A uma semana da eleição municipal, os candidatos à prefeitura de São Paulo se enfrentaram na noite deste domingo em um debate promovido pela Rede Record. Ao contrário dos anteriores, o encontro foi marcado por ataques e pelo clima de tensão. Na briga por uma vaga no segundo turno contra João Doria (PSDB), Marta Suplicy (PMDB) e Celso Russomanno (PRB) protagonizaram alguns dos maiores embates: ambos se acusaram mutuamente de mentir. Logo na abertura, a senadora acusou o deputado de propaganda enganosa, e ele devolveu rememorando a infeliz declaração do “relaxa e goza”, dita pela então ministra do Turismo Marta em pleno caos áreo de 2007.
A candidata do PMDB também trocou farpas com o petista Fernando Haddad. Seguindo sua tática de colar à imagem da senadora figuras impopulares, como o ministro da Ciência e Tecnologia Gilberto Kassab, o atual prefeito perguntou a Marta o que estaria por trás da proposta dela de retomar a inspeção veicular na cidade. Ele sugeriu que Kassab tenha interesse escusos no retorno da Controlar. Marta afirmou que a acusação é “ridícula” – e que se tratam de ilações de alguém sem propostas para debater. “Você age de má-fé”, disse a senadora.
Ela ainda criticou Haddad por ter afirmado que deixou a gestão dela na prefeitura por não concordar com a administração da peemedebista. Pouco antes, ao responder a Russomanno, o petista disse que Marta foi bem na primeira metade de seu mandato – quando ele era secretário-adjunto de Finanças. Russomanno tentava fazer dobradinha com Haddad para bater em Marta, mas a deixa só foi seguida em parte pelo petista, que elogiou iniciativas como os CEUs. Segundo Marta, Haddad saiu de seu governo para ir para Brasília. “Se quiser um legado, crie o seu”, disse a candidata, segundo quem Haddad não conseguiu fazer nenhum dos CEUs que prometeu.
A plateia, composta pelas equipes de campanha e convidados dos candidatos, manifestou-se durante vários momentos – o que é proibido pelas regras do programa. Russomanno, por exemplo, foi muito aplaudido ao ressuscitar o “relaxa e goza” – e ao relembrar repetidas vezes as viagens de Marta a Paris. “Eu defendo o consumidor. E ela viaja a Paris com o marido no meio do caos aéreo. É assim que ela trata o consumidor”, afirmou. Antes mesmo do início do debate, o candidato havia dado indícios de que partiria para o combate: ele credita à equipe de Marta os ataques que diz estar sofrendo. A campanha da peemedebista passou a veicular uma propaganda em que afirma que o deputado deixou falir um bar que mantinha em Brasília – e deixou seus funcionários na mão. Ao responder sobre o tema, Russomanno garantiu que pagou aos funcionários, e culpou a crise financeira pela falência.
Outro momento que fez a festa da plateia foi uma resposta da candidata Luiza Erundina ao tucano João Doria. Ela afirmou que ele é um analfabeto político, uma vez que se apresenta como gestor, e não como liderança política. “Farei uma gestão empreendedora, vou atrair investimentos para a cidade. Serei um gerador de riquezas, ao invés de socializar a pobreza, como defende Erundina”, disse Doria. “Candidato, é incrível sua ignorância política”, devolveu ela. Doria pediu direito de resposta, negado pela direção da Record. Erundina ainda o provocou com uma pergunta sobre áreas invadidas, em referência a um terreno que o tucano ocupou em Campos do João.
Doria se estranhou também com Fernando Haddad. Ao questionar o petista sobre o fracasso do programa De Braços Abertos, instalado na região da Cracolândia, o tucano afirmou que extinguirá a medida – que classificou como “de braços abertos para a morte”. Irritado, Haddad devolveu com ataques ao padrinho político de Doria, o governador de São Paulo Geraldo Alckmin. “Quem fracassou no combate às drogas foi o governo Alckmin. Você que gosta de bajular investidores, saiba que o programa foi elogiado por George Soros”, disse o prefeito. “O PSDB está há 22 anos no poder no Estado, período durante o qual o PCC nasceu e cresceu. Você só vai à periferia a turismo. Se fosse às ‘quebradas’ saberia que o PCC está ativo. Isso num governo que tem à disposição as polícias Civil e Militar, às quais paga muito mal”, completou Haddad.
Erundina, como de praxe, tentou nacionalizar os temas, questionando Marta e Major Olímpio (SD) sobre suas posições sobre a reforma da Previdência e a PEC que limita os gastos públicos. Ela também perguntou a Olímpio (a quem chamou de pastor, e não de major) sobre o voto do presidente do Solidariedade, Paulinho da Força, contra a cassação de Eduardo Cunha. Sempre o franco-atirador dos debates, Olímpio voltou sua artilharia contra Russomanno, Doria, Haddad e Marta.
O major perguntou a Doria sobre subprefeituras, dizendo que o PSDB loteou treze delas. “Segundo quais critérios o senhor colocará os subprefeitos?”, disse. “Major, o senhor gosta de ser franco-atirador em debate. Não teremos loteamento. Primeiro será ficha limpa, depois currículo. Terceiro, será preciso morar no bairro”, respondeu o tucano. Ao que Major rebateu: “Sou franco e sou atirador também. O senhor, se seguir o seu criador, o Alckmin, vai fazer loteamento de cargos, sim”. O candidato do Solidariedade também reclamou da pressão que seu partido, que compõe a base de Alckmin, estaria sofrendo do governador.
Em uma segunda tentativa fracassada de dobradinha com Haddad, Russomanno aproveitou uma pergunta ao petista para criticar a gestão de Marta. Ouviu em resposta que alguém que não consegue manter um bar não é capaz de governar São Paulo. “A cidade não é para amadores”, disse o prefeito. Haddad ainda criticou Russomanno pelo fato de que os garçons que trabalhavam para ele terem tido de entrar na Justiça para receber o valor relativo aos 10% de taxa de serviço. “O senhor não precisa disso”, afirmou. Desconcertado, Russomanno seguiu atacando a peemedebista. Disse que Marta deixou um rombo milionário nas contas da cidade, criou taxas e agravou o problema das enchentes. “Estamos hoje vivendo um problema que ela criou”, encerrou.
Haddad preferiu fazer dupla com Erundina nos ataques a Doria. Ao responder a uma pergunta do petista, a candidata do Psol afirmou que o tucano é um lobista que quer vender tudo o que for possível na cidade. “É a cabeça de quem rejeita a política, sem se dar conta de que é mais político do que qualquer outro político. Condenar a política é retrocesso, ignorância. Um governo não é uma empresa”. A frase rendeu a Doria um direito de resposta. “Quero dizer que sou trabalhador, e não lobista. Sou honesto e decente. Graças a Deus nunca fui do PT, e nunca fiz parte das bandalheiras que esse partido protagonizou no país”, afirmou o tucano.
Ao encerrar o programa dirigindo-se aos eleitores, os candidatos retomaram os ataques a seus alvos principais. Os postulantes à prefeitura voltam a se encontrar na quinta-feira, no debate promovido pela Rede Globo.
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