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Acusações de fraude e influência de Trump marcam eleições em Honduras
As eleições presidenciais em Honduras foram marcadas por sérias alegações de fraude, enquanto a contagem de votos, tumultuada, está perto de ser concluída, com o candidato conservador Nasry Asfura, apoiado pelo presidente americano Donald Trump, apresentando uma pequena vantagem.
A presidente hondurenha, Xiomara Castro, juntou-se às denúncias de manipulação feitas pelo candidato de direita Salvador Nasralla — que ficou ligeiramente atrás de Asfura por pouco mais de um ponto percentual — e também pela candidata de esquerda Rixi Moncada, que está em terceiro lugar, com uma distância considerável.
“Estamos vivenciando um processo cercado de ameaças, coerção, manipulação do sistema de resultados preliminares (Trep) e adulteração da vontade do povo”, declarou Xiomara em seu primeiro pronunciamento após a votação em 30 de novembro.
Nasralla, do Partido Liberal (PL) e ex-aliado da presidente, acusou ontem um “roubo” em benefício de Asfura, do Partido Nacional (PN), que afirmou que só se manifestará quando um vencedor for oficialmente declarado.
As suspeitas de fraude ganharam força devido a repetidas falhas tecnológicas que afetaram a apuração e divulgação dos resultados, gerenciadas pela empresa colombiana ASD. Além disso, existe a politização do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), composto por representantes dos três principais partidos.
Com 99,4% das atas contabilizadas, Asfura tinha 40,52% dos votos contra 39,20% de Nasralla. Após a apuração, o CNE revisará 2.773 atas apontadas como inconsistentes.
“Essas também serão manipuladas”, acusou Nasralla, que busca a Presidência pela terceira vez e descartou protestos nas ruas neste momento.
O CNE tem até o dia 30 para anunciar o vencedor, mas o partido governista Livre já solicitou a anulação do pleito.
EUA negam fraude
Xiomara também condenou o que chamou de “interferência” de Trump, que, segundo ela, “ameaçou o povo hondurenho” caso apoiasse sua candidatura, descrita pelo americano como “comunista”.
Nos últimos dias da campanha, Trump manifestou apoio a Asfura e concedeu perdão ao ex-presidente hondurenho Juan Orlando Hernández (2014-2022), que cumpria pena de 45 anos nos EUA por tráfico de drogas. Hernández pertence ao mesmo partido de Asfura, que procurou se distanciar dele.
O governo dos EUA afirmou que não existem “provas confiáveis” para anular a eleição, conforme declarou um porta-voz do Departamento de Estado à AFP.
Com a intenção de fortalecer uma coligação conservadora na América Latina, Trump chamou Nasralla de “quase comunista”, ainda que o comunicador declare admiração pelos presidentes de El Salvador e Argentina, ambos aliados do líder americano.
Narcotráfico
Diante da indefinição sobre o sucessor de Xiomara Castro, o procurador-geral Johel Zelaya pediu à Interpol a execução de um mandado de prisão contra o ex-presidente Hernández, emitido em 2023 por lavagem de dinheiro e fraude.
O advogado de Hernández, Renato Stabile, rejeitou o pedido do procurador e qualificou a ação como uma “tentativa desesperada e vergonhosa” da esquerda de se manter no poder, declarou à AFP nos EUA.
Hernández não planeja retornar a Honduras no momento, por temer pela própria segurança, segundo sua esposa, Ana García.
Para Xiomara Castro, a postura dos EUA durante a eleição evidencia que “os conservadores de Washington decidiram se aliar ao narcotráfico, ao crime organizado e a grupos criminosos”, que agiram sem punição durante os governos do Partido Nacional.


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