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Águas contaminadas da mineração afetam comunidades na RDC
Hélène Mvubu carrega sua filha, cujo corpo está coberto de feridas, por um campo repleto de lixo, relatando ser uma das muitas afetadas pelos resíduos tóxicos que têm poluído a capital mineradora da República Democrática do Congo (RDC).
A RDC está sob o interesse de grandes nações como China e Estados Unidos, que buscam os minerais estratégicos extraídos no país, que fornece mais de 70% do cobalto mundial, elemento essencial para a fabricação de baterias elétricas e equipamentos militares.
No entanto, organizações de direitos humanos têm alertado para os sérios impactos ambientais causados pelas atividades de mineração no país africano.
Hélène Mvubu relata que os moradores enfrentam há muito tempo os efeitos das águas contaminadas despejadas pela empresa chinesa Congo Dongfang International Mining (CDM), que processa minério de cobre e cobalto na província de Katanga, no sudeste da RDC.
“A comida que preparamos tem gosto amargo, nossas fontes de água estão poluídas”, diz a agricultora enquanto caminha por sua propriedade, onde as plantas de cana-de-açúcar ficaram amareladas.
A terra de Hélène fica exatamente no ponto onde a água contaminada sai da usina da CDM, situada no alto de uma colina, cercada por um grande muro e com segurança reforçada.
A extensão do problema ainda não foi completamente determinada. Contudo, após chuvas, é visível a água avermelhada saindo pelos quatro canais de drenagem da instalação.
Moradores locais e organizações da sociedade civil ouvidas pela AFP acusam a CDM de se aproveitar das chuvas para despejar resíduos da mineração.
Em novembro, milhares de metros cúbicos de água vermelha foram liberados em dois dias, mesmo sem ocorrência de chuvas.
Essa situação resultou na suspensão das operações da companhia naquela região pelas autoridades congolesas, que também instauraram uma comissão investigativa — algo incomum em um país onde mineradoras frequentemente operam com impunidade e até conivência das autoridades locais.
Joseph Kongolo, integrante da comissão e coordenador da Comissão Nacional de Direitos Humanos na província, comentou que a empresa aparentemente confundiu o clima e abriu as válvulas antes da chuva, tentando ocultar a situação.
A CDM afirmou que o incidente de novembro aconteceu devido ao rompimento acidental de um reservatório de contenção. Entretanto, membros da comissão indicam que a contaminação tem ocorrido por muitos anos.
Embora não haja estudos publicados sobre a toxicidade da água descartada, vários moradores relataram à AFP os impactos negativos em sua saúde.
Martiny, vendedora de frutas e vegetais na feira local, exibiu as mãos e os pés danificados, atribuindo os efeitos à água ‘ácida’.
Para tentar amenizar a situação, a CDM distribuiu máscaras e garrafas de água potável na comunidade e ajudou nos reparos das estradas afetadas pelo escoamento das águas.
“Isso é apenas para manter as aparências”, disse um líder local que preferiu manter o anonimato.
Segundo ele, a empresa teria subornado autoridades para que convencem a população de que o derramamento foi acidental, não intencional.
Um representante da CDM negou qualquer negligência, afirmando que o processamento dos materiais ocorre no local e que não poderia ter havido contaminação antes do incidente de novembro.


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