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Dentistas na Síria, amigos planejam vender salgados para viver no Brasil

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‘Quero falar a meus filhos que eles são brasileiros, não sírios’, diz um deles. Itapetininga (SP) foi escolhida por semelhanças com cidades onde moravam.

Os amigos dentistas Hussam Ariam e Hussam Saib, refugiados sírios que vieram com as esposas ao Brasil neste ano, pretendem viver da venda de salgados árabes como esfihas e quibes a partir de 2016 em Itapetininga (SP). Eles aguardam a data em que se completa um ano da chegada do primeiro deles para abrir uma empresa e começarem a venda formalizada. Por enquanto, vivem do dinheiro que trouxeram da Síria. “Eu quero falar para os meus filhos que eles são brasileiros, não sírios. Não árabes também”, diz Hussam Ariam.

Saib (esq.) e Ariam (dir.) deixaram vida de dentista para venderem salgados (Foto: Reprodução/ TV TEM)

Saib (esq.) e Ariam (dir.) deixaram vida de dentista para vender salgados (Foto: Reprodução/ TV TEM)

Ariam tem dois meninos: um de 1 ano e 7 meses que nasceu na Síria e outro de 2 meses que nasceu no Brasil. Já Saib teve uma criança que morreu aos 2 anos de vida. Apesar da tristeza sofrida no país, Saib garante que quer continuar a viver na cidade. “Eu sei que muitos sírios vieram para o Brasil há cem anos. E, você sabe, agora, tem internet no celular e no computador. Então eu comecei a procurar sobre o Brasil se era bom, ou não, então decidi viver no Brasil”, fala.

Aliás, foi por meio da internet que a dupla de amigos escolheu por Itapetininga, cidade que fica a aproximadamente 180 quilômetros de São Paulo (SP) e com 155 mil habitantes, segundo estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A cidade do interior, da cultura ‘caipira’ e pacata, foi o destino pelas semelhanças com o número da população do local onde viviam antes da guerra, as cidades de Sweida e Idlib. Mesmo sem conflitos nos locais era perigoso ficar, dizem.

  • Cidade de Sweida, na Síria

“Eu vim para o Brasil porque aqui respeita-se os direitos humanos, também não tem problemas com países árabes, é calmo também e não é difícil viver. Quando nós falamos português não é difícil”, conta Ariam.

Descendente acolheu refugiados
O aposentado Miguel Adas, descendente de libanês que vive em Itapetininga, estava em um restaurante de comida árabe quando ouviu os dois amigos conversando em árabe há meses. A “intromissão” na conversa foi responsável pela amizade das famílias e a ligação entre Itapetininga e os refugiados.

“Comecei a saber da vida deles aqui e fiquei um ‘amigão’. Por serem sírios e meu pai libanês criei um carinho a mais. Eles me chamam de ‘tio’, são como filhos também. Ajudei eles com a documentação e também com o português, já que falo um pouco de árabe e inglês e vou ensinando eles a falar nossa língua”, conta.

Por coincidência, os refugiados alugaram uma casa vizinha a de Adas. A proximidade contribui para que cada vez mais um aprenda com o outro. Todo o empenho de Miguel faz com que Saib não se esforce para falar claramente: “Todo dia, se eu falar todo o dia muito obrigado para ele vai ser muito pouco”, exclama.

A guerra na Síria
A guerra na Síria é um dos piores conflitos armados desde a Segunda Guerra Mundial. Começou em 2011, com um levante contra o regime do ditador Bashar Al-Assad. Pacífico no início, mas depois de repressões, os manifestantes começaram a recorrer à luta armada. Segundo a Organização das Nações Unidas, 4 milhões de sírios se deslocarem para outros países. Em dois anos, só no Brasil, foram emitidos quase 8 mil vistos a sírios.

Os amigos têm o aposentado Miguel (dir.) como um 'tio' (Foto: Reprodução/ TV TEM)

Os amigos têm o aposentado Miguel (dir.) como um ‘tio’ pela ajuda oferecida (Foto: Reprodução/ TV TEM)

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