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Honduras reinicia contagem de votos em meio à influência de Trump
O Conselho Nacional Eleitoral de Honduras (CNE) retomou, nesta segunda-feira (8), a contagem manual de votos da eleição presidencial do país após três dias de suspensão do processo, em meio à interferência do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Trump tem apoiado explicitamente o candidato que lidera a disputa presidencial por uma margem estreita de apenas 19 mil votos.
“Após realizarmos as ações técnicas necessárias e sob auditoria externa, os dados estão sendo atualizados na divulgação dos resultados”, declarou a presidente do CNE, Ana Paula Hall.
Após a suspensão temporária da contagem de votos, Trump sugeriu, sem apresentar provas, que o órgão eleitoral de Honduras estaria tentando alterar os resultados, e ameaçou em uma rede social que “se conseguirem [alterar o resultado], haverá consequências graves”.
O partido governista Libre, da presidente Xiomara Castro, de esquerda, solicitou a anulação completa do pleito realizado em 30 de novembro, culpando a influência de Trump na eleição.
“Reprovamos a interferência e coação do presidente dos EUA, Donald Trump, nas eleições hondurenhas. Condenamos também o indulto concedido ao narcotraficante Juan Orlando Hernández pelo presidente Trump durante o período eleitoral”, afirmou o partido em comunicado.
Durante a campanha, o presidente Donald Trump indultou o ex-presidente Juan Orlando Hernández, que foi condenado em Nova York a 45 anos de prisão por narcotráfico, acusado de facilitar o transporte de grandes quantidades de cocaína para os Estados Unidos.
Hernández é membro do Partido Nacional, a mesma legenda do candidato apoiado por Trump, Nasry Tito Asfura. Com 67 anos, Asfura é ex-prefeito da capital, Tegucigalpa. O Partido Nacional já elegeu 13 presidentes no país centro-americano.
O partido Libre acusa Trump e a chamada “oligarquia aliada” de enviar milhões de mensagens nas redes sociais para os hondurenhos, ameaçando que aqueles que não votassem no candidato apoiado pelos EUA não receberiam as remessas enviadas pelos trabalhadores hondurenhos residentes nos EUA.
A contagem dos votos em Honduras é realizada manualmente com cédulas de papel. Com aproximadamente 88% das urnas apuradas, o CNE aponta 40,2% dos votos para o candidato apoiado por Trump, Nasry Tito Asfura.
Em segundo lugar está o candidato de centro-direita, Salvador Nasralla, do Partido Liberal, com 39,51% dos votos, a uma diferença de cerca de 19 mil votos do primeiro colocado. Em terceiro lugar aparece a candidata do partido Libre, Rixi Moncada, com 19,28% dos votos, considerada alinhada à esquerda.
Não existe segundo turno em Honduras; vence quem obtiver mais votos na única rodada da votação.
Contexto e análise
Segundo o professor de relações internacionais da Universidade Católica de Brasília, Gustavo Menon, a interferência de Trump nas eleições hondurenhas demonstra a estratégia dos EUA de se reposicionar na América Latina para frear a influência crescente da China na região.
“Os Estados Unidos consideram esta região como seu território tradicional de influência. A postura adotada por Trump busca conter a expansão chinesa na América Central e, além disso, garantir um alinhamento dos candidatos eleitos com sua política externa e valores conservadores, fundamentais para a agenda da Casa Branca”, explicou o professor.
Menon acrescentou que o candidato Asfura, apoiado por Trump, possui uma plataforma política mais alinhada com a atual administração norte-americana, especialmente nas questões de imigração.
“A ala mais radical do Partido Republicano nos EUA mantém sintonia com o Partido Nacional de Honduras, ao passo que o Partido Liberal, representado por Nasralla, apresenta propostas mais liberais que podem convergir com interesses chineses”, concluiu.


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