São Paulo – Apesar de toda a polêmica envolvida na substituição da TJLP pela TLP para concessões de novos créditos pelo BNDES, não é a troca de uma taxa subsidiada por outra de mercado que tem dificultado os novos empréstimos para as empresas, mas a demora dos bancos comerciais em trabalhar com a nova referência.
Além do ajuste de processos internos, de softwares e nos contratos, os bancos têm levado mais tempo do que o BNDES esperava para treinar gerentes e demais profissionais envolvidos no repasse de recursos do banco de fomento a clientes. Fontes de grandes bancos comerciais não falam publicamente sobre o assunto, mas reservadamente admitem que a transição está tomando mais tempo do que o previsto.
Uma fonte do próprio BNDES afirmou à Reuters que “os bancos repassadores demoram para treinar seus gerentes que vão oferecer produtos com a nova taxa”. Apesar de alguma melhora mais recente, a expectativa é que o problema ajude a manter as concessões em ritmo baixo no segundo trimestre.
Consultado, o presidente do BNDES, Dyogo Oliveira, admitiu que o problema prejudicou o andamento de algumas aprovações. “Houve, sim, algumas dificuldades nos primeiros meses”, disse à Reuters Oliveira. “Mas esses problemas já estão sendo superados”, afirmou, sem dar mais detalhes.
O movimento acontece em meio à queda continuada no volume de desembolsos do banco, diante da baixa demanda das empresas por recursos para investimentos. Após quatro anos seguidos em declínio, culminando em 2017 no piso em 10 anos, os desembolsos de recursos do BNDES no primeiro trimestre caíram 26 por cento ante mesma etapa do ano passado, a 11,1 bilhões de reais.
Alvo de polêmica quando foi anunciada em março de 2017, a TLP entrou em vigor no início de 2018 como sucessora da TJLP, taxa subsidiada. Já a TLP respeita uma métrica mais ligada às taxas de mercado. Se ambas estivessem em vigor, estariam ao redor de 6,75 por cento ao ano atualmente. A mudança foi apontada por setores do empresariado como um fator para diminuir o interesse de tomadores por novos recursos no banco de fomento.
No entanto, dados preliminares do próprio BNDES indicam que esta mudança não tem sido um fator de desestímulo à tomada de empréstimos. No ano até o fim de abril, houve um pré-pagamento de 12 bilhões de reais ao banco, com empresas preferindo passar a usar a TLP, como referência, justamente porque a lógica de correção pelo novo índice torna as operações de hedge mais baratas.
“Quem tinha divida em TJLP está pré-pagando e tomando em TLP”, disse Carlos Thadeu de Freitas, diretor do banco.
De acordo com o presidente do BNDES, o aumento de 11 por cento do volume financeiro de aprovações no primeiro trimestre, etapa anterior à efetiva concessão dos empréstimos, indica uma reversão na queda do volume de desembolsos nos próximos meses. Mas fases iniciais do processo, como de consultas e enquadramentos, tiveram quedas de 36 a 37 por cento.
No entanto, com a lenta recuperação da economia brasileira e a maioria das empresas preferindo reduzir o endividamento em vez de captar novos recursos para investir em expansão de capacidade, a demanda por crédito tem encolhido velozmente.
Segundo dados do Banco Central, o estoque de empréstimos com recursos livres para empresas no país somava 288,8 bilhões de reais no fim de março, uma queda de 8,6 por cento em 12 meses. Mas os próprios bancos não têm mostrado muito entusiasmo para voltar a emprestar para empresas, grandes ou pequenas.
Outro fator que concorreu para a menor demanda no BNDES, segundo executivos do setor bancário foi a própria queda da Selic, o que tornou instrumentos de mercado, como debêntures e notas promissórias, mais atraentes.
“Com a queda dos juros, as grandes empresas estão recorrendo mais ao mercado de capitais”, disse na semana passada a jornalistas o presidente-executivo do Banco do Brasil, Paulo Caffarelli.
De fato, a captação total das companhias brasileiras em 2018 até abril somou 52,5 bilhões de reais, ante 40,3 bilhões na mesma etapa do ano passado, segundo dados da Anbima.
“Muitas empresas de grande porte também estão querendo diversificar as fontes de recursos, conhecer os investidores mais de perto”, disse Sergio Goldstein, presidente do Comitê de Finanças Corporativas da Anbima. “Não é uma questão só de preço.”
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