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Economia

Renda cresce 70% em 30 anos com queda na pobreza e desigualdade

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A pobreza e a desigualdade no Brasil têm apresentado uma redução significativa ao longo dos últimos 30 anos. Durante esse período, a renda média das famílias aumentou em aproximadamente 70%, o índice de Gini — que representa a desigualdade de renda — diminuiu quase 18%, e a taxa de pobreza extrema caiu de 25% para menos de 5%, atingindo o menor patamar já registrado na História.

Esses avanços são resultado do fortalecimento do mercado de trabalho e da ampliação dos programas de transferência de renda, conforme estudo divulgado pelo Ipea.

O levantamento, intitulado “Pobreza e desigualdade no Brasil no curto e no longo prazo”, analisou a evolução da distribuição de renda no país entre 1995 e 2024, com dados do IBGE. Apesar dos progressos, os pesquisadores apontam a necessidade de novas estratégias para eliminar a concentração de renda, ainda presente no país.

A pesquisa mostra que a melhoria na renda e a redução da pobreza e desigualdade não ocorreram de forma constante. Houve períodos de estabilidade, recessão e recuperação que afetaram esses indicadores, especialmente nos intervalos entre 2003-2014 e 2021-2024.

De 1995 a 2003, a renda permaneceu quase estável, mas entre 2003 e 2014 houve 11 anos consecutivos de aumento real no rendimento domiciliar per capita, acumulando alta de 58%. A recessão iniciada em 2015 e a pandemia de Covid-19 provocaram queda na renda, até que em 2021 ocorreu o menor valor em uma década.

Contudo, entre 2021 e 2024, o poder de compra médio da população teve um aumento de 25%, alcançando o maior valor da História: R$ 2.015 por pessoa.

O coeficiente de Gini, que mede a desigualdade (0 significa total igualdade e 100 concentração total da renda em poucas mãos), também seguiu essa trajetória, com períodos de estagnação, queda e nova recuperação desde 2021, atingindo os menores níveis já registrados.

Esses avanços se refletiram na redução da pobreza extrema, que em 2024 atingiu seu nível mais baixo.

Para o estudo, pobreza extrema é definida como viver com até US$ 3 por dia (aproximadamente R$ 267 mensais) e pobreza é viver com até US$ 8,30 por dia (cerca de R$ 738 mensais), segundo parâmetros do Banco Mundial.

No início dos anos 1990, cerca de 25% da população vivia em extrema pobreza e mais de 60% eram pobres. Em 2024, esses índices caíram para 4,8% e 26,8%, respectivamente.

Mesmo assim, o estudo ressalta limitações das pesquisas domiciliares, que subestimam tanto os benefícios assistenciais como os rendimentos dos mais ricos.

Efeitos dos programas sociais e do mercado de trabalho

O estudo do Ipea destaca que o crescimento da renda e a queda da pobreza e desigualdade foram impulsionados especialmente pela ampliação dos programas de transferência de renda durante e após a pandemia, além da recuperação do mercado de trabalho desde 2023.

Entre 2019 e 2024, os pagamentos do Bolsa Família e do Benefício de Prestação Continuada (BPC) cresceram 135% em termos reais, elevando o gasto total desses programas de 1,2% para 2,3% do PIB. Somente o Auxílio Emergencial, durante a pandemia, superou esse valor excepcionalmente em 2020.

Esse reforço financeiro contribuiu para a maior queda na desigualdade e na pobreza extrema desde que começaram as séries históricas.

Marcos Hecksher, um dos autores do estudo, explica que, além do aumento do valor por família beneficiada, houve expansão da cobertura e acréscimo de benefícios voltados a crianças, especialmente após o Auxílio Emergencial e com o novo Bolsa Família, estabelecendo um patamar mais alto de transferência.

Essas transferências sociais praticamente duplicaram seu impacto no coeficiente de Gini desde a década passada, colaborando para que a desigualdade atingisse seu menor nível em 2024, assim como a pobreza extrema.

Além disso, a recuperação do mercado de trabalho teve papel fundamental: entre 2021 e 2024, quase metade da redução da desigualdade e da pobreza extrema é atribuída à evolução da renda do trabalho, enquanto as transferências assistenciais respondem por proporções semelhantes.

Novos desafios para reduzir as desigualdades

O estudo revela ainda que a redistribuição de renda, por meio do crescimento mais acelerado dos salários dos mais pobres e das políticas sociais com maior abrangência e foco, colaborou para os avanços no combate à pobreza.

Hecksher destaca que, com a desaceleração da expansão dos gastos sociais e o desemprego em níveis historicamente baixos, é necessário buscar novas estratégias para reduzir as desigualdades, pois os meios atuais chegam a um limite.

Segundo ele, a continuidade da melhora depende do aumento da renda do trabalho sustentado pelo crescimento da produtividade, para evitar retrocessos.

Tributação e política monetária como instrumentos

Hecksher também acredita que a reforma no Imposto de Renda, que poderá entrar em vigor em breve, poderá ajudar a diminuir as desigualdades no curto prazo, ao aumentar a tributação dos mais ricos, medida ainda não utilizada nas reduções anteriores.

Além disso, ele aponta que a possível redução da taxa básica de juros, a Selic, hoje muito alta no Brasil, pode contribuir tanto para reduzir a desigualdade quanto para estimular o crescimento econômico, fatores que colaboram para a diminuição da pobreza.

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