Pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) testam uma substância isolada do gengibre que demonstra potencial para ser usada no tratamento de câncer, isoladamente ou em conjunto com a quimioterapia, podendo reduzir os efeitos colaterais.
Embora a pesquisa não tenha atingido a fase de testes em humanos, a molécula obteve resultados positivos contra células de câncer de mama, e poderá ser testada também em câncer de próstata, pulmão, colo de útero, dentre outros tipos da doença.
Eles analisaram diversas amostras de compostos de origem natural extraídos de plantas, como a catuaba e a laranja, além do gengibre, que podem evitar que tumores se proliferem. A partir daí, foram realizados diversos estudos utilizando cultura celular, ou seja, quando as células são retiradas de tumores de pacientes e células saudáveis são cultivadas em laboratório e utilizadas para testar os compostos.
Resultados positivos
Por enquanto, já se comprovou que o composto isolado do gengibre, denominado [10]-gingerol, além de conseguir inibir o crescimento do tumor primário de mama, também inibe metástases, que ocorrem quando células do tumor primário se deslocam e passam a afetar outros órgãos. O composto mostrou inibir metástases pulmonares, ósseas e cerebrais.
Para a coordenadora do Laben, Márcia Cominetti, a descoberta é de grande importância, já que há poucos medicamentos utilizados para combater tumores cerebrais e, nesses casos, muitas vezes a cirurgia é praticamente inviável.
De acordo com a professora, existem outros estudos no mundo com essa molécula, mas o diferencial é que o Laben conta com uma capacidade de isolá-la com grande rendimento. “O método de purificação do [10]-gingerol a partir do gengibre foi desenvolvido por James Almada da Silva, ex-aluno do DQ da UFSCar, de uma maneira eficaz, o que forneceu uma grande quantidade de moléculas para os testes no laboratório”.
Processo
Márcia explicou que o [10]-gingerol é uma substância com atividade específica, ou seja, mata mais células tumorais em comparação com células normais, por um mecanismo de morte celular programada. Dessa forma, não ocorre a inflamação nos tecidos, efeito que realmente se espera de um medicamento antitumoral.
A pesquisadora ressaltou que, para o tratamento do câncer, que é um conjunto de mais de 100 doenças diferentes, existem atualmente três principais opções: a cirurgia para remoção do tumor, a quimioterapia e a radioterapia, que muitas vezes são realizadas de forma combinada.
Segundo ela, geralmente o tratamento mais usado é a quimioterapia, mas a não seletividade de seus medicamentos faz com que eles atinjam células tumorais, mas também células saudáveis do organismo do paciente.
“Então, as células que se dividem rapidamente, como células do bulbo capilar, local onde os cabelos nascem, da mucosa bucal, e do intestino, por exemplo, acabam morrendo também, o que acaba levando o paciente a apresentar sérios efeitos colaterais desta medicação, que são náusea, queda de cabelo, efeitos bastante conhecidos da quimioterapia.
“O desenvolvimento de drogas antitumorais é um campo repleto de desafios, já que os agentes quimioterápicos ideais devem agir seletivamente para matar ou inibir o crescimento das células neoplásicas, deixando as células normais intactas”, relatou a pesquisadora.
Combate à doença
A especialista aponta que a incidência do câncer aumenta drasticamente com a idade, provavelmente devido ao acúmulo de riscos para os cânceres específicos, já que os idosos são mais vulneráveis, pois já enfrentaram mais situações adversas, e conviveram com um maior número de compostos tóxicos e poluentes. Além disso, o risco de mutações genéticas ocorrerem também é mais alto quanto maior for a idade da pessoa.
“Como o Brasil será um país com grande número de idosos, e como pessoas desta faixa etária têm mais chances de desenvolver câncer, o número de mortos por essa doença deve aumentar nas próximas décadas”, explicou Márcia. Segundo ela, isso causa uma demanda por realização de pesquisas na área que busquem entender as bases biológicas desta doença. A professora espera que a partir dos estudos sobre câncer obtenha-se a longo prazo a base para uma nova droga antitumoral, mais eficaz do que as existentes.
Atualmente, os pesquisadores estão modificando estruturalmente a substância, para encontrar sua melhor eficácia e realizar testes em combinação com medicamentos quimioterápicos, com o objetivo de verificar se há uma melhora do tratamento e menos efeitos colaterais. Além do DQ, a pesquisa realizada no DGero também conta com a colaboração do Departamento de Ciências Fisiológicas da UFSCar, laboratórios de outros países, além de outras instituições brasileiras.
Para que no futuro os testes em humanos aconteçam serão necessários investimentos de indústrias farmacêuticas. Até o momento, a pesquisa foi financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoas de Nível Superior (Capes) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
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