Economia
Correios buscam R$ 5 bilhões até o final do ano e enfrentam alta nos juros de empréstimos
Imerso em uma grave crise financeira, os Correios estão tentando captar pelo menos R$ 5 bilhões no mercado até o final de 2025 para equilibrar suas finanças, de acordo com fontes internas da empresa.
Essa nova abordagem surge após o fracasso na tentativa de obter um empréstimo maior, de R$ 20 bilhões, devido às altas taxas de juros e às dificuldades em apresentar as garantias exigidas pelos bancos.
Além disso, a estatal encontra dificuldades para pagar as parcelas de um empréstimo já contratado anteriormente.
Sem este aporte de R$ 5 bilhões até dezembro, a empresa não conseguiria honrar os salários e as dívidas com fornecedores, segundo representantes da organização.
A companhia emprega mais de 80 mil pessoas. Consultada, a assessoria dos Correios optou por não comentar o assunto.
Enquanto busca novos recursos com o aval do governo federal, os Correios enfrentam o pagamento de um empréstimo anterior no valor de R$ 1,8 bilhão, obtido junto ao BTG, Citibank e Banco ABC Brasil. Atualmente, a estatal está pagando apenas os juros, que aumentaram a partir de outubro, conforme documentos obtidos. Inicialmente, a taxa era CDI mais 3%.
Em outubro, esse adicional subiu para 4% e, em novembro, para 5%, permanecendo assim até que a União conceda aporte ou que outro empréstimo com garantia do Tesouro seja liberado. O Citibank não comentou sobre o assunto, e as demais instituições financeiras não se manifestaram.
O aumento nos juros foi provocado pelo descumprimento contratual relacionado ao estoque de precatórios. Por esta razão, os Correios foram obrigados a renegociar as condições com os bancos, resultando em termos menos favoráveis.
Foi assinado um aditivo contratual no valor de R$ 40,5 milhões para ajustes, que deverá ser pago em duas parcelas, nos dias 28 de novembro e 28 de dezembro. No entanto, os bancos podem reter esses valores na conta garantia a partir de 15 de novembro.
Outro impacto negativo para a empresa causado pelo descumprimento foi a antecipação do pagamento do valor principal do empréstimo, que antes estava previsto para junho de 2026.
O contrato firmado em 26 de maio com BTG Pactual, ABC Brasil e Citibank previa que, caso o estoque de precatórios ultrapassasse R$ 900 milhões em qualquer momento, uma cláusula de pagamento antecipado seria ativada.
No término do segundo trimestre, o montante de precatórios e Requisições de Pequeno Valor (RPVs) alcançou R$ 2,051 bilhões, o que levou os bancos a notificarem oficialmente a empresa.
O aditivo é válido para o segundo e terceiro trimestres, sendo que a partir do quarto trimestre, o limite para o estoque de precatórios será de R$ 2,5 bilhões em qualquer momento.
Situação financeira da empresa
Os Correios apresentaram um prejuízo acumulado de R$ 4,3 bilhões em 2025. Somente no segundo trimestre, entre abril e junho, o déficit chegou a R$ 2,6 bilhões, quase cinco vezes maior que o do mesmo período do ano anterior, que foi R$ 553,1 milhões.
Para recuperar o fôlego, está em curso uma discussão sobre um plano de reestruturação que inclui o fechamento de aproximadamente mil agências e unidades operacionais, além de um programa de desligamento voluntário (PDV). Este programa pretende obter a adesão de 6.348 funcionários e a movimentação de cerca de dez mil trabalhadores para setores mais críticos, com a expectativa de economizar R$ 830 milhões.
A atual gestão dos Correios aposta na redução dos custos fixos da folha salarial, composta por cerca de 80 mil colaboradores, dos quais 77 mil trabalham diretamente na manutenção das operações e na universalização do serviço em mais de 5.570 municípios do país.
Segundo interlocutores do Ministério das Comunicações, diversas versões do plano de reestruturação já foram discutidas, mas a proposta final ainda está pendente.
Outra alternativa em análise para auxiliar financeiramente a estatal inclui a criação de um fundo imobiliário, proposta elaborada pela Caixa Econômica Federal com base nos ativos dos Correios, que possuem 2.366 imóveis avaliados em R$ 5,4 bilhões. Porém, técnicos do banco informam que os dados necessários para formatar essa operação estão demorando a ser fornecidos.
Em meio à crise, a empresa promoveu recentemente a primeira renovação em sua diretoria desde a chegada do novo presidente. Saíram Juliana Picoli Agatte, responsável pela área de Governança e Estratégia, Getúlio Marques Ferreira, diretor de Gestão de Pessoas, e Sérgio Kennedy Soares Freitas, diretor de Operações.
Luiz Cláudio Ligabue, que atuava como diretor de Controles Internos do Banco do Brasil, assumiu a área de Governança e Estratégia, enquanto José Marcos Gomes, funcionário de carreira dos Correios, foi nomeado diretor de Operações. A Gestão de Pessoas passou a ser comandada por Natália Teles da Mota, ex-diretora executiva da Escola Nacional de Administração Pública (Enap).
Risco apontado pelo Tesouro Nacional
Além dos desafios enfrentados pelos Correios, um relatório do Tesouro Nacional indicou a possibilidade de o governo federal ter que aumentar a dívida pública caso seja necessário realizar aportes financeiros para salvar outras oito estatais. Esse documento identificou problemas em empresas como Caixa Econômica, Infraero, ENBPar e as Companhias Docas do Ceará, Pará, Bahia, Rio de Janeiro e Rio Grande do Norte.
De acordo com o relatório, se essas empresas não conseguirem gerar fluxo de caixa suficiente para operar, o governo terá que injetar dinheiro público para manter os serviços, o que elevaria os gastos e, consequentemente, a dívida pública.
A Dívida Bruta do Governo Geral (DBGG), que compreende União, estados e municípios, deve atingir 79% do Produto Interno Bruto (PIB) até o final de 2025. Isso significa que, para cada R$ 100 produzidos no país, R$ 79 estarão comprometidos com o pagamento de dívidas públicas. A previsão é que essa relação continue crescendo até chegar a 84,2% em 2028, com uma ligeira redução apenas a partir de 2029.


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