Economia
Brasil quer parar tarifa dos EUA enquanto negociar
Com o impasse comercial ainda não resolvido, o governo brasileiro busca abrir novamente o diálogo com Washington.
A estratégia é continuar pedindo a suspensão das tarifas e sanções aplicadas pelos Estados Unidos enquanto as negociações bilaterais estiverem em andamento — movimento que ganhou força após a breve conversa entre o chanceler Mauro Vieira e o secretário de Estado americano, Marco Rubio, na quarta-feira (12), durante a reunião ministerial do G7, em Niágara. Um novo encontro entre os dois deve ocorrer nesta quinta-feira, em Washington.
A conversa entre Vieira e Rubio aconteceu na quarta-feira, na margem da reunião do G7 no Canadá. Durante o diálogo, Vieira informou que o Brasil enviou, em 4 de novembro, uma proposta de negociação aos EUA, após uma reunião virtual entre equipes técnicas.
Os detalhes são confidenciais, mas fontes que conhecem o tema informam que o documento sugere a suspensão temporária das medidas enquanto se discute um acordo comercial mais abrangente.
O encontro previsto em Washington entre os chefes da diplomacia dos dois países ocorrerá duas semanas após a reunião entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump, na Malásia, que representou o primeiro gesto político de aproximação desde então. No entanto, até o momento, não houve avanços concretos.
O tarifaço entrou em vigor em agosto, após ter sido anunciado em julho por Trump. Essas sobretaxas, que chegam a 50%, incidem sobre produtos brasileiros como aço, alumínio, carnes, café, frutas, pescados, suco de laranja e máquinas industriais.
A Casa Branca justificou as medidas alegando uma “perseguição judicial” contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, citando o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, como o principal alvo das sanções pessoais.
Além das tarifas, o Brasil está sob investigação com base na Seção 301 da Lei de Comércio dos Estados Unidos — mecanismo que permite sanções contra países com práticas “injustificáveis ou discriminatórias”.
No caso brasileiro, estão sendo analisados temas como comércio digital, regras ambientais, tarifas preferenciais, propriedade intelectual e o uso do Pix como método de pagamento instantâneo, considerado por autoridades americanas como possível fator de desequilíbrio para empresas estrangeiras.
Recentemente, Trump voltou a mencionar a possibilidade de reduzir algumas tarifas sobre a importação de café, como parte de um esforço para controlar a inflação interna, pressionada pela alta provocada pelo próprio tarifaço. Embora o Brasil não tenha sido citado diretamente, a notícia foi recebida com otimismo por membros do governo e do setor privado.
Os EUA são o maior consumidor mundial de café, importando cerca de 25 milhões de sacas anualmente. O Brasil responde por cerca de um terço deste total.
As sobretaxas impostas pelos EUA tiveram forte impacto nas exportações brasileiras. Desde agosto, as vendas dos produtos afetados — especialmente aço, alumínio, carnes, café e máquinas industriais — tiveram uma queda estimada em 20% em valor exportado entre agosto e outubro, em comparação com o mesmo período do ano anterior.
O Itamaraty e o Ministério do Desenvolvimento alegam que as medidas são injustificadas porque os Estados Unidos continuam com superávit no comércio bilateral. Dados de 2024 indicam que os EUA exportaram US$ 40,4 bilhões para o Brasil, enquanto as exportações brasileiras ao mercado americano somaram US$ 40,7 bilhões — uma diferença de cerca de US$ 300 milhões. De janeiro a outubro, o déficit brasileiro com os EUA alcançou US$ 6,8 bilhões.
A decisão da Casa Branca de ligar o fim das tarifas à situação judicial do ex-presidente Bolsonaro agravou a crise diplomática. Lula, segundo fontes próximas, foi firme ao afirmar que o Brasil não aceitará interferência em questões internas e que divergências políticas não devem ser confundidas com assuntos comerciais. O presidente reforçou que o país manterá sua soberania e que a defesa do Estado de Direito é inegociável, mesmo diante de pressões econômicas.

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