Representantes de empresas de segurança e de transporte de valores se encontraram, nesta segunda-feira (5), para discutir a criação de centros logísticos comuns no estado de São Paulo. Os locais reuniriam valores que estão sob a tutela de diferentes empresas. Ou seja, em vez de cada transportadora guardar o dinheiro em sua respectiva base, as quantias ficariam todas juntas em complexos de segurança máxima.
A medida é estudada como resposta à onda de mega-assaltos a transportadoras que vem ocorrendo em São Paulo. Só neste ano, foram registrados grandes crimes do tipo nas cidades de Campinas, Ribeirão Preto, Santo André e Santos. Os casos têm em comum a quantidade de assaltantes (pelo menos 20), o horário dos roubos (às 4h), a fuga (por rodovias) e o armamento pesado usado pelas quadrilhas (rifles e fuzis de uso restrito).
A ideia da Câmara de Negócios Nacionais e Internacionais da Logística (CNNI) de unir esforços para aumentar a segurança é embrionária – a reunião desta segunda foi a primeira sobre o tema. O projeto, no entanto, já tem perfil traçado. A previsão é de construir 16 complexos em todo o estado. As unidades seriam erguidas sempre fora dos centros urbanos para dificultar a ação dos criminosos e não colocar a população vizinha em perigo.
A proposta promete ainda trazer economia para as transportadoras. “Se você pegar as principais empresas de transporte de valores, 15, 20 empresas dentro de um condomínio, é evidente que tem um rateio da questão operacional. Estabelecendo segurança efetiva e compartilhando a infraestrutura, você consegue diminuir os custos individuais”, explica o presidente da CNNI e um dos maiores incentivadores do projeto, Genivaldo Félix.
Preocupações
Apesar dos benefícios apontados durante a apresentação do projeto, o presidente da Associação Brasileira das Empresas de Transporte de Valores (ABTV), Marcos Paiva, que também participou da mesa de discussão, se mostrou “cuidadoso”, como ele mesmo disse, em relação à proposta: “Isso exige um trabalho muito sério porque é o meio circulante [volume do dinheiro] que está sendo discutido e com ele não se pode cometer erros, senão o Brasil para.”
Entre as preocupações de Paiva está o fato de reunir uma grande quantia de dinheiro em um mesmo local. “Se você centraliza todo esse volume em uma única base, então vai ter que ter uma estrutura superdimensionada para enfrentar o poder de fogo da bandidagem.” Segundo ele, uma base pequena, das utilizadas atualmente, custa cerca de R$ 6 milhões. Por isto, há o receio também com o valor final para colocar o projeto do complexo em prática.
A questão do transporte dos valores também foi levantada por Paiva durante o encontro. “O dinheiro circula basicamente nas capitais. Se você montar um centro de distribuição fora da área urbana, o dinheiro vai ter que voltar para a cidade. Vai aumentar o custo da operação porque serão distâncias grandes a serem percorridas, vai aumentar o custo da segurança dos carros-forte porque eles vão passar a ser vítimas da bandidagem”, justificou.
Já Félix defende que o transporte não seria um problema pois os complexos seriam estrategicamente posicionados para atender as necessidades operacionais, reduzindo o percurso dos carros. “Hoje a logística de transporte de valores, ela acontece de dentro das cidades para fora. Ou seja, a mesma operação que está acontecendo no Centro da cidade, ela abastece as áreas fora da capital. Aí que está a grande questão: reverter esta ação.”
Previsão
A CNNI estima finalizar o projeto com a aprovação do comitê de empresas de transporte de valores em janeiro de 2017. Na data, o órgão espera apresentar as primeiras maquetes dos complexos já com a definição de onde serão erguidas as estruturas. O início da construção, entretanto, ainda não tem data prevista para ocorrer já que, segundo Félix, as obras estão condicionadas a fatores como a liberação dos alvarás de funcionamento, por exemplo.
Paiva vê o formato atual praticado pelas empresas do ramo como “adequada”. “Elas já estão no limite exigido pela lei, muito mais que o limite. Estão muito bem preparadas. O problema é que aumentou muito o nível do assaltante, da arma que é utilizada. Isto é preocupante.” O presidente da ABVT ainda não tem opinião formada sobre o novo projeto. “Ideias são para serem discutidas. Só saberemos se são boas ideias se elas derem certo”, concluiu
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