas de processamento de carne do país, suspeitas de conluio e manipulação de preços, podendo alterar a estrutura das indústrias de gado e carne bovina. Tentativas anteriores de reduzir o domínio dessas grandes empresas frigoríficas não tiveram êxito, conforme reportagem do The New York Times.
A iniciativa da Casa Branca veio após uma publicação do presidente Donald Trump em suas redes sociais, na qual ele acusou os frigoríficos de aumentarem os preços artificialmente e ameaçarem o abastecimento alimentar nos EUA.
“Estou solicitando que o Departamento de Justiça aja rapidamente,” escreveu Trump. “Medidas imediatas devem ser tomadas para proteger os consumidores, combater monopólios ilegais e evitar que essas empresas obtenham lucros ilícitos às custas do povo americano.”
Um comunicado oficial mencionou que as companhias JBS, Cargill, Tyson Foods e National Beef são o foco dessa investigação, juntas responsáveis pelo abate de 85% do gado e a maior parte dos suínos nos Estados Unidos.
Trump sugeriu que empresas estrangeiras são as culpadas, o que provocou queda nas ações da JBS, a maior processadora de carne bovina do mundo, caindo até 6,2% após o mercado fechar. A Pilgrim’s Pride, subsidiária da JBS, que atua no setor de frangos, contribuiu com US$ 5 milhões para o comitê de posse de Trump.
A Smithfield Foods, produtora de carne suína controlada principalmente pelo grupo WH Group de Hong Kong, também teve queda, enquanto a Tyson Foods oscilou, mas recuperou valor.
A procuradora-geral Pam Bondi declarou que uma investigação já está em curso, liderada pela divisão antitruste do Departamento de Justiça.
Produtores de gado há muito reclamam do poder excessivo dos quatro grandes frigoríficos, mostrando que nos últimos dez anos os preços da carne no varejo aumentaram enquanto o valor pago pelos animais caiu, beneficiando os abatedouros com uma fatia maior dos lucros.
“Apoiamos essa investigação para assegurar que os criadores recebam preços justos e os consumidores paguem valores definidos livremente pelo mercado, não por um monopólio”, afirmou Bill Bullard, diretor-executivo do Ranchers-Cattlemen Legal Action Fund.
As empresas envolvidas não se pronunciaram sobre o assunto.
De acordo com o Departamento de Estatísticas do Trabalho dos EUA, o preço da carne moída atingiu US$ 6,32 por libra em setembro, um aumento superior a 11% comparado ao ano anterior. No atacado, os preços da carne bovina subiram 16% em 2025, segundo dados do Departamento de Agricultura dos EUA.
Especialistas atribuem a alta dos preços principalmente à redução do rebanho bovino americano, o menor em sete décadas, agravada por secas severas.
Além disso, as tarifas impostas pelos EUA sobre a carne brasileira afetaram as vendas deste produto no mercado americano.
O lançamento da investigação pode favorecer o apoio de produtores rurais a Trump, que enfrentavam descontentamento devido à redução nos preços das commodities promovida pela guerra comercial e à ajuda financeira otimizada para agricultores concorrentes como a Argentina.
Trump também responsabilizou os próprios pecuaristas pelo aumento do preço da carne, fato que levou à queda dos preços do gado em leilões, embora os preços ao consumidor continuem subindo.
Durante o fim do primeiro mandato de Trump, o Departamento de Justiça iniciou uma pesquisa antitruste sobre o setor de processamento de carne. O presidente sucessor, Joe Biden, manteve essa iniciativa, embora não tenha impulsionado ações judiciais diretas.
Em 2022, Biden lançou um programa para que produtores possam denunciar práticas injustas no mercado. As grandes empresas do setor enfrentam críticas de alta concentração e já pagaram multas substanciais para encerrar processos relacionados a manipulação de preços e violações antitruste.


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