Economia
Como o bloqueio dos EUA afeta o petróleo da Venezuela?
O bloqueio imposto pelos Estados Unidos a navios petroleiros que entram ou saem da Venezuela pode causar uma redução de até 50% nas exportações, segundo especialistas.
O presidente americano decretou um “bloqueio total e completo” contra os navios sancionados, intensificando sua pressão sobre o governo do esquerdista Nicolás Maduro, que não é reconhecido pelo republicano Donald Trump.
Trump mobilizou navios, aviões e tropas no Caribe, alegando ser uma ação contra o narcotráfico, enquanto Maduro afirma que o objetivo é forçá-lo a deixar o poder.
O presidente americano acusou Maduro de usar o petróleo para financiar atividades criminosas como narcoterrorismo, assassinato, sequestro e tráfico de pessoas. Por sua vez, Caracas vê o bloqueio naval como uma tentativa de roubar as riquezas do país.
Francisco Monaldi, economista do Instituto Baker no Texas, comenta que esta medida é inédita na Venezuela e cria um cenário nunca antes visto no mercado petrolífero.
Após o anúncio, os preços do petróleo subiram. Em novembro, o barril do petróleo venezuelano foi negociado a US$ 47,51, o valor mais baixo em quase dois anos, segundo a Opep.
O petróleo venezuelano já estava sob embargo desde 2019, quando Trump iniciou seu primeiro mandato. Desde então, o governo Maduro teve que vender petróleo no mercado paralelo com grandes descontos. A administração do democrata Joe Biden permitiu exceções para que grandes empresas petrolíferas operem na Venezuela sob condições especiais.
Dos quase 1.400 navios sob sanções americanas globalmente, cerca de 600 são petroleiros e podem ser impactados pelo bloqueio. Desses, 23 estão incluídos em programas de sanções específicos contra a Venezuela, sancionados por Trump e Biden.
Navios não sancionados ainda podem transportar petróleo venezuelano, mas o medo de apreensão eleva os descontos praticados no preço do barril, que já giravam em torno de 35% antes da ordem de Trump.
A estatal Petróleos de Venezuela (PDVSA) declarou que as exportações continuam normalmente, com os navios navegando com segurança e suporte técnico.
No dia 10, militares americanos apreenderam um navio transportando petróleo venezuelano. A embarcação utilizava bandeira falsa, prática comum em operações no mercado paralelo.
A Venezuela produz cerca de 1 milhão de barris diários, destinados principalmente à exportação. Segundo Monaldi, as exportações podem ser reduzidas pela metade, dependendo da frequência das apreensões. Essa queda será profunda.
Até o momento, a PDVSA não conseguiu abastecer navios após a apreensão recente, o que pode gerar um problema grave, já que o país tem capacidade de armazenamento para apenas 15 dias de produção.
Estocar petróleo é caro, e a provável solução será interrumpir ou reduzir a produção, estimada em queda de cerca de 400 mil barris diários.
Produção está no seu nível mais baixo após anos de sanções, corrupção e falta de investimento, e afeta fortemente a economia do país, que depende do petróleo.
A ordem de Trump não afetou as remessas da Chevron para os Estados Unidos. A licença concedida à Chevron em julho permite que ela fique com metade da produção de joint-ventures com a PDVSA, de acordo com o pesquisador de energia Oswaldo Felizzola. A consultoria Capital Economics, no entanto, menciona muita incerteza.
O maior impacto recai sobre a China, que recebe 80% do petróleo venezuelano transportado por esses navios. A redução das remessas para a Ásia ameaça receita anual de aproximadamente US$ 8,5 bilhões (R$ 47 bilhões), segundo economista Asdrúbal Oliveros.
Felizzola acredita que o efeito será temporário, pois a China possui alternativas para enviar seus próprios navios para buscar o petróleo.


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