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Humor de imigrantes satiriza a repressão migratória nos EUA

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“Ainda há imigrantes ou já nos livramos de todos?”, brinca a comediante Lucie Pohl, arrancando risadas do público no início do “Immigrant Jam Comedy”, um show de stand-up em um clube nova-iorquino onde todos os humoristas são imigrantes.

As políticas mais rígidas dos Estados Unidos contra a imigração e as deportações em massa durante o segundo mandato de Donald Trump estão no centro das preocupações.

Pohl, nascida na Alemanha e criada em Nova York, criou o espetáculo há mais de oito anos, quando o magnata republicano estava na presidência pela primeira vez.

“Eu me sentia triste e um pouco preocupada porque ainda não era cidadã”, conta à AFP essa atriz na casa dos trinta, que chegou aos Estados Unidos aos oito anos e se naturalizou em 2021.

“Então tive a ideia de criar um espaço que homenageasse os imigrantes, algo alegre e sem medo”, acrescenta.

O público entusiasmado incluía uma colombiana, um argentino, um búlgaro e uma israelense em uma noite de sexta-feira no Caveat, um pequeno local no Lower East Side de Manhattan.

“O que eles contam sobre suas experiências nos EUA reflete a minha vivência”, explica Martin Calles, que veio da Argentina há 35 anos.

“Já assisti muito stand-up e esse é o que mais me representa”, diz ele, observando que muitos humoristas americanos falam de temas com os quais não se identifica.

“É revigorante”

A colombiana Carolina Ravassa, frequentadora assídua, valoriza o alívio cômico em meio às tensões provocadas por batidas policiais e deportações: “É um pouco pesado e cansativo, então ver esse show é realmente renovador”.

Procurada por Pohl nas redes sociais, Lakshmi Kopparam, de origem indiana, tornou-se uma figura importante no elenco do “Immigrant Jam”, que muda a cada noite, embora alguns artistas retornem frequentemente.

Visto, residência, naturalização, diferenças culturais, integração — cada artista compartilha sua experiência sem perder o humor.

“Grande parte do meu material já aborda esses temas, então não precisei inventar nada”, afirma Kopparam, que durante o dia trabalha como engenheira de software na Amazon.

Pohl explica que a proposta não é falar especificamente sobre imigração. “Muitos acabam fazendo isso, mas acredito que não de forma intencional”, observa.

Ela também nota que o segundo mandato de Trump deixou o tom do show mais sombrio.

“O governo adotou medidas tão severas contra imigrantes que sinto que há mais urgência e ameaça”, comenta. “O clima ficou mais desesperador, então o material ficou um pouco mais grave”.

Em Nova York, uma cidade cosmopolita e que acaba de eleger um prefeito muçulmano, Pohl não lembra de ter ouvido vaias ou rejeição.

“É um lugar onde você realmente se sente seguro”, reforça Bianca Cristovao, nascida na República Tcheca e que frequentemente é a única imigrante quando se apresenta em outras cidades.

“Tenho a impressão de que as pessoas entendem um pouco mais minha história e que posso me permitir criticar os EUA de forma mais livre”.

Ao ser informado por um espectador alemão que acabou de se mudar para os EUA, Pohl responde de imediato: “Por quê? Para ver como vivem os pobres sem plano de saúde?”

As críticas aos americanos nunca são agressivas. Porém, surge a dúvida se esse humor seria aceito em outras regiões do país, atualmente muito divididas politicamente. “Talvez não funcione nos estados governados por republicanos”, sugere Ravassa.

Cristovao, que recentemente se tornou cidadã americana, acredita que tratar desses temas diante de um público maior tem valor educativo.

“Muitos americanos não sabem exatamente como alguém se torna cidadão dos EUA”, explica. “É um processo longo e difícil, e acho importante aumentar a conscientização sobre isso”.

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