China busca liderança em IA e revisa uso de contraceptivos para alcançar metas

A China inicia em 2026 a implementação de seu novo plano quinquenal de desenvolvimento econômico e social, focando em frear a recente desaceleração econômica.

Pekin enfrenta o desafio de administrar a pressão internacional decorrente de seu forte setor exportador, sem prejudicar seu desempenho no mercado global.

O país pretende sustentar seu crescimento principalmente em dois pilares: o fragilizado mercado imobiliário e o crescimento do setor tecnológico. O objetivo central é alcançar independência em áreas estratégicas e desafiar a supremacia dos Estados Unidos.

Para estimular a economia, o governo aposta em promover o consumo interno, adotando até medidas tradicionais, como a taxação de contraceptivos com o intuito de incentivar o aumento da taxa de natalidade.

Luciano Sobral, economista-chefe da Neo Investimentos, destaca: “Em 2026, começa um novo plano quinquenal, que, como sempre, é ambicioso. Na prática, o foco continuará em indústrias exportadoras cada vez mais sofisticadas.”

Segundo Sobral, a China busca competir em setores atualmente dominados por nações desenvolvidas, promovendo inovações na interface entre academia e indústria, seguindo exemplos bem-sucedidos do desenvolvimento no leste asiático, porém em escala maior.

O otimismo dos investidores se reflete no desempenho das ações de empresas tecnológicas chinesas, como a startup de chips MetaX, que valorizou quase 700% em dezembro durante sua oferta pública inicial (IPO), que arrecadou aproximadamente 4,20 bilhões de yuans (US$ 596,4 milhões).

A Moore Threads, focada em processadores gráficos para treinamento de IA, também teve sucesso no IPO, embora tenha aconselhado investidores a manterem a cautela diante do entusiasmo do mercado, levantando questionamentos sobre uma possível bolha no setor.

De acordo com a Capital Economics, os gastos públicos devem aumentar no início de 2026, com maior emissão de títulos pelo governo central, ajudando a conter a desaceleração recente. Entretanto, o crescimento para o ano deverá ser ligeiramente inferior ao de 2025.

Espera-se um aumento significativo nos investimentos relacionados à inteligência artificial, enquanto as exportações deverão contribuir menos para o crescimento.

Helen Qiao, economista-chefe para a China e diretora de Economia Asiática do Bank of America, revisou para cima a previsão de crescimento do PIB chinês, estimando 4,7% para 2026 e 4,5% para 2027, citando sinais positivos nas negociações comerciais e estímulos econômicos.

Igor Barenboim, economista-chefe da Reach Capital, aponta uma desaceleração gradual e controlada do PIB, com projeções entre 4,0% e 4,6%, abaixo da meta informal de 5% do governo, que visa combater a deflação. Ele prevê um crescimento próximo a 4%.

O mercado imobiliário permanece um ponto sensível para a economia. A recente Conferência Central de Trabalho Econômico indica que o suporte governamental adicional será limitado.

O caso da incorporadora China Vanke ilustra os desafios enfrentados, mesmo com o apoio de sua principal acionista, a SZMC, que investiu cerca de 29 bilhões de yuans (US$ 4,2 bilhões) em 2025 para ajudar no pagamento de dívidas, mas a empresa ainda enfrenta dificuldades.

Especialistas afirmam que, embora não se trate de uma crise financeira severa, os problemas da Vanke mostram que o setor imobiliário chinês enfrenta sérios desafios, o que dificulta o alcance das metas de crescimento econômico. A empresa possui uma dívida de cerca de 50 bilhões de dólares.

Diante das dificuldades no setor imobiliário, a China busca soluções tradicionais para garantir o crescimento, inclusive medidas demográficas. A partir de 1º de janeiro, será cobrado Imposto sobre Valor Agregado (IVA) sobre medicamentos e produtos contraceptivos pela primeira vez em mais de 30 anos.

Essa medida visa estimular as famílias a terem mais filhos, após décadas de restrições populacionais, buscando equilibrar a demografia, já que o número de mortes ultrapassou o de nascimentos no país.