As aparições de “palhaços macabros” em São Paulo e em cidades da região metropolitana divide a opinião dos profissionais do picadeiro. Nas últimas semanas, moradores chegaram a alertar nas redes sociais o surgimento dessas figuras misteriosas e chegaram até a criar um evento para “caçar” palhaços em Osasco.
O palhaço Hugo Possolo, que tem um grupo de formação no Parlapatões, disse que acredita que a ação é passageira. “Isso que está acontecendo agora pode ser uma forma de divulgar algum tipo de coisa. Mas, se não for, essas modas são típicas de internet”, afirmou. “Não vejo grandes consequências.”
Para Possolo, o “público é inteligente para saber o que é cada coisa”. “Não concorre nem atrapalha a figura do palhaço. E a imagem do palhaço sempre foi distorcida, como pessoas que usam o nariz do palhaço para protestar contra políticos.”
Acostumado a atuar ao lado de palhaços, Rodrigo Matheus, diretor do Circo Mínimo, desaprova o uso do figurino e até máscaras de palhaço para assustar as pessoas, principalmente com violência. “Esse tipo de ação é terrível, é assustadora. Acho muito grave, mas mais sério para a sociedade, causando agressões.”
Matheus é mestre em arte circense e acredita que essas aparições vêm da polarização social. “Sei que existem palhaços mais agressivos, mas que atuam para adultos. Usar a máscaras de palhaço como uma maneira de se esconder é errado. O palhaço usa o nariz vermelho para se mostrar, para evidenciar uma característica. Isso traz uma consequência ruim. É uma atitude de agressão, de violência, o mundo está muito polarizado. Os Black Blocs, por exemplo, têm uma ação parecida.”
EUA e Reino Unido
No exterior os palhaços macabros não são novidade. Nos Estados Unidos, um palhaço apareceu em uma rodovia vestido com uma capa de chuva, outro surgiu balançando notas de dinheiro para crianças próximo de uma floresta. Há diversos vídeos na internet de pessoas correndo dos palhaços.
No Reino Unido, a polícia emitiu alertas após vários palhaços sinistros serem encontrados no país. A polícia do Vale do Tâmisa, que cobre uma área que vai do oeste de Londres até o centro da Inglaterra, disse no domingo (9) que foi chamada para verificar 14 incidentes de “palhaços sinistros” nas 24 horas anteriores.
Os relatos no Brasil, por enquanto, são apenas boatos em redes sociais. A Polícia Militar informou que “não houve, até o momento, qualquer relato de tais supostas ações”.
Para Ricardo Cabral, presidente da ONG Presente da Alegria, as aparições de palhaços do mal são isoladas. “É uma coisa que não refletiu no nosso trabalho. Não afetou a gente direta ou indiretamente. A nossa caracterização de maquiagem é bem diferente, é mais suave, leve. Não usamos aquelas roupas de palhaço típicas de picadeiro, por exemplo.”
Ele interpreta o personagem Cabralito para pessoas enfermas e disse que o perfil do público que direciona sua atuação não costuma ter acesso a tantas informações, como essas aparições maldosas. “O palhaço que fazemos leva amor ao próximo. Esses que estão aparecendo têm a maquiagem mais pesada. Não vejo correlação em nosso trabalho com esses casos de violência, vejo isso de forma bem dividida, principalmente como a forma solidária que atuamos.”
Viral?
Uma das teorias diz que os palhaços estão conectados ao lançamento do filme de terror independente “31”, do diretor Rob Zombie. Um trailer do filme mostra uma gangue de palhaços sádicos.
O diretor do Circo Mínimo citou o escritor Stephen King, criador do assustador palhaço Pennywise, como referência desse tipo de personagem para adultos. “Ele escreveu um personagem mais pesado, que depois foi adaptado para o cinema. As crianças podem ver isso e se assustar. Tem apoio na psicologia, muita criança que se assusta e fica traumatizada na primeira infância.”
Possolo, dos Parlapatões, afirmou que a própria figura do palhaço é assustadora às vezes. “Tem gente que tem medo de palhaço, tem que criança que se assusta. É um pouco natural pelo tipo de representação que é. A figura é exagerada, é um exagero das coisas humanas. Tem uns mais grotescos mesmo.”
Cabral se mostrou um pouco preocupado com essa situação, mesmo sem reflexos imediatos em seu trabalho. Ele também não gosta do uso de nariz de palhaço em vão. “Manifestantes que usam o nariz de palhaço para protestar, acabam usando o sentido do nariz que não é o que usamos, o símbolo do nariz de palhaço é o que dá alegria.”
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