No meio disso, os rins também merecem sua atenção. Por meio dos exames de sangue e de urina de rotina, que a própria ginecologista costuma pedir, o desempenho deles pode ser verificado, diagnosticando muito cedo problemas como a doença renal crônica – que, não tratada, leva à insuficiência renal e é a oitava causa de morte feminina no mundo. Sua principal característica é a perda lenta e irreversível do funcionamento dos rins, e isso não é nada bom, já que eles têm a função vital de remover as substâncias tóxicas e o excesso de água do organismo.
“A creatinina dosada no sangue e o EAS [o exame de urina simples], são suficientes para detectar se os rins estão trabalhando bem ou se há alguma alteração que precise ser investigada”, afirma a nefrologista Ana Beatriz Barra, gerente médica da Fresenius Medical Care. São as substâncias em falta ou em excesso que dão o alerta para a ginecologista, que encaminha a paciente para uma especialista.
O assunto vem à tona especialmente hoje porque o Dia Mundial do Rim, celebrado sempre na segunda quinta-feira de março, neste ano coincidiu com o Dia Internacional da Mulher. Vamos entender a relação entre os rins e a saúde feminina, então.
Como a doença renal crônica afeta a fertilidade das mulheres
Há um equilíbrio na quantidade de homens e mulheres com doença renal crônica; o que chama a atenção é justamente o fato de as mulheres terem “alcançado” os homens na curva de diagnóstico. “O crescimento no número de mulheres com hipertensão e diabetes é contínuo, devido ao ritmo de vida estressante, e estes são os principais fatores que levam à insuficiência dos rins. Daí a equiparação nos casos da doença”, diz Alex Meller, urologista do Hospital Santa Paula.
No organismo feminino, as consequências mais preocupantes da doença renal crônica são no aparelho reprodutivo, que impactam diretamente na fertilidade. Alex explica: “A doença leva à anemia e à concentração de substâncias tóxicas para os óvulos, como a ureia, gerando um ambiente ácido e hostil para a ovulação e a fecundação”.
Segundo Ana Beatriz, é muito difícil uma mulher com essa condição engravidar ou manter uma gravidez sem intercorrências. “Não é impossível, existem casos de superação, mas no geral são quadros muito complicados.”
A nefrologista destaca outros três problemas de saúde mais frequentes em mulheres associados à doença renal crônica: lúpus, pré-eclâmpsia e infecção urinária de repetição. Se a função dos rins não for bem acompanhada nesses casos, eles seriam espécies de “portas de entrada” para o mau funcionamento dos órgãos.
Doença sem sintomas
Infelizmente, a doença renal crônica é dessas silenciosas, que chegam sem fazer alarde. Ela tem cinco estágios iniciais, e até o quarto estágio ela não é percebida se não forem feitos os exames de sangue e de urina mencionados ali em cima. O corpo não dá nenhum sinal de mal-estar, sangramento, alterações na pele, nada. Ela vai atuando quietinha lá dentro, comprometendo cada vez mais os rins.
No quinto e último estágio surgem falta de apetite, náuseas, anemia e perda de massa muscular como sintomas mais importantes. O ideal, porém, é não deixar chegar a esse ponto.
Tratamento da doença renal crônica: remédios ou diálise
O caso é que depois do quinto estágio vem a insuficiência renal, em que a diálise é obrigatória. Se diagnosticada no começo, ela pode ser tratada. Não tem cura, mas é possível fazê-la estacionar onde for pega e manter o bem-estar no dia a dia.
“Com medicamentos, dá para diminuir as lesões renais. Paralelamente, são tratadas as causas que levaram ao quadro da doença”, afirma Paulo Olzon Monteiro da Silva, clínico geral especialista em nefrologia da Unifesp – Universidade Federal de São Paulo. “Então, se foi o diabetes que causou a doença renal, o controle dele e da glicose no sangue deverá ser mais efetivo. O mesmo para a hipertensão e todas as doenças relacionadas. Temos que tratar as causas para minimizar os impactos delas no funcionamento dos rins.”
Uma ressalva do urologista Alex é em relação ao uso descontrolado de anti-inflamatórios, pois eles sobrecarregam os rins e podem desencadear a doença renal crônica mesmo não havendo diabetes, hipertensão, lúpus, pré-eclâmpsia ou infecção urinária de repetição. Não é demais lembrar: a automedicação NUNCA é recomendada.
Porém, se a doença avança além do quinto estágio e chega à insuficiência renal, a diálise será necessária. Não é motivo para desespero, e ainda bem que temos essa tecnologia à nossa disposição. “Mas a insuficiência é mais desabilitante, exige um comprometimento semanal e às vezes até duas ou três vezes por semana para a diálise. A qualidade de vida cai, o bem-estar fica comprometido”, observa Ana Beatriz.
A boa notícia é que dá para prevenir a doença renal crônica
Ok, quando a doença renal crônica é diagnosticada já não tem volta, mas ela pode ser prevenida. E de formas muito simples.
Em primeiro lugar, quem tem as doenças associadas – mais uma vez, porque com saúde não existe excesso de cuidado: hipertensão, diabetes, lúpus, infecção urinária de repetição e a ocorrência de pré-eclâmpsia – deve mantê-las sob controle para que os rins não sejam sobrecarregados. Isso é indispensável.
Quem não tem nenhuma dessas condições pode prestar atenção aos hábitos cotidianos para evitá-las e também para manter a boa saúde como um todo, beneficiando o trabalho dos rins. Os especialistas sugerem o seguinte:
– Praticar atividades físicas com frequência e regularidade;
– Manter uma alimentação equilibrada e saudável, com legumes, verduras e frutas e evitando o excesso de gordura e frituras;
– Não fumar;
– Não colocar muito sal nos alimentos;
– Beber em média dois litros de água por dia, para os rins filtrarem bem o sangue, eliminarem as impurezas e evitarem a formação de pedras;
– Ir ao banheiro para fazer xixi sempre que sentir necessidade e não ficar segurando o xixi;
– Não tomar anti-inflamatórios sem necessidade e orientação médica; e
– Não exagerar na ingestão de bebidas alcoólicas.
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