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Economia

Correios adiam negociação salarial devido a falta de dinheiro

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A direção dos Correios estendeu até 15 de dezembro o acordo coletivo de trabalho (ACT) firmado com as federações e o sindicato dos trabalhadores. Na próxima terça-feira, a empresa apresentará uma nova proposta aos representantes sindicais.

A negociação ocorre enquanto a estatal trabalha na elaboração de um plano financeiro para recuperação, que inclui medidas de redução de custos, principalmente com pessoal, além da tentativa de obtenção de um empréstimo bancário de R$ 20 bilhões, com o aval da União.

“Nesta reunião, os Correios irão apresentar propostas claras sobre cláusulas econômicas, benefícios e pontos cruciais da operação, como entrega domiciliar e ajuste da carga de trabalho”, informa comunicado da empresa.

O acordo vigente venceu em julho e vem sendo prorrogado desde então. Esperava-se que o processo de negociação terminasse em setembro, mas a troca na liderança da estatal e os problemas financeiros impediram avanços.

Além do reajuste salarial para compensar a inflação, o acordo inclui aumento no vale-alimentação e na gratificação de férias, que será de 70%. Ao todo, são cerca de 70 cláusulas sociais e econômicas.

“A situação financeira da empresa exige precaução e decisões que assegurem a continuidade dos serviços”, alerta a nota, ressaltando que uma greve prejudicaria a todos: “Uma paralisação neste momento poderia piorar a situação e causar impactos para a empresa, os trabalhadores e a população”.

Os sindicatos ameaçam paralisação caso as negociações não avancem. O presidente da estatal, Emmanoel Rondon, tem evitado revelar detalhes do plano de reestruturação, que prevê medidas impopulares, para não aumentar a tensão.

Segundo fontes, Rondon está concentrado em garantir o empréstimo, mantendo diálogo com os representantes dos trabalhadores. Ele defende fortalecer a estrutura dos Correios, mas revisando alguns benefícios.

O balanço da estatal evidencia o peso elevado dos custos com pessoal nas despesas, destaca o especialista Daniel Pecanka. O resultado do terceiro trimestre mostra alta de 6,9% nos gastos com pessoal em 2025 até setembro, comparado ao mesmo período do ano anterior, um aumento de R$ 529 milhões, totalizando R$ 8,3 bilhões. Outro aumento significativo foi o de precatórios, que cresceu 337%, somando R$ 2,1 bilhões.

Pecanka também chama atenção aos atrasos nos pagamentos a fornecedores, salários, encargos, impostos e ao convênio Postal Saúde, que acumulam R$ 3,2 bilhões. O especialista em estatais afirma que o perfil da dívida da empresa é preocupante. O último empréstimo, no valor de R$ 1,8 bilhão, obtido junto ao Citibank, ABC Brasil e BTG Pactual, tem uma taxa de juros efetiva estimada em 25,67% ao ano.

“Os empréstimos são todos de curto prazo – dois vencem ainda este ano, e o mais longo vence em novembro de 2026. Além disso, segundo dados dos próprios Correios, o maior empréstimo também apresenta taxa de juros alta.”

Ele ressalta que a situação financeira se agrava a cada trimestre e que a reestruturação também gera custos, por exemplo, para viabilizar o Programa de Demissão Voluntária (PDV).

“Na minha opinião, a ideia de dividir o empréstimo seria mais adequada do que captar R$ 20 bilhões de uma só vez. Não há espaço suficiente no balanço para tanta dívida, e os juros vão pressionar a empresa, além de reduzir a pressão sobre a gestão, pois o caixa ficaria confortável. A tendência é não ajustar o necessário e depois precisar de mais recursos.”

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