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Em meio à crise hídrica, economia do DF teme a chegada dos meses de seca
Setores ainda não levantaram dados sobre impacto do racionamento, mas preveem reflexos negativos em pouco tempo. Justiça cobra ‘data final’ do racionamento.
dados ainda são escassos, mas o sinal amarelo já foi acionado. Passados dois meses do início do racionamento de água no Distrito Federal, o setor produtivo ainda não conseguiu mensurar, em termos exatos, os danos causados pela crise hídrica ao faturamento e à circulação de dinheiro na capital. Apesar disso, a impressão geral é de que a situação vai piorar, sobretudo, com a chegada da seca.
Procuradas nesta semana, associações e federações ligadas à indústria, à agricultura e ao comércio manifestaram a mesma preocupação com o fim da época de chuvas. Segundo os analistas, os principais reflexos da restrição de água só devem se tornar mais visíveis daqui a um ou dois meses. Os dados históricos mostram que, a partir de abril, o DF deve enfrentar uma estiagem prolongada até, pelo menos, o início de agosto.
Agricultura
O chefe da Seção de Estatística da Ceasa, Fernando Cabral, é um dos que preveem o agravamento da crise no próximo bimestre. Segundo ele, há agricultores que já reduziram a expectativa de produção, porque temem não ter água suficiente para irrigar o campo no período necessário.
“Por enquanto, não notamos uma diminuição da produção. Isso porque a maioria das culturas já passou do período de maior necessidade de irrigação. É possível que tenhamos um reflexo em abril e maio, quando começar o novo ciclo de plantação.”
Cabral afirma que houve uma leve queda na encomenda de mudas, mas ainda não diminuiu a produção e a chegada de frutas e verduras nos mercados. “Estamos esperando para ver como é que vai ficar a situação, mas há sim uma perspectiva de redução. O problema da falta de água vai dar muita dor de cabeça, mas isso virá mais a longo prazo”, diz.
Coordenador da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-DF), Antônio Dantas diz que, até o momento, a questão da irrigação “nunca tinha sido um grande problema para os agricultores do DF”.
“Agora a história é outra. Estamos fiscalizando e capacitando os produtores, mas as respostas virão depois de um longo tempo”, diz.
“A população pode se preparar porque, no período seco, a agricultura será prejudicada. Com certeza, teremos uma redução na oferta, e um aumento dos preços de hortifrutis.”
Indústria
Na indústria da construção civil, o presidente da Associação de Empresas do Mercado Imobiliário Paulo Muniz classificou os dias de racionamento como “um transtorno”. “Mas até agora, as empresas não apresentaram prejuízos financeiros, porque os reservatórios dos canteiros estão dando conta de abastecer as necessidades nos dias de restrição”, afirmou o representante da entidade, que reúne as maiores firmas do setor.
Segundo ele, as empresas também estão implantando técnicas de construção com controle de vazão da água. “Estamos trabalhando com projetos de menor consumo de água e instalando instrumentos para uso e reuso da água da chuva na limpeza de equipamentos, por exemplo.”
O engenheiro Marco Montezuma, diretor de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Sindicato da Indústria e da Construção Civil do DF (Sinduscon), afirma que os dois meses de racionamento afetaram o setor justamente em um período de menor demanda.
“A crise hídrica acaba vindo em um momento crítico, em que poucas obras públicas e particulares estão sendo realizadas. Ou seja, os esforços para economia extrema de todo e qualquer insumo já é tremenda.”
Para Montezuma, a questão é que a economia de água atualmente é uma imposição. “Se não tomarmos consciência da gravidade, deveremos recolher água cada vez mais longe, a cada dia, com custo muito mais elevado”, continuou.
O presidente da Associação de Engenharia Ambiental do DF, Marcos Montenegro, reforça o argumento. Ao mencionar a construção da obra de Corumbá IV (apontada como uma “promessa” para resolver a situação hídrica), ele afirma que é preciso “considerar que essa água, quando chegar, custará muito mais caro, porque é a captação de um sistema que está longe”.
Comércio
Para o presidente da Associação Comercial do DF, Cleber Roberto Pires, o setor passou a conviver com o principal medo de qualquer empresário – a falência. Ele aponta que há comércios que se sustentam principalmente com o uso de água, como salões de beleza, lavanderias e restaurantes, e que podem ser fechados a longo e médio prazo.
“Os prédios são antigos, nem todos tem caixas d’água e o pior de tudo é que essa medida foi passada para nós de um dia para o outro. Se eles tivessem feito uma campanha educativa antes, a gente também iria conseguir se precaver.”
Pires afirma ainda que a insegurança maior dos comerciantes é com relação a um aumento nos dias de racionamento, principalmente quando começar o período de seca no DF. O assunto não é descartado pelo GDF. “Muitos comércios não tem tubulação adequada, todos estão improvisando como podem, mas sem nenhum subsídio, nenhuma ajuda para salvar a geração de emprego do nosso setor.”
Racionamento
Em decisão provisória, a Justiça mandou a Agência Reguladora de Águas do DF (Adasa) estabelecer um prazo limite para o período de racionamento. Desde 16 de janeiro, as regiões abastecidas pela bacia do Descoberto estão com um dia de suspensão na oferta de água e um dia de estabilização do sistema. A área central de Brasília, abastecida pelo reservatório de Santa Maria, sofre com a mesma restrição de água desde 27 de fevereiro.
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