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Paraplégico pinta prédio sozinho e garante: ‘Ainda dá para fazer tudo’

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Deficiência causada por um tiro não o impediu de continuar trabalhando. Morador de Sorocaba (SP) encontrou na pintura força para seguir em frente.

O baiano Hernesto Lobeu de Costa ficou paraplégico depois de levar um tiro na décima vértebra da coluna enquanto trabalhava como taxista em São Paulo, em 1984. Após passar por um período de aceitação da sua condição física e, consequentemente, de depressão, ele se mudou paraSorocaba (SP).

Hernesto trabalha na pintura interna de prédio (Foto: Luiz Ferreira/G1)

Hernesto trabalha na pintura interna de prédio (Foto: Luiz Ferreira/G1)

Atualmente com 65 anos, Hernesto dá exemplo de superação ao trabalhar sozinho na pintura interna de um prédio de três andares que resolveu construir como investimento depois de receber uma herança de família. “Ainda dá pra fazer tudo, só basta querer”, frisa. (Veja vídeo acima).

Para desempenhar a função de pintor, o ex-taxista – que faz uso de uma cadeira de rodas para se locomover – teve que inventar um equipamento para lhe ajudar a pintar as paredes do prédio. “Eu fiz uma vara para poder pintar as paredes e com ela eu faço tudo. Consigo lixar e até passar massa”, garante. E para ir de um andar ao outro, Hernesto investiu em um elevador utilizado para carga. “Eu podia contratar alguém pra fazer esse trabalho, mas não quis. Afinal, encontrei na pintura uma forma de seguir em frente e não desanimar da vida; porque ela não acabou”.

Eu podia contratar alguém pra fazer esse serviço, mas não quis. Afinal, eu encontrei na pintura uma forma de seguir em frente e não desanimar da vida, porque ela não acabou”
Hernesto Lobeu de Costa

Além de lixar, passar massa e pintar as paredes de todos os cômodos dos apartamentos, o baiano não abriu mão de cuidar também dos corredores, escadas, corrimões e dá parte externa da garagem. Pra isso, ele contou com a ajuda da esposa, Maria José Ribeiro Costa, de 51 anos. “Ele usava  uma maca pra ficar em cima e se debruçava todo na beira da escada para limpar os vãos, as paredes e os corrimões. E pra evitar que ele caísse, a gente enrolou uma corda ao redor da cintura dele e eu ficava de longe segurando”, relembra a companheira do empresário.

Já para a pintura do lado de fora do prédio, Hernesto contratou um pintor, mas nem mesmo assim ele conseguiu ficar parado. “Virei ajudante do pedreiro que contratei. Enquanto ele ficava pendurado em um tipo de guindaste pra pintar as paredes do prédio, eu entregava através das janelas, massa, tinta e tudo o que ele precisava pra trabalhar”, conta. “A maioria das pessoas na mesma situação que eu só sabe reclamar, mas quero mostrar que Deus dá condições pra tudo e que a vida continua”.

A vontade de viver e trabalhar de Hernesto são tão grandes que, quase todo dia, Maria José precisa pedir para o marido parar de pintar e descansar um pouco. “Eu tenho que gritar pra ele parar, porque se deixar ele fica das 6h às 21h, trabalhando. Tem dia que ele até esquece de comer. Ele não consegue ficar parado, quer trabalhar o tempo todo”, conta.

Deficiência causada por um tiro não o impediu de continuar trabalhando (Foto: Luiz Ferreira/G1)

Deficiência causada por um tiro não o impediu de continuar trabalhando (Foto: Luiz Ferreira/G1)

Depressão após tiro
Apesar de servir de superação para muitas pessoas, Hernesto conta que nem sempre agiu de forma positiva diante da sua condição física. Logo depois de levar um tiro durante um assalto, ele foi transferido entre vários hospitais por quatro anos e teve problemas de saúde. “Eu fiquei tão acamado que não conseguia nem levantar. Para sentar, tinham que me puxar com uma corda. Eu entrei em depressão profunda”, relembra.

Sem vontade de viver e entregue ao seu estado de saúde, Hernesto encontrou em duas pessoas – que conheceu no hospital – o empurrão que precisava para voltar a ter gosto pela vida. Uma delas é a atual esposa, a Maria José, que na época de sua recuperação era enfermeira no hospital em que o baiano estava internado. “Foi amor à primeira vista, não sei explicar. Eu estava em outro relacionamento, mas terminei e resolvi ficar com ele. Meus pais não aceitaram, mas Deus falava pra mim que ia dar certo'”.

A outra pessoa que o ajudou a se reerguer foi um paciente que dividiu o quarto com ele durante a sua internação. “Essa pessoa me ensinou várias coisas sobre a vida. Ela me fez reagir, comprava livros para eu ler e tudo mais”, conta.

Mas estes não foram os únicos anjos na vida do baiano.Outra pessoa que conheceu no hospital foi responsável pela vinda dele a Sorocaba, onde constituiu família e até adotou uma menina com quatro meses de idade. Inicialmente, ele morou em um sítio que foi emprestado por essa pessoa, localizado em uma cidade vizinha, Porto Feliz (SP), isso até conseguir juntar dinheiro e, assim, alugar um local por conta própria.

O primeiro emprego de Hernesto paraplégico foi para conduzir um triciclo de publicidade – comprado com o dinheiro de uma rifa feita por amigos – pelas ruas da cidade. Maria José ajudava como podia fazendo faxina e trabalhando como manicure. Mas depois que Hernesto recebeu uma herança, decorrente da morte de seu pai, ele conseguiu investir nas construções de imóveis. Só que mesmo assim ele não parou de trabalhar, já que resolveu colocar a mão na massa, literalmente, durante a obra de uma casa e do prédio que tem atualmente.

Hernesto usa elevador para ajudar na pintura (Foto: Luiz Ferreira/G1)

Hernesto usa elevador para ajudar na pintura (Foto: Luiz Ferreira/G1)

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