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Lira ganha destaque enquanto Motta enfrenta dificuldades no plenário

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Sem conseguir superar o clima tenso dos últimos dias na Câmara, o presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), tem enfrentado críticas devido aos conflitos em plenário e sofre com a falta de coordenação nas atividades.

Na terça-feira (9), enquanto Hugo Motta era pressionado inclusive por aliados, seu predecessor, o deputado Arthur Lira (PP-AL), foi valorizado e consultado por governistas em busca de direcionamento para a pauta.

Após um dia marcado por tensões, a reportagem do GLOBO acompanhou o momento em que Arthur Lira adentrou o plenário no começo da noite, atraindo imediatamente a atenção de deputados que o trataram como se ainda liderasse a Mesa Diretora.

Ao atravessar o corredor central, ele foi cercado por três parlamentares do baixo clero que o cumprimentaram como “o presidente que traria ordem à Câmara”.

A presença de Arthur Lira, pouco comum desde que deixou o cargo, ocorreu enquanto Hugo Motta enfrentava acusações de abuso de autoridade após a retirada forçada de Glauber Braga (PSOL-RJ), com parlamentares de esquerda questionando a legitimidade de sua permanência ao comando da Casa.

Aliados próximos a Hugo Motta admitem que o episódio envolvendo Glauber Braga—que incluiu a interrupção da transmissão da TV Câmara e a expulsão da imprensa da galeria—gerou um impacto negativo imediato à imagem do presidente e levantou dúvidas sobre sua habilidade para conduzir a sessão.

Governistas como José Guimarães (PT-CE) e Alencar Santana (PT-SP) dedicaram o início da noite a tentar localizar Arthur Lira pelos corredores para que ele interviesse, persuadindo Hugo Motta a adiar a votação do projeto da dosimetria.

A articulação envolveu telefonemas, recados e até tentativas de interceptação entre o plenário e as salas de liderança. Arthur Lira ouviu as demandas sem se comprometer — um comportamento habitual entre deputados: raramente aceita explicitamente a responsabilidade por segurar ou liberar pautas; no entanto, seu ato de escutar já é interpretado como uma ação política.

As comparações foram frequentes durante a noite. Deputados expressaram desapontamento com Hugo Motta, ressaltando que Arthur Lira, apesar da complexidade da pauta, sempre comunicava com antecedência.

Entre governistas, acreditava-se que Hugo Motta, pressionado por bolsonaristas para avançar com a dosimetria, estava menos aberto ao diálogo.

O significado simbólico da noite aumentou quando Hugo Motta saiu da Mesa Diretora para falar com José Guimarães. Testemunhas afirmaram que isso ocorreu após o pedido de interlocução a Arthur Lira, reforçando a ideia de que o ex-presidente da Câmara ainda exerce influência sobre o atual gestor.

A sessão não foi adiada; o projeto da dosimetria foi aprovado, assim como o do devedor contumaz, prioridade do governo, que acompanhou os desdobramentos com apreensão.

A influência de Arthur Lira no desenrolar do plenário não é recente. Ele já teve papel decisivo na negociação que viabilizou a votação do Imposto de Renda e foi acionado durante o episódio em que bolsonaristas ocuparam a Mesa Diretora, quando a oposição tentou negociar com ele a votação da anistia e da PEC da Blindagem, antes de desistir.

Deputados próximos a Arthur Lira dizem que, mesmo depois de deixar o cargo, ele manteve uma rede de influência baseada na fidelidade de quadros médios, interlocução constante com líderes e trânsito tranquilo entre governo e oposição — uma estrutura política que Hugo Motta ainda não consolidou.

Há cerca de duas semanas, quando a crise entre Legislativo e Executivo se agravou, Arthur Lira participou da cerimônia de sanção do IR no Palácio do Planalto, enquanto Hugo Motta e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), estiveram ausentes.

Nesse evento, Arthur Lira recebeu elogios do governo e foi elevado à posição de interlocutor no Congresso por aliados do Planalto.

Na terça-feira, esse papel quase informal de mediador voltou a se destacar. Deputados se aglomeravam ao redor de Arthur Lira para solicitar sua opinião sobre a dosimetria e até conselhos eleitorais. Por exemplo, Nikolas Ferreira quis saber o que o ex-presidente achava sobre uma possível candidatura sua ao Senado em 2030.

Por volta das 23h30, antes da votação da dosimetria, Arthur Lira deixou o plenário de forma discreta.

A aprovação da dosimetria na madrugada marcou um revés duplo: para o governo, que não conseguiu adiar a votação, e para Hugo Motta, que terminou o dia mais fragilizado do que começou.

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