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Na via mais letal para pedestres de SP, espera para cruzar é de 5 minutos

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faixas de segurança e sinais para pedestres, ou os semáforos estão sem sincronização.

Avenida Cruzeiro do Sul, localizada entre a região central e a Zona Norte de São Paulo, é a via mais perigosa para pedestres na capital paulista, aponta o último relatório sobre acidentes de trânsito fatais da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET). Em 2015, das seis mortes registradas em acidentes de trânsito na via, todas foram causadas por atropelamentos.

Embora a avenida possua três estações de Metrô e grande fluxo de pedestres nestes pontos, seus semáforos ficam abertos para os pedestres por apenas 25 segundos. Já o farol para veículos fica verde por até 5 minutos e 25 segundos (ou seja, 13 vezes mais tempo para os carros do que para quem está a pé.

Além disso, em alguns cruzamentos faltam faixas de segurança e sinais para pedestres, ou os semáforos estão sem sincronização

Em nota, a CET afirmou que atribui o alto número de acidentes na via ao desrespeito de pedestres à sinalização na travessia da faixas e sinais vermelhos, e afirma que vai intensificar as ações com agentes de trânsito a fim de orientar os pedestres e evitar acidentes (leia mais abaixo).

A capital também teve, segundo a CET, o menor número de mortes em acidentes em 37 anos. Em 2014, por exemplo, a via mais perigosa da época, a Avenida Marechal Tito, teve 15 mortes por atropelamento (2,5 vezes o número registrado na Cruzeiro do Sul). No total, as mortes no trânsito em São Paulo caíram 20,6% em 2015. Em 2014 foram 1.249 mortes, contra 992 no ano passado. Nesta quarta-feira (20) completa um ano de redução de velocidade nas marginais.

Apesar de a Marginal Tietê ter tido três mortes a mais no ano passado, totalizando nove óbitos por atropelamento, ela não é considerada mais perigosa do que a Cruzeiro do Sul porque é exclusiva para veículos (não tendo semáforos nem faixas de pedestres).

Além disso, com 23,5 km de extensão, ela é três vezes maior do que a Cruzeiro do Sul (que tem 7,6 km), o que indica mais mortes por menos quilômetros na avenida da Zona Norte. Os atropelamentos fatais na marginal correspondem a 30% dos acidentes com mortes registrados no ano passado (a maioria ocorreu em colisões e em queda de motociclistas).

Perigos
Na Avenida Cruzeiro do Sul  especialistas  confirmam que a via privilegia os veículos aos pedestres.

A via começa junto à Avenida do Estado. Lá, já exige atenção redobrada do pedestre, pois há fluxo de veículos vindos tanto da Avenida do Estado quanto da Rua Pasteur. “Trabalho aqui há três anos e vejo atropelamentos e batidas frequentemente nesta esquina”, relatou Beto da Silva, de 29 anos, que trabalha em uma borracharia nas imediações do local.

Início da Avenida Cruzeiro do Sul exige atenção redobrada do pedestre por conta do fluxo de veículos da Avenida do Estado e da Rua Pasteur (Foto: Vivian Reis/G1)

Início da Avenida Cruzeiro do Sul exige atenção redobrada do pedestre por conta do fluxo de veículos da Avenida do Estado e da Rua Pasteur (Foto: Vivian Reis/G1)

Semáforos
A movimentação também é intensa no cruzamento com a Rua Pedro Vicente devido à proximidade ao acesso à estação Armênia do Metrô. O problema no trecho é que o semáforo de pedestres está sem sincronização.

“Trabalho aqui há uma semana e vejo ‘quase atropelamentos’ direto aqui em frente, uns três ou quatro por dia se eu estiver distraído. Inclusive, uns 15 minutos atrás quase ocorreu um acidente entre viatura, ônibus e pedestre aqui”, contou Felippe Peixoto, de 25 anos, que trabalha como atendente em uma farmácia.

Nas imediações da estação Armênia do Metrô, semáforos de pedestres demoram a abrir (Foto: Vivian Reis/G1)

O problema se repete no cruzamento com a Avenida Zaki Narchi. Quem está na via e pretende cruzar a Cruzeiro do Sul precisa ter paciência ou apertar o passo para encontrar os semáforos coincidindo no verde.

O cruzamento com a Avenida Ataliba Leonel também demanda atenção redobrada  por conta da falta de sincronização.

O Boletim Técnico 48 da própria CET, lançado em 2011 e ainda considerado atual, comprovou que a travessia de avenidas em duas etapas “resultava em um tempo de espera longo que estimulava os pedestres a fazerem a travessia em conflito com os veículos, gerando desconforto e alto potencial de acidentes”.

Sinais de pedestres que orientam cruzamento da Avenida Zaki Narchi para a Avenida Cruzeiro do Sul estão fora de sincronia, exigindo que o pedestre aguarde duas vezes para atravessar (Foto: Vivian Reis/G1)

Semáforos dos veículos motorizados demoram a fechar; pedestres decidem se orientar conforme fluxo de veículos (Foto: Vivian Reis/G1)

O próximo ponto problemático é nas imediações da estação Carandiru do Metrô. Após caminhar cerca de 200 metros da Avenida Zaki Narchi até a próxima faixa, o pedestre precisa esperar 5 minutos e 25 segundos para que o sinal abra para ele. Quando isso acontece, ele precisa ser rápido, já que em 25 segundos o sinal volta a fechar.

Em poucos minutos de observação no local é possível presenciar dezenas de pedestres aguardando o momento menos perigoso, sem automóveis, ônibus e caminhões, para chegar ao outro lado da via.

Esse tempo é absurdo, indecente. Em 5 minutos e 25 segundos de espera, o pedestre fica maluco, pensa que o sinal quebrou, procura uma brecha e pode morrer. Para o pedestre, o tempo máximo de espera deve ser de 2 minutos”
Sérgio Ejzemberg, especialista em transportes

O engenheiro civil e especialista em transportes Sérgio Ejzenberg explicou que o tempo descrito induz o pedestre ao erro. “Esse tempo é absurdo, indecente. Em 5 minutos e 25 segundos de espera, o pedestre fica maluco, pensa que o sinal quebrou, procura uma brecha e pode morrer. Para o pedestre, o tempo máximo de espera deve ser de 2 minutos”, diz Ejzenberg.

Sobre a distância entre as faixas de pedestres, o especialista não considera que sejam o problema da Avenida Cruzeiro do Sul. “O Código de Trânsito Brasileiro prevê que, se o pedestre não encontra uma faixa em 50 metros, ele deve alcançar a esquina mais próxima ou atravessar após se certificar das condições de segurança para isso”, explica.

“Mais do que a quantidade de faixas, a Cruzeiro do Sul é doente do ponto de vista urbanístico. As estações de Metrô ao longo de sua extensão mataram essa via, que hoje é uma mistura de avenida e minhocão. A via é um tubo encaixotado com concreto dos lados”, opina o especialista.

Nas imediações da estação Carandiru do Metrô, semáforo da Avenida Cruzeiro do Sul fica aberto para carros por 5 minutos e 25 segundos. Pedestres passam a se orientar pelo momento com menor fluxo de veículos (Foto: Vivian Reis/G1)

Ausência de sinalização
Após o Shopping D não há mais possibilidade de realizar a travessia da via a pé até o Terminal Rodoviário do Tietê, a 1 km de distância, já que a avenida vira temporariamente Ponte Cruzeiro do Sul, que passa sobre a Marginal Tietê. Os pedestres realizam a travessia até o terminal quando acham que os veículos estão longe o suficiente.

A situação de repete nas imediações da estação Carandiru do Metrô. Os flagrantes de travessias fora da faixa apontam para a necessidade de uma faixa em frente a estação.

Questionado sobre a necessidade de uma faixa de pedestres pelo menos em frente ao Terminal Rodoviário, Ejzenberg afirma que um bom projeto de mobilidade também exige um trabalho de psicologia.

“O flagrante de pedestres atravessando frequentemente fora da faixa em um ponto específico reflete um erro de projeto e aponta para o estudo de implantação de uma nova faixa, considerando as condições de segurança e compatibilidade com o tráfego de veículos”, disse o especialista. “É preciso ter sensibilidade de origem e destino do fluxo de pedestres para entender os locais que melhor atendem a população.”

Sem faixa de pedestre desde o Shopping D, quem segue para o Terminal Rodoviário do Tietê atravessa a avenida quando acha que os veículos estão longe o suficiente (Foto: Vivian Reis/G1)

Nas imediações da estação Carandiru do Metrô, o alto fluxo de pedestres na região está relacionado ao seu acesso. Flagrantes de travessias fora da faixa apontam para necessidade de faixa em frente a estação (Foto: Vivian Reis/G1)

 

No cruzamento das avenidas Cruzeiro do Sul e Zaki Narchi, as faixas parcialmente apagadas ou inexistentes complicam ainda mais o percurso de quem avança a pé nos dois sentidos da via (Foto: Vivian Reis/G1)

No cruzamento com a Avenida Ataliba Leonel, não há sinais para quem deseja caminhar na Cruzeiro do Sul, entre Santana e Ipiranga.

No cruzamento com a Avenida Ataliba Leonel, não há sinais quem utiliza o canteiro central da Cruzeiro do Sul, entre Santana e Ipiranga (Foto: Vivian Reis/G1)

Embora haja faixa, faltam semáforos para pedestres no cruzamento da Cruzeiro do Sul com a Rua Darzan.

No cruzamento da Cruzeiro do Sul com a Rua Darzan, faltam semáforos para os pedestres, que compartilham a sinalização dos veículos motorizados (Foto: Vivian Reis/G1)

CET
Em nota, o departamento de trânsito explica que, por se tratar de uma via arterial, que faz ligação com importantes vias das regiões central e norte da cidade, “a Avenida Cruzeiro do Sul recebe um grande adensamento de veículos e pedestres, onde a CET monitora para melhorar a fluidez do trânsito e o convívio pacífico dos diferentes tipos de agentes no viário”.

A CET informa que “a Avenida Cruzeiro do SUL possui duas velocidades regulamentadas, de 40 km/hora entre a Rua Conselheiro Saraiva e Avenida General Ataliba Leonel, e de 50 km/h entre as avenidas do Estado e General Ataliba Leonel”. “Baseada em levantamentos técnicos, a CET atribui o alto número de acidentes na via ao desrespeito de pedestres à sinalização na travessia da faixas e sinais vermelhos, e afirma que vai intensificar as ações com agentes de trânsito a fim de orientar os pedestres e evitar acidentes.”

Menor número de mortes
O estudo da CET também apontou que a capital paulista registrou o menor número de mortes em acidentes de trânsito dos últimos 37 anos, quando o departamento fez seu primeiro relatório.

A empresa monitora a evolução anual dos números desde 1979. O menor índice registrado anteriormente havia sido em 2013, quando a cidade teve pelo menos 1.152 acidentes fatais. Na ocasião, a diminuição decorreu do aumento da fiscalização eletrônica de velocidades, seguido pela Lei Seca, do Programa de Proteção ao Pedestre e do aumento das faixas exclusivas para ônibus, segundo especialistas da CET.

A Prefeitura credita a redução nas mortes às ações do Programa de Proteção à Vida. Entre as medidas adotadas pela administração municipal está a redução do limite de velocidade nas principais avenidas de São Paulo, de 60 km/h para 50 km/h.

 

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