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Polícia vai investigar agentes armados em escola por desenho de orixá
A Polícia Militar iniciou uma investigação sobre a atuação dos policiais armados que foram chamados a uma ocorrência na última quarta-feira (12/11) na Escola Municipal de Ensino Infantil Antônio Bento, localizada no Caxingui, zona oeste de São Paulo. A situação foi desencadeada quando um pai descobriu que sua filha de 4 anos fez um desenho da orixá Iansã em uma atividade escolar.
A investigação foi aberta após a repercussão do caso, divulgada pelo Metrópoles no domingo (16/11). A Polícia informou que vai analisar as imagens captadas pelas câmeras corporais dos agentes envolvidos para apurar a conduta da equipe.
O dia anterior ao episódio, o pai da criança já havia demonstrado insatisfação com a atividade, que faz parte do currículo antirracista da rede municipal. Segundo uma mãe de estudante, ele chegou a rasgar um mural com desenhos feitos por outros alunos que estavam expostos na escola.
Após o acontecido, a direção da escola sugeriu que o homem participasse de uma reunião do Conselho Escolar, que ele não compareceu, optando por chamar a Polícia Militar. Quatro policiais fortemente armados, um com metralhadora, entraram na unidade por volta das 16h, alegando que a estudante estava sendo obrigada a assistir a uma aula de religião africana.
Segundo relatos, os agentes classificaram a atividade escolar como ensino religioso e afirmaram que a criança estava sendo submetida a uma doutrinação diferente da religião da sua família, abordando a escola de forma considerada agressiva por testemunhas.
A direção escolar explicou que o desenho fazia parte de uma atividade baseada no livro infantil Ciranda em Aruanda, que pertence ao acervo oficial da rede municipal. Ressaltaram ainda que as leis nº 10.639/03 e nº 11.645/08 exigem o ensino da história e cultura afro-brasileira em todo o país, e que a atividade não tinha o propósito de doutrinação religiosa, apenas apresentou a história do livro, seguida pela atividade artística.
Liu Olivina, autora do livro Ciranda em Aruanda, lamentou a atitude do pai da criança em entrevista ao Metrópoles, destacando os possíveis traumas causados à menina pela repressão sofrida. “Fiquei muito triste. Pensei nas artes destruídas pelo pai e no impacto para os educadores da escola. Mas o que mais me tocou foi a criança que foi reprimida, pois isso pode gerar traumas. Ela apenas fez uma arte e isso levou o pai a chamar a polícia. É algo muito absurdo”, afirmou.
Moradores das comunidades do Caxingui e Instituto de Previdência, na zona oeste de São Paulo, criaram um abaixo-assinado em apoio à escola e contra a postura adotada pela Polícia Militar e pelo pai que acionou os agentes. O documento, lançado no domingo à noite (17/11), já reuniu cerca de 800 assinaturas até a manhã de segunda-feira (17/11).
A advogada Beatriz Branco, de 34 anos, disse que a iniciativa surgiu após a leitura da reportagem do Metrópoles e que todos ficaram chocados com o ocorrido. Ela ressaltou a boa relação dos moradores com a escola, que é referência na região, e a importância do trabalho antirracista na educação.
O abaixo-assinado solicita que a conduta dos policiais seja investigada para verificar possível abuso de autoridade e violação dos direitos das crianças, solicitando à Corregedoria que tome as providências necessárias.
A Prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria Municipal de Educação, esclareceu que o pai da aluna foi informado sobre a atividade da filha, que faz parte de uma produção em grupo. Informaram ainda que essa atividade está integrada às propostas pedagógicas da escola, que incluem o ensino obrigatório da história e cultura afro-brasileira e indígena no Currículo da Cidade de São Paulo.

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