Cientistas britânicos iniciaram uma pesquisa clínica que testa uma abordagem radical e inovadora para o tratamento da esquizofrenia: uma terapia imunossupressora geralmente utilizada no controle dos sintomas da esclerose múltipla. A estratégia baseia-se em um crescente corpo de evidências que indicam que a esquizofrenia pode ser uma doença do sistema imunológico.
Estudos anteriores sugeriram que anormalidades na atividade imunológica no cérebro podem ser a causa da doença em alguns pacientes. Um deles descobriu que nos estágios iniciais da esquizofrenia, as pessoas apresentam um aumento no número e na atividade das células imunes no cérebro, chamadas microglias.
Além de combater a infecção, essas células têm uma função de ‘jardinagem’ ao podar conexões indesejadas entre os neurônios. Entretanto, em pacientes com esquizofrenia, essa poda é mais agressiva e causa a perda de conexões vitais.
“Antigamente nós pensávamos que corpo e mente eram coisas separadas, mas não é bem assim. A mente e o corpo interagem constantemente e não é diferente com o sistema imunológico. É uma questão de mudar a forma como pensamos sobre doenças mentais”, disse Oliver Howes, professor de psiquiatria celular no MRC Instituto de Ciências Médicas de Londres.
Tratamento convencional versus nova terapia
O tratamento convencional age bloqueando a transmissão de dopamina no cérebro, o que pode ajudar a manter os surtos sob controle, mas não o protege contra os danos estruturais. O imunossupressor, por outro lado, poderia prevenir essa perda, atingindo diversos fatores da doença, inclusive as microglias,
O novo estudo, uma colaboração entre pesquisadores da MRC e da King’s College Londres, envolve tratar pacientes com um medicamento de anticorpo monoclonal Natalizumabe, utilizando para tratar esclerose múltipla. Diferente da esclerose, na qual os anticorpos danificam os nervos, no esquizofrênico o sistema imunológico afeta o próprio cérebro, causando a psicose. Mas o medicamento também serviria para remover os anticorpos associados ao surgimento da doença.
Inicialmente, 60 pacientes serão tratados ao longo de três meses. Metade deles receberá a infusão no anticorpo e os demais, um placebo. A administração do medicamento consiste em ir à clínica uma vez por mês para receber uma hora de infusão. Todos os pacientes e mais 30 voluntários saudáveis serão acompanhados por uma série de scaners cerebrais, testes cognitivos e de atividade imunológica. A expectativa é que o estudo se prolongue por dois anos.
Segundo os autores, mesmo se não houver melhora nos sintomas dos pacientes, a expectativa é que o estudo consiga responder questões fundamentais sobre o papel do sistema imunológico no desenvolvimento da doença.
A Organização Mundial da Saúde estima que pelo menos 26 milhões de pessoas vivem com esquizofrenia no mundo. As causas da doença, na qual o paciente perde o contato com a realidade, são desconhecidas. No entanto, os episódios de surtos e delírios podem estar associados a desequilíbrios de neurotransmissores no cérebro. Segundo estudos anteriores, experiências estressantes e o uso de drogas recreativas também podem desencadear episódios em pessoas vulneráveis.
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