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Economia

COP30 em Belém: evento cheio de simbolismos e desafios

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A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), realizada em Belém, no Pará, destacou-se por suas contradições marcantes. De um lado, o Brasil conquistou um espaço inédito ao reunir negociadores na floresta amazônica. De outro, a cúpula foi afetada por problemas logísticos, desafios financeiros e a falta de um acordo vinculativo para a transição energética global.

Especialistas reconheceram avanços como a maior visibilidade dos povos indígenas e comunidades tradicionais, além de decisões técnicas relevantes relacionadas ao mercado de carbono. Porém, enfrentaram críticas pela infraestrutura insuficiente, menor presença de chefes de Estado, o incêndio na Blue Zone e a ausência de um plano claro para reduzir o uso de combustíveis fósseis.

Participação

O destaque principal da COP30 foi a Amazônia em si, proporcionando aos participantes uma experiência direta com o tema das negociações. Para o Luiz Otávio Cavalcanti, professor e ex-presidente da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), a participação alcançou um nível jamais visto nas edições anteriores. Segundo ele, a presença física da floresta criou uma pressão moral fundamental nas discussões.

A internacionalista Julia Stefany, que esteve pela segunda vez em uma COP, ressaltou o impacto da imersão na maior floresta tropical do mundo, tornando mais real para os negociadores a urgência das mudanças climáticas. Ela destacou também a forte presença de movimentos sociais, que ampliaram a voz de grupos frequentemente marginalizados nos debates técnicos.

Acordos

Apesar da significativa ausência de líderes de grandes emissores, como China, Índia e Estados Unidos, a atuação diplomática brasileira foi amplamente elogiada. Luiz Otávio Cavalcanti elogiou o Itamaraty pela condução eficiente dos debates, favorecendo consensos e evitando conflitos.

Dentre os avanços técnicos, o destaque foi para o Artigo 6, que trata do mercado de carbono. Conforme Julia Stefany, houve progresso na regulação dos mecanismos de mercado e nas abordagens cooperativas.

Entretanto, a discussão sobre a redução gradual dos combustíveis fósseis voltou a ser o principal desafio. O cientista político Augusto Teixeira apontou que países desenvolvidos resistem a financiar essa transição devido a pressões geopolíticas e altos gastos militares. Isso resultou na falta de acordos vinculantes, deixando o encontro com declarações e propostas sem compromissos efetivos.

Incêndio

Um dos momentos mais críticos do evento foi o incêndio na Blue Zone, rapidamente controlado, sem feridos. Para o cientista político Vinícius Silva Santana, que participou na delegação do Azerbaijão, o incidente simboliza a urgência do combate às mudanças climáticas.

Ele elogiou a organização pela rápida retirada dos participantes e pela retomada rápida das negociações. Julia Stefany também destacou a atuação eficiente dos bombeiros e da segurança, enfatizando que, mesmo diante do episódio, a aprovação de documentos e avanços técnicos continuou normalmente.

Estrutura

Para o internacionalista Thales Castro, os problemas estruturais foram um ponto negativo significativo da COP30, evidenciados pela falta de hospedagem adequada e dependência de geradores a diesel. Também criticou a construção de uma estrada que impactou a floresta e causou descontentamento social.

No campo financeiro, houve frustração com o baixo financiamento climático, especialmente pelo Fundo Sobre Florestas para Sempre, previsto em US$ 125 bilhões, que até o momento captou apenas US$ 6,7 bilhões de alguns países doadores.

Alemanha

O chanceler alemão Friedrich Merz gerou controvérsia ao declarar sua satisfação ao deixar Belém, afirmando que nenhum jornalista de sua comitiva queria permanecer na cidade. O porta-voz do governo alemão, Stefan Kornelius, afirmou que a declaração foi mal interpretada e que as relações diplomáticas seguem positivas, mantendo o Brasil como parceiro estratégico.

Esse episódio, no entanto, evidenciou desgaste político e críticas sobre a percepção internacional da infraestrutura da COP em Belém.

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