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Detentas relatam a vida de gestante e o pós-parto em presídio de SP

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Estado tem oito espaços para atender presas que tiveram filhos no cárcere. Crianças ficam com as mães até, geralmente, os seis meses de vida.

O espaço é diminuto e a liberdade, cerceada. Mas as celas da unidade materno-infantil da Penitenciária Feminina da Capital, na Zona Norte de São Paulo, comportam o amor das presas pelos filhos ainda no ventre ou já nascidos dentro do cárcere.

“Eu amo muito minha filha. Amo ela todo dia. Quando ela acorda eu já amo ela, quando ela dorme eu estou amando ela mais ainda. Estou amando ela toda hora”, descreve Laís.

O prédio atualmente tem 32 mulheres. A ala é separada dos outros pavilhões. Um lugar adaptado para grávidas a partir do oitavo mês e mães com bebês no colo.

No caso de Letícia, é um menino que está a caminho. Ainda sem nome, porque ela não escolheu. As roupinhas, a luvinha, os sapatos, todos os itens do enxoval foram doados.

“Tem meninas que vão embora e deixam as coisas para gente. As meninas dos outros quartos, elas ajudam a gente bastante, porque a gente não tem visita, né? E quem tem visita ajuda a gente como pode. ”

A maternidade na prisão provoca sentimentos contraditórios. “Feliz, feliz eu não estou porque aqui dentro deste lugar não tem como ninguém ficar feliz. ”

Presa segura bebê em presídio de SP (Foto: Reprodução/TV Globo)

Presa segura bebê em presídio de SP 

Luz e solidão

Os partos são realizados em hospitais públicos da cidade. No estado de São Paulo, como previsto por lei, as prisioneiras que dão à luz não ficam mais algemadas. O parto, porém, não pode ser acompanhado pelo marido ou por outro familiar, somente por uma agente carcerária.

Em todo o estado, são oito unidades materno-infantis. 130 gestantes e 83 mulheres que acabaram de ser mães estão nestes locais. E, embora não sejam obrigadas, é na cela de oito metros quadrados que elas passam a maior parte do tempo. A mãe dorme numa cama de concreto com um colchão. Pro bebê, um berço da própria penitenciária.

Além disso, tem pia e um chuveiro, mas água quente para o banho tem hora marcada. Na cela de número 12, está Andressa, presa por tráfico. Ele se tornou mãe há dois meses, mas não esconde a tristeza com o futuro do filho. O pai da criança está preso e só soube do nascimento porque os dois trocam cartas. É o único contato com alguém de fora da cadeia que Andressa tem.

A convivência com o bebê ainda nem começou, mas tem prazo para acabar. Na cadeia, os filhos só podem ficar com as mães até os seis meses de vida.

“Tem um prazo vou entregar ele. Eu nunca tive visita da minha família. Eu tenho muito medo dele ir para abrigo sabe. Muito medo mesmo. De não ter ninguém para pegar ele.” Mas isso só acontece quando ninguém da família aparece.

“Deu seis meses, se procura uma família extensa, uma vó, uma tia, ou o próprio pai, que vem buscar essa criança, retira ela da mãe, e a mãe continua presa. Tem mulheres, em entrevistas que eu fiz com mães presas, que falam que essa separação é pior que a própria prisão, no dia da prisão”, diz a defensora pública Maíra Coraci Diniz.

Alexandra pegou 20 anos de cadeia por causa do envolvimento com uma quadrilha de sequestradores. Já está presa há 12 e não viu os três filhos crescer. Ela conta que entrou para o crime para ter dinheiro e poder comprar uma casa para os filhos. “Queria comprar uma casa, aí me envolvi com as pessoas erradas”, revela.

E a história está se repetindo pela quarta vez. O caçula acabou de fazer seis meses.

E não há como se preparar para a separação de um filho. “Não. Não. já desde o dia que ele fez os seis meses, e lágrimas e lágrimas à noite. Não estou preparada. A minha vontade mesmo é de sair correndo com ele. Ficar com ele. Ter oportunidade de criar, de ser mãe. O problema não é a gente estar presa. Isso aí eu consigo. É voltar a ser mãe. Pegar um ano, meses, cantar parabéns pra ele, fazer um bolinho com os irmãos dele, é um sonho. É um sonho que eu acredito que um dia eu vou alcançar.”

Alexandra, presa há 12 anos, não acompanhou o crescimento de três filhos (Foto: Reprodução/TV Globo)

Alexandra, presa há 12 anos, não acompanhou o crescimento de três filhos 

A separação

A reportagem do SP1 acompanhou o momento em que Alexandra teve que entregar o filho para a irmã e se despedir da criança. “Já tem uns dias desde que eu soube que ele ia. Até ele mudou. Ele parou de rir. E ele é risonho. Porque a criança percebe, sabe quando vai separar da mãe, sabe?”,conta.

As outras presas, que também vão passar por essa separação, vêm se despedir. E o que se ouve pelos corredores é um uníssono choro. Ruth, irmã de Alexandra, chega para buscar o sobrinho. Ela se diz tensa e lamenta a situação enfrentada pela irmã.

“Ah, estou meio apreensiva, muita dó dela, bastante dó. Porque é ruim né, deve ser horrível se separar a mãe do filho, mas pelo menos vai pra família. A gente fica feliz também. Porque vai para família. Ela já tem uma esperança de que quando ela sair ela vai encontrar o filho dela, né? Já é uma grande vitória na nossa vida.”

Ela garante que irá cuidar do menino da melhor maneira possível. “Vou amar, vou cuidar com muito carinho”, mas revela que inicialmente não queria assumir a responsabilidade pela criança.

“É sangue, né?! Sangue. No começo a gente não queria, na verdade fiquei com muita raiva dela porque ela vai engravida, numa situação de presídio, aí eu falei com ela. Ela foi respondona. O amor que a gente sente fala mais alto, né, e a gente fica com dó também. Vai doar a criança? Não tem cabimento, se tem a família, cuida, né?!”

E está preparada? “Não sei. Mas eu estou com o coração cheio de amor para dar pra ele. Cheio de carinho amor. Eu acho que estou bem esperançosa, sim, cheia de esperança.”

Em poucos minutos, a Alexandra tenta resumir os seis meses que passou ao lado do filho. Com o menino no colo, Ruth se prepara para deixar a penitenciária. Alexandra não aguenta e ainda corre atrás do filho pela última vez.

Dor pungente

Após a despedida, tenta descrever o tamanho da dor. “É das piores. Filho sendo tirado de mim”. O foco, agora, é tentar aplacar a saudade e sonhar com o dia do reencontro fora das grades.

“Agora é um buraco que ficou em mim. É mais um dos meus filhos que eu não vou poder ser mãe com eles. São uma corrida que eu vou ter que correr deste outro lado para poder estar perto deles, agora vou ter que trabalhar, me firmar com ajuda de Deus e ajuda das meninas.

“Agora é saudade. Saudade e solidão, porque deste outro lado só nós sabe como nós se sente. Sem visita, sem os filhos, é avós, e mães, procurando porque não existe.”

“Agora a corrida vai ser bem maior, porque eu tenho o Pepito pequenininho. Vou ficar pensando como é que ele tá?! Ele tá crescendo tamanhozinho dele, ele tá sorrindo? Que nem eu falei para minha irmã: não deixa ninguém apagar o brilho dele, não. Que eu dei toda a minha alegria pra ele. Para ele ficar bastante abastecido até eu chegar. Para recompor esta alegria.”

“Vai refletir na noite quando a gente deita e eu não vou ver meu Pepito perto de mim, ele acordando puxando meu cabelo, dando risada, isso ai vai me transtornar, mas também pode fazer diferença.”

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