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Saiba como funciona a vacina brasileira contra o vício em cocaína

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Cientistas da UFMG desenvolveram nova molécula que poderia bloquear efeitos da droga por um longo período. Substância está em fase de testes

Criada por cientistas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o imunizante pode ser, em poucos anos, peça fundamental para o tratamento do vício. (iStock/Getty Images)

Criada por cientistas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o imunizante pode ser, em poucos anos, peça fundamental para o tratamento do vício. (iStock/Getty Images)

 

Uma nova vacina em desenvolvimento por pesquisadores brasileiros seria capaz de bloquear os efeitos da cocaína de tal forma que diminuiria o interesse dos usuários pela droga. Criada por cientistas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o imunizante pode ser, em poucos anos, peça fundamental para o tratamento do vício. No Brasil, o consumo de cocaína é quatro vezes maior que a média mundial, de acordo com dados do escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC).

“Usada em conjunto com a psicoterapia e medicamentos, essa nova vacina seria uma estratégia importante. Acreditamos que, diminuindo a euforia da droga, os usuários não teriam motivos para o consumo”, explica o psiquiatra Frederico Garcia, professor da Faculdade de Medicina da UFMG e um dos responsáveis pelo desenvolvimento da vacina.

Estratégia de ação

A vacina é baseada em uma nova molécula que estimula a produção de anticorpos contra a cocaína. Esses anticorpos impedem que a droga chegue ao cérebro e, assim, reduzem os efeitos da substância. Durante os testes em modelos animais, a vacina não causou efeitos colaterais – um resultado essencial na pesquisa de novos medicamentos.

Ainda em fase de pesquisas, o novo imunizante mostrou resultados promissores. Uma vacina semelhante, desenvolvida por pesquisadores americanos, utiliza moléculas feitas de proteína e é eficaz em 40% dos pacientes, além de provocar efeitos colaterais. A versão brasileira, que utiliza uma substância sem proteínas, promove maior resposta imunológica e não foram verificados efeitos colaterais. Além disso, a aplicação em três doses protege o organismo por um longo período enquanto a variante americana oferece imunização por três meses. Os resultados brasileiros, no entanto, precisam ser confirmados por testes clínicos, que devem ser feitos nos próximos meses.

“A maior vantagem desta vacina é que ela não provoca a chamada ‘reação cruzada’, ou seja, o corpo não a confunde com qualquer outra molécula do organismo, o que poderia desencadear graves respostas autoimunes, muito comuns em vacinas”, explica Garcia.

Vacina contra o vício

De acordo com especialistas, as drogas têm um mecanismo capaz de “sequestrar” o sistema de recompensa do cérebro – por isso são tão viciantes. Esse sistema é o que proporciona prazer e motiva os indivíduos a buscar recompensas como alimentos ou um bom parceiro. Reforços naturais (alimentos ou exercícios) ativam esse sistema, mas as drogas conseguem “acendê-lo” de maneira ainda mais forte, liberando a dopamina, conhecida como “substância do prazer”, em altas doses – por isso, costuma-se dizer que elas “sequestram” o sistema de recompensa. Dessa maneira, uma molécula (ou uma vacina) capaz de impedir os efeitos da cocaína eliminaria sua principal estratégia de ação e poderia se tornar um eficiente tratamento.

Em 2003, Garcia e o cientista Angelo de Fátima, do departamento de Química Orgânica da UFMG, tentavam replicar nos laboratórios brasileiros o experimento da vacina americana contra a cocaína, desenvolvida por George F. Koob noInstituto de Pesquisa Scripps. Os pesquisadores mineiros, contudo, conseguiram sintetizar uma nova molécula, que foi caracterizada em 2014 e deve ser patenteada em breve. Atualmente, oito cientistas da UFMG estão envolvidos nos estudos, bancada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pela Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig), agências de fomento à pesquisa.

As próximas etapas da pesquisa serão a verificação da biossegurança da vacina em modelos animais e os testes clínicos em humanos, que levarão quase dois anos para serem concluídos. Se os resultados forem verificados, a eficácia do tratamento será testada em grupos maiores, fase que pode levar mais dois a três anos. Outra possibilidade para o uso da vacina que está em testes é a aplicação em grávidas que usam a droga, para a prevenção do vício nos bebês.

“Pessoas já em tratamento e altamente motivadas a deixar o vício podem ser muito beneficiadas por essa vacina. Sabemos que a dependência é um problema complexo, sem soluções simples. Contudo, esse potencial tratamento pode ser muito importante para o abandono definitivo da dependência”, explica Garcia.

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