O corte dos juros e os primeiros sinais de reação da economia já se refletem nomercado imobiliário. No país, as vendas somaram 45.267 unidades de janeiro até agosto, um aumento de 25,5% frente aos mesmos meses de 2016, de acordo com a Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc).
Na capital paulista, no acumulado de janeiro a agosto, foram vendidos 10.991 imóveis, uma alta de 20,8% em comparação ao mesmo período de 2016 (9.100 unidades), segundo o Secovi-SP, entidade do setor. “O mercado vem ensaiando uma recuperação, embora gradual e lenta”, diz o economista-chefe, do Secovi-SP, Celso Petrucci.
Para especialistas, a política de queda dos juros tem tido papel importante na retomada das vendas. No fim de outubro, o Banco Central fez um novo corte na taxa Selic, para 7,5%. Os economistas de mercado preveem que a taxa ainda será reduzida novamente em dezembro, a 7%.
Segundo estimativa do Bradesco, a cada corte de 1 ponto porcentual nos juros básicos, a renda mínima exigida para financiar o imóvel cai de 6% a 8%. Isso faz com que cerca de 1 milhão a mais de famílias passem a se tornar elegíveis a um financiamento imobiliário de 200.000 reais.
As economistas Daniela Cunha de Lima e Priscila Pacheco Trigo, da instituição financeira, lembram que a concessão de crédito para financiamento imobiliário cresceu em setembro. Elas avaliam que as diferenças regionais afetam o ritmo de tomada do crédito. Enquanto São Paulo deve liderar o ajuste de redução no estoque, no Rio de Janeiro ainda há dificuldade de vender.
Reconstrução
Apesar do desemprego alto, nos estandes as incorporadoras sentem uma melhora, ainda que tímida, na confiança do consumidor. O gerente logístico Michael Moreira, de 40 anos, pensava em comprar um apartamento desde o fim de 2016. Achou o lugar certo, mas fez as contas e se assustou com a simulação. “As parcelas eram altas demais e iria comprometer minhas economias.”
Agora, ele conseguiu fechar a compra de um imóvel de um dormitório, na planta, na Grande São Paulo, e as parcelas, depois que o prédio for entregue e o financiamento for acertado com o banco, vão caber no bolso. “Se os juros não tivessem caído, não teria como comprar.”
Para o professor Pedro de Seixas, da Fundação Getulio Vargas, a perspectiva do futuro dos juros influencia na decisão.”Basta se colocar no lugar do comprador que se interessa por um imóvel na planta. Primeiro, ele paga as parcelas à construtora, só vai contratar o financiamento com o banco quando o prédio ficar pronto. Mas se vislumbra um movimento de queda dos juros, quer fechar negócio”, diz.
O emprego na construção civil também reage, mas em ritmo mais lento. No acumulado do ano, foram perdidas 28.107 vagas na construção. Em setembro, no entanto, foram criados 380 postos de trabalho, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho.
Um dos contratados foi Valderez Ferreira, de 40 anos. “Sou pedreiro há 12 anos. Durante a crise, cheguei a voltar para Pernambuco quando o mercado de construção afundou. A saudade da família que ficou apertou e voltei para São Paulo para fazer bicos. Só agora fui registrado. Aos poucos, as coisas estão melhorando”, relata.
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