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Applebee’s fecha as portas e shopping de Sorocaba fica sem lojas

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Fechamento de franquia encerra ciclo de esvaziamento do Villàggio. Shopping chegou a ser chamado de ‘fantasma’ por jornais internacionais.

“O último que sair apague a luz”. Coube ao restaurante Applebee’s cumprir o dito popular no shopping Villàggio, em Sorocaba (SP). O restaurante – que era a única loja ainda em funcionamento no local – encerrou suas atividades nesta quarta-feira (30), marcando o esvaziamento completo do centro de compras.

Applebee's fecha as portas e shopping de Sorocaba fica sem lojas (Foto: Jomar Bellini / G1)

Applebee´s fechou as portas em Sorocaba (Foto: Jomar Bellini / G1)

Funcionários lamentaram o fim das atividades do restaurante, que funcionou em horário “regular” até o dia 24 de dezembro.

Nos últimos dias do mês a loja funcionou poucas horas, chegando a fechar inclusive no domingo (27), além do feriado de Natal (25) e véspera de Ano Novo (31), algo inédito no período em que a franquia operou na cidade.

Segundo especulações de funcionários ouvidos pela reportagem, a expectativa é de que uma nova unidade seja aberta na cidade dentro de um ano, mas o local ainda é incerto. A assessoria de imprensa do Applebee´s não quis comentar o fechamento da franquia, afirmando apenas que iria se posicionar sobre o assunto em janeiro.

A unidade ocupava lugar de destaque na rede. Em uma das notas emitidas à imprensa em 2015, o Applebee´s afirmou que a loja de Sorocaba tinha o maior percentual de participação de vendas de bar do estado de São Paulo, ficando 30% à frente das unidades da capital.

Shopping de Sorocaba é o único a operar sem nenhuma loja aberta (Foto: Jomar Bellini / G1)

Shopping de Sorocaba não tem mais nenhuma loja (Foto: Jomar Bellini / G1)

O fechamento da franquia norte-americana encerra o ciclo de esvaziamento do Villàggio, que em cinco anos passou de centro de compras mais requintado da cidade para um “shopping fantasma”, título dado inclusive por jornais internacionais, como o El País e The Wall Street Journal.

Segundo a Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce), não há registro em São Paulo de um caso de esvaziamento de shopping semelhante ao do Villàggio.

Construção do Shopping Villagio, em Sorocaba (Foto: Divulgação)

Construção do Shopping Villagio, em Sorocaba (Foto: Divulgação)

Inauguração
Localizado na frente da Praça Pio XII, no Jardim Santa Rosália, área nobre da cidade, o Villàggio ficou logo conhecido não só pela arquitetura em estilo neoclássico, com direito a um grande relógio na fachada, mas também por apresentar à cidade o conceito de “fashion mall”, voltado para a classe AB.

Com sua inauguração, em novembro de 2010, os moradores tiveram acesso a lojas inéditas na cidade, como Le Lis Blanc, Richards, Siberian e os restaurantes La Pasta Gialla, do badalado chef Sergio Arno e Applebee’s. A novidade do cinema com poltronas numeradas e sala 3D também chamou a atenção do público.

Além das 98 lojas distribuídas em três pavimentos, o shopping também contava com um centro médico com vários consultórios e três andares de estacionamento coberto. Em abril de 2012 a Polícia Federal abriu um posto de atendimento dentro do centro de compras para emissão de passaportes, aumentando a oferta de serviços aos consumidores.

Esvaziamento
Apesar da proposta diferente, o Villàggio sempre foi mais conhecido por ser um “shopping vazio”. “Era um shopping pequeno, de fácil acesso para estacionar, boa alimentação e sempre atendia minhas necessidades em compras e com muita facilidade”, diz a terapeuta ocupacional Carolina Marsom, que chegava a frequentar o shopping até duas vezes por semana. “Além das compras, também fazia refeições, tomava café e ia ao cinema”, lembra.

Villagio foi inaugurado em novembro de 2010 (Foto: Viviane Leitte/Arquivo pessoal)

Villàgio foi inaugurado em novembro de 2010 (Foto: Viviane Leitte/Arquivo pessoal)

O quadro de crise e posterior esvaziamento do shopping começou a ficar evidente em dezembro do ano passado, quando lojistas acionaram a Vigilância Sanitária por conta da falta de ar condicionado no prédio, que teria sido cortado pela administração por questões de economia – o que o shopping negou na época.

Uma loja de chocolates chegou a pendurar um aviso na porta afirmando que as prateleiras estavam vazias por conta da falta de refrigeração do ambiente.

A partir deste episódio várias lojas passaram a deixar o local. Em janeiro a Polícia Federal desativou o posto de atendimento – por opção da administração do shopping, segundo a PF. No mês de junho o Villàggio voltou a ser assunto na região ao amanhecer de portas fechadas sem qualquer tipo de justificativa para os lojistas em um fim de semana. A ação irritou comerciantes e motivou até uma liminar da Justiça determinando a abertura imediata das portas principais do estabelecimento.

Nos meses seguintes o que se viu foi um fechamento em cadeia de lojas, restaurantes e do cinema. Somente os consultórios alocados no último andar do prédio continuam abertos.

Uma gerente de loja de roupas ouvida pela reportagem e que prefere não se identificar comenta que, antes do ínicio do esvaziamento do shopping, as vendas chegavam a ser maiores até do que em locais mais movimentados da cidade. “Aqui vendíamos em um dia o que demorávamos uma semana para conseguir na outra unidade do Campolim”, garante.

Shopping chegou a ser chamado de fantasma em publicação internacional (Foto: Reprodução / El Pais)

Shopping chegou a ser chamado de ‘fantasma’ em publicação internacional (Foto: Reprodução / El Pais)

Quem também saiu prejudicado com a queda no movimento e fechamento de lojas foram os taxistas que trabalham em um ponto de ônibus em frente ao centro de compras. O profissional Frederico Santos Júnior conta que o movimento teve uma grande queda logo após a saída, em março, de uma companhia aérea que tinha ponto de embarque e desembarque no local. “O forte mesmo era o shopping. Agora vai ficar só o movimento local do bairro”, diz.

‘Mudança estratégica’
Procurado pela reportagem do G1, o proprietário do Villàggio Shopping, o cardiologista Sérgio Rocco, foi enfático e direto ao afirmar que o fechamento das lojas se deu por conta de uma “mudança estratégica e comercial” do empreendimento. Rocco afirmou também desconhecer o encerramento das atividades do Applebee’s, último comércio a funcionar no local.

O site oficial do Villágio Shopping, que continuava no ar até a publicação desta reportagem, ainda apresenta como única loja o restaurante da rede americana.

Apesar das várias especulações sobre o futuro do Villàggio circularem pela cidade – inclusive a possibilidade de se tornar um centro médico, Rocco afirma que ainda não há definições sobre o assunto. “Estamos analisando isto estrategicamente e vamos falar sobre isto no momento considerado ideal”, finalizou.

Shopping de Sorocaba está sem lojas abertas (Foto: Ana Carolina Levorato / G1)

Shopping de Sorocaba não tem mais nenhuma loja aberta (Foto: Ana Carolina Levorato / G1)

Boom de shoppings
Além da crise econômica nacional, outro fator apontado por especialistas como determinante para o esvaziamento do Villàggio foi o boom de shoppings que Sorocaba teve em 2013, quando três centros de compra foram inaugurados em um curto período de tempo.

Segundo a Abrasce, Sorocaba ocupa o 61º lugar no ranking de shoppings por habitante no país. Com sete empreendimentos, a cidade é a terceira com mais shoppings por pessoa no Estado de São Paulo, atrás apenas da capital paulista e de Campinas.

“Estamos vendo lojas fechadas em praticamente todos os shoppings, já que a crise econômica pegou muita gente de surpresa, mas no Villàggio é diferente por já vir se arrastando há pelo menos dois anos. Além das brigas entre lojistas e a administração, uma série de coisas levou a isso. O boom de shoppings e a crise econômica foram só a ‘pá de cal’”, analisa o consultor empresarial Silvano de Barros Beserra.

O boom de shoppings e crise econômica foram a ‘pá de cal’ [para o fim das atividades no shopping]”
Silvano Beserra,  consultor empresarial

De acordo com o especialista, a possível falta de planejamento no projeto inicial do empreendimento somado a problemas administrativos levaram à queda da movimentação de pessoas no Villàggio.

“Tinha tudo para dar certo. São falhas e erro de planejamento. A ideia inicial acabou não acontecendo, então é evidente que houve erros de estratégia.”

Outro problema apontado pelo especialista é a forma como o empreendimento foi administrado. “Isso é bastante comum em shoppings onde se tem um único proprietário. Eles acabam pensando mais no aluguel e não nos lojistas. São poucos os que pensam assim e que é isso que vai fazer o negócio como um todo dar certo. A diferença é perceptível quando são investidores e uma empresa de administração”, afirma.

Para Beserra, o fechamento das lojas do shopping pode acabar afetando outros empreendimentos no bairro. “O Jardim Santa Rosália ficou valorizado depois da inauguração do shopping, incentivando o comércio ao redor. Todo mundo perde com o fechamento dele”, conclui.

Site do Villagio traz como única loja o restaurante Applebee's (Foto: Reprodução / Villaggioshopping.com.br)

Site do Villagio traz como única loja o restaurante Applebee’s (Foto: Reprodução / Villaggioshopping.com.br)

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