Mesmo com a aprovação do afastamento da presidente Dilma Rousseff no Senado, manifestantes pró-impeachment decidiram na manhã desta quinta-feira (12) permanecer acampados em Brasília para acompanhar os “primeiros movimentos” do governo de Michel Temer. O grupo estima haver 70 pessoas nas barracas, instaladas no Parque da Cidade. O espaço fica a cerca de quatro quilômetros da Esplanada dos Ministérios.
Os manifestantes afirmam que comemoraram de forma “discreta” o resultado da votação, que teve 55 votos a favor e 22 contra o afastamento. Eles dizem que pretendem evitar conflitos e provocações. Entre as pautas esperadas pelo grupo estão a redução no número de ministérios e de cargos comissionados, combate à corrupção e repreensão de movimentos que consideram “antissociais”.
O acampamento ganhou inclusive uma cozinha improvisada, que recebe mantimentos que garantem a alimentação do grupo pró-impeachment. Um dos organizadores, o escultor Maciel Joaquim conta estar há 30 dias no local e não tem previsão de voltar a Osório, no Rio Grande do Sul.
“Nós esperamos que o Michel Temer faça um bom governo. Se ele fizer besteira, vamos tirar ele também. No momento, vamos tentar tornar viável esse governo”, afirma.
As barracas foram instaladas no Parque da Cidade há um mês e meio. O auge da ocupação contou com 900 pessoas e ocorreu no dia 17 de abril, quando houve a votação na Câmara dos Deputados – no pleito ficou decidido a abertura do processo no Senado. A maioria dos manifestantes é homem.
“Esse número vai diminuir para menos de dez, acredito. As pessoas têm que retornar para as obrigações em suas cidades”, acrescentou o escultor. “Teremos um comportamento pacífico, como sempre fomos. Não foi fácil tirar esse governo do poder, mas faríamos tudo de novo se fosse necessário.”
Motoristas que passavam pelo parque buzinavam em apoio ao grupo. Coordenador da Corrente Pelo Bem do Brasil, Murilo Guimarães veio de Belém (PA). “As pessoas de Brasília têm colaborado bastante com nossa luta.”
Ele conta que o acampamento recebeu ameaças vindas de pessoas contrárias aos ideais do grupo. “Tivemos que manter um grupo de sentinelas por conta do risco que passamos. Pessoas que passavam aqui a noite falando que iriam passar a faca nas pessoas, querendo desfazer o acampamento”, declarou.
Parte dos manifestantes planeja acompanhar em frente ao Palácio do Planalto o pronunciamento da presidente Dilma Rousseff a respeito da decisão de afastá-la por até 180 dias. Por volta das 11h, a Polícia Militar informou que havia 2,5 mil pessoas no local.
O trânsito na Esplanada dos Ministérios seguia bloqueado na manhã desta quinta, mesmo após o fim da votação no Senado. A previsão é de que a liberação só ocorra depois de Temer anunciar os novos ministros.
Já o grupo contrário ao impeachment decidiu deixar Brasília depois de um café da manhã coletivo. O acampamento do grupo foi montado no estacionamento do Estádio Mané Garrincha, a cerca de cinco quilômetros da Esplanada. Havia cerca de 2 mil pessoas no local.
“Estamos indo embora para as bases. Do ponto de vista do MST [Movimento dos Trabalhadores Sem Terra], independente do governo, se continuar Dilma, se entrar Temer, o MST não sai da rua. A reforma agrária continua parada”, declarou o líder Marco Antônio Baratto.
“Lendo a conjuntura, a gente tinha entendimento que no Senado não haveria número suficiente para barrar o impeachment. É um governo legitimamente eleito que foi interrompido no meio. É um golpe. Há interesses por detrás disso, de uma elite econômica”, continuou Baratto. “O MST não vai legitimar esse [novo] governo. Nós vamos continuar nas ruas com mais força.”
Baratto afirmou que os manifestantes acompanharam a votação do Senado por meio de redes sociais. O grupo é formado por moradores de São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Tocantins e DF. No ápice da ocupação, havia 5 mil pessoas no local.
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